O fracasso da ideia de uma ‘OTAN Asiática’ na ASEAN: Editorial do Global Times
As 44ª e 45ª cúpulas da ASEAN e as reuniões de líderes sobre a cooperação no Leste Asiático estão sendo realizadas nesta semana, reunindo líderes ou representantes dos 10 países da ASEAN, além de China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Austrália, Nova Zelândia, Rússia e EUA, em Vientiane, capital do Laos. Durante a 27ª Cúpula China-ASEAN, realizada na quinta-feira, os líderes da China e dos países da ASEAN anunciaram a conclusão substancial das negociações de atualização da Versão 3.0 da Área de Livre Comércio China-ASEAN (FTA). Esse marco importante demonstra o esforço conjunto da China e da ASEAN para liderar a integração econômica no Leste Asiático, reafirmando o apoio mútuo ao multilateralismo e ao livre comércio. Isso também destaca que a busca por estabilidade, cooperação e desenvolvimento continua a ser o principal objetivo da região.
Notavelmente, antes da cúpula da ASEAN, altos funcionários de países como os EUA e Japão sugeriram trazer confrontos entre blocos e conflitos geopolíticos para a reunião, uma intenção que encontrou resistência clara. Em particular, a proposta de uma “OTAN Asiática”, sugerida pelo novo primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, enfrentou forte oposição na região. O ministro das Relações Exteriores da Malásia, Mohamad Hasan, afirmou de forma direta: “Não precisamos de uma OTAN na ASEAN”, enquanto o maior jornal de língua inglesa da Indonésia, o Jakarta Post, alertou que uma “OTAN Asiática” visa a confrontar a China, o que é “muito ofensivo” para os 10 membros da ASEAN. Essa resistência significativa fez com que Ishiba desistisse de mencionar a “OTAN Asiática” na reunião.
O fracasso dessa ideia destaca vários pontos. Primeiro, mostra que, ao contrário da percepção dos aliados dos EUA e da OTAN, essa aliança é vista por outras nações como um “prenúncio de desastre”. As ações da OTAN para melhorar sua imagem, gerando opinião pública e ampliando sua influência por meio da exploração de conflitos geopolíticos, apenas consolidaram sua reputação como criadora de caos e conflito. A opinião pública nos países da ASEAN revela um claro desprezo pela OTAN, que muitos veem como um “zumbi da Guerra Fria”, uma organização que já deveria ter sido relegada à história.
Segundo, os países da região não apenas rejeitam a introdução do modelo da OTAN na Ásia-Pacífico, mas também se opõem à importação da mentalidade de Guerra Fria e à criação de inimigos geopolíticos hipotéticos, como a China. Os princípios da OTAN são fundamentalmente diferentes dos dos países asiáticos. Enquanto a OTAN é uma aliança militar de países ocidentais, os países asiáticos valorizam sua independência e autonomia. A missão da OTAN é promover a “dissuasão” militar, enquanto os países asiáticos priorizam a paz e o desenvolvimento. Além disso, muitos países asiáticos têm histórias dolorosas de colonização e invasão, tornando-os profundamente contrários à interferência externa. As nações asiáticas valorizam a “Sabedoria Oriental” e entendem que a inclusão e a abertura são o caminho certo, em contraste com a diplomacia coercitiva e a lógica do “mais forte vence”.
A OTAN mantém sua relevância ao criar uma ameaça externa comum, algo que não existe na Ásia. Tentativas de direcionar o conflito contra a China estão fadadas ao fracasso. A China é o maior parceiro comercial da ASEAN há 15 anos consecutivos, e a ASEAN tem sido o maior parceiro comercial da China nos últimos quatro anos. A China apoia firmemente a construção da comunidade da ASEAN, o papel central do bloco na cooperação regional e defende sua maior participação nos assuntos internacionais. A implementação abrangente do RCEP e projetos como a Ferrovia China-Laos e a Ferrovia de Alta Velocidade Jacarta-Bandung são exemplos do sucesso da Iniciativa Cinturão e Rota, enquanto indústrias emergentes, como a economia digital e verde, estão gerando um forte impulso para a cooperação.
Uma pesquisa publicada em abril pelo Instituto ISEAS-Yusof Ishak de Cingapura indicou que os países da ASEAN veem a China de forma mais favorável do que os EUA. Mesmo nas Filipinas, observadores consideram a ideia de uma “OTAN Asiática” irrealista.
Percebemos que alguns meios de comunicação ocidentais refletiram sobre as razões para o fracasso da ideia da “OTAN Asiática”, mas essas reflexões não devem ser superficiais. Durante as reuniões de líderes sobre a cooperação no Leste Asiático, Ishiba expressou disposição para fortalecer as trocas de alto nível, intensificar o diálogo e promover o desenvolvimento constante das relações Japão-China, o que é uma atitude louvável.
Esperamos que as reuniões deste ano sobre a cooperação no Leste Asiático sirvam como um lembrete para todos os países externos: a região acolhe parceiros no desenvolvimento pacífico, mas não aqueles que criam problemas e conflitos.
Editorial no Global Times.