Israel está devastando o Líbano com a mesma fúria assassina que usou em Gaza

Um homem observa a destruição no local de um ataque aéreo israelense durante a noite no bairro de Ruwais, nos subúrbios ao sul de Beirute, em 1º de outubro de 2024. (Foto da AFP) (AFP)

Israel está utilizando táticas devastadoras semelhantes às que empregou em Gaza ao intensificar sua campanha militar contra o Líbano, segundo civis, analistas e grupos de direitos humanos. Desde o final de setembro, Israel vem atacando o sul do Líbano, ostensivamente para derrotar o Hezbollah. O conflito é uma continuação de tensões crescentes e declarações de autoridades israelenses, como o ministro da Educação Yoav Kisch, que em julho declarou que “o Líbano, como conhecemos, não existirá”, ecoando ameaças feitas anteriormente por ministros de extrema direita que pedem a destruição do grupo armado Hezbollah.

Em 2023, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, já havia afirmado seu objetivo de “erradicar” o Hamas após o ataque da ala militar do grupo a Israel em 7 de outubro, que resultou na morte de 1.139 pessoas e no sequestro de cerca de 250. Sob esse pretexto, Israel matou mais de 42 mil palestinos em Gaza, deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de pessoas e destruiu toda a infraestrutura civil, criando condições de fome em massa.

Agora, Israel aplica táticas semelhantes no sul do Líbano. Civis e observadores relataram que o exército israelense tem emitido avisos vagos para que moradores deixem suas vilas, sugerindo que qualquer um que permaneça será considerado alvo militar. Isso é semelhante ao que ocorreu em Gaza, onde áreas evacuadas foram tratadas como “zonas de morte”. Desde 23 de setembro, quase 2 mil pessoas foram mortas no sul do Líbano, incluindo mais de 100 crianças, médicos e equipes de resgate.

De acordo com o pesquisador do Human Rights Watch Ramzi Kaiss, a falta de clareza nos avisos emitidos por Israel torna difícil para os civis saberem quais áreas são seguras. Ele também alertou que o simples fato de emitir uma advertência não justifica tratar civis como combatentes. Muitos vilarejos e cidades além de Sidon, cerca de 44km ao sul de Beirute, estão quase vazios, mas os ataques continuam.

Apesar dos riscos, alguns civis, como Ahmed, que vive perto de Nabatiye, não deixaram suas casas para cuidar de familiares vulneráveis. Ele relatou que um bombardeio atingiu uma área próxima à sua residência, enfatizando que muitos dos alvos não continham armas, e que conhecia pessoalmente as pessoas cujas casas foram destruídas.

Israel tem causado grandes danos em estruturas civis no Líbano, replicando práticas adotadas em Gaza. Segundo a ONU, 66% das estruturas em Gaza foram danificadas ou destruídas, incluindo residências, hospitais e armazéns de ajuda humanitária, o que indica que Israel tem confundido instalações civis com alvos militares legítimos.

Em um vilarejo cristão no sul do Líbano, um homem relatou que sua casa e a do vizinho foram bombardeadas no final de setembro. O ataque matou sua esposa e filhos, incluindo um bebê de apenas uma semana de vida. Ele ressaltou que não houve aviso prévio antes do bombardeio, e que o alerta israelense só veio depois que os ataques começaram.

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra a cidade fronteiriça de Yaroun, majoritariamente xiita, reduzida a escombros devido aos bombardeios israelenses ao longo do último ano, imagens que são praticamente indistinguíveis das registradas em Gaza.

A destruição no sul do Líbano gerou temores de que mais civis venham a sofrer atrocidades. O pesquisador Ramzi Kaiss alertou que os civis libaneses enfrentam um risco significativo de serem vítimas de violência durante os ataques.

Com o bombardeio de grandes áreas do Líbano, muitas pessoas temem um deslocamento prolongado, assim como os palestinos de Gaza, que ainda não sabem quando – ou se – poderão retornar ao norte para reconstruir suas vidas.

O temor de um deslocamento prolongado também afeta pessoas como Jad Dilati, cuja família fugiu de Nabatiye para Beirute quando a guerra se intensificou. Ele expressou sua preocupação de que talvez não reconheça mais sua cidade natal quando puder voltar, já que muitos prédios e lojas que faziam parte de sua vida cotidiana foram destruídos.

Em 8 de outubro, circulou nas redes sociais um vídeo mostrando soldados israelenses hasteando sua bandeira em território libanês, no vilarejo de Maroun al-Ras, o que aumentou o temor de uma ocupação israelense no sul do Líbano, como ocorreu entre 1982 e 2000.

Apesar de toda a destruição, Dilati ainda acredita que um dia retornará a Nabatiye e ajudará a reconstruir sua cidade. “Nós vamos reconstruir Nabatiye para que fique ainda melhor do que antes. Meus pais trabalham lá, minha irmã estuda lá, tudo o que sei, aprendi lá”, disse ele. “Não consigo imaginar não poder voltar. Sei que os palestinos passaram por isso, e pode ser uma possibilidade, mas não consigo conceber essa ideia. Eu acredito que venceremos, mesmo que demore.”

Publicado originalmente na Al Jazeera.

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