ONU denuncia política coordenada de Israel para destruir saúde em Gaza

Consequências de uma operação israelense de duas semanas no Hospital Al Shifa / Reprodução

Relatório explosivo da ONU revela acusações graves contra Israel por ataques a civis e destruição de hospitais em Gaza – entenda os detalhes por trás das alegações de crimes de guerra


Um inquérito das Nações Unidas concluiu que Israel conduziu uma política coordenada de destruição do sistema de saúde de Gaza durante a guerra, atos que equivalem a crimes de guerra e ao crime contra a humanidade de extermínio.

Em uma declaração na quinta-feira, a ex-Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, acusou Israel de “ataques implacáveis e deliberados contra equipes e instalações médicas” durante o conflito, que foi desencadeado pelo ataque mortal de militantes do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023.

“As crianças, em particular, foram as que mais sofreram com esses ataques, sofrendo direta e indiretamente com o colapso do sistema de saúde”, afirmou Pillay. O relatório de 24 páginas que cobre os primeiros 10 meses da guerra será apresentado à Assembleia Geral da ONU no dia 30 de outubro.

Israel rejeita conclusões

A missão diplomática de Israel em Genebra rejeitou veementemente as conclusões do relatório, classificando-as como ultrajantes. Em sua declaração, Israel afirmou: “(O relatório) é outra tentativa flagrante da Comissão de Inquérito de deslegitimar a própria existência do Estado de Israel e obstruir seu direito de proteger sua população”.

Israel alega que os militantes de Gaza operam em áreas povoadas, como escolas e hospitais, usando civis como escudo e que atacará esses locais quando necessário, sempre tentando evitar vítimas civis. O Hamas, por sua vez, nega esconder armas e combatentes em áreas civis.

Ataques deliberados e restrições a evacuações

A declaração do inquérito da ONU também acusou as forças israelenses de deliberadamente matar e torturar profissionais médicos, atacar veículos de resgate e restringir a saída de pacientes da Faixa de Gaza. O relatório citou a morte de Hind Rajab, uma menina palestina, em fevereiro, junto com membros de sua família e dois médicos que tentavam evacuá-la durante um ataque israelense. Segundo o inquérito, a ambulância que transportava a menina foi atingida por um projétil de tanque a apenas 50 metros da família, mesmo após a rota ter sido coordenada com as forças israelenses.

Perda irreparável para o sistema de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que mais de 10.000 pacientes que necessitavam de evacuação médica urgente foram impedidos de deixar Gaza desde o fechamento da fronteira de Rafah com o Egito em maio. O Ministério da Saúde palestino relata que quase 1.000 médicos foram mortos em Gaza no último ano, uma perda que a OMS descreveu como “insubstituível” e um golpe devastador para o sistema de saúde da região.

Em vários casos, hospitais foram instruídos a evacuar rapidamente, mas o relatório do inquérito afirma que essas ordens eram “inviáveis”, já que não havia tempo suficiente para retirar todos os pacientes, e as forças israelenses não prestaram assistência durante essas evacuações.

Tortura e crimes de guerra

O relatório também investigou o tratamento de detidos palestinos em Israel e de reféns capturados pelo Hamas durante o ataque em 7 de outubro de 2023. A ONU acusou ambos os lados de tortura e violência sexual.

A Comissão de Inquérito tem um mandato amplo para coletar evidências e identificar suspeitos de crimes internacionais cometidos em Israel e nos territórios palestinos. Suas descobertas são baseadas em uma combinação de entrevistas com vítimas, imagens de satélite e outras fontes.

Acusações mútuas de crimes de guerra

A ONU já havia acusado tanto Israel quanto o Hamas de crimes de guerra nos estágios iniciais do conflito, alegando que as ações israelenses constituem crimes contra a humanidade devido ao alto número de vítimas civis. Esses crimes são reconhecidos internacionalmente como parte de ataques generalizados ou sistemáticos contra civis.

Israel, por sua vez, não cooperou com o inquérito, alegando que ele possui um viés anti-Israel. A comissão afirmou que o governo israelense impediu seus investigadores de acessar o território e as áreas palestinas.

As evidências reunidas por comissões mandatadas pela ONU muitas vezes servem como base para processos de crimes de guerra e podem ser usadas pelo Tribunal Penal Internacional em ações futuras.

Com informações da Reuters*

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