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Arnaldo Santos: Menos retórica e mais ação, o povo não quer só comida

Por Arnaldo Santos Em maior ou menor grau, estamos todos ainda um tanto aturdidos, e de ressaca político-eleitoral, com o resultado do primeiro turno das eleições em Fortaleza, ante a acachapante votação obtida pelo cheirador de sal – (admitindo-se que era só isso), e esfaqueador da namorada adolescente, simbolizada em um desenho pintado na caixa […]

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Por Arnaldo Santos

Em maior ou menor grau, estamos todos ainda um tanto aturdidos, e de ressaca político-eleitoral, com o resultado do primeiro turno das eleições em Fortaleza, ante a acachapante votação obtida pelo cheirador de sal – (admitindo-se que era só isso), e esfaqueador da namorada adolescente, simbolizada em um desenho pintado na caixa de papelão, mostrada nas redes sociais e na televisão.

O leitor(a), mesmo não tendo formação em Psicologia ou em Psiquiatria, não deve ter tido qualquer dificuldade em perceber o simbolismo esboçado naquela cena violenta, tantas vezes exibida no horário eleitoral, e o requinte de perversidade do protagonista em relação às mulheres, quando ele, segundo suas palavras, era apenas um adolescente de 14 anos. Se como adolescente já se exibia publicamente pelas mídias digitais, com tamanha violência, dá até medo imaginar a periculosidade forjada no adulto, que, com mentiras, cinismo, desfaçatez e manipulação, situa-se como pretenso futuro prefeito de Fortaleza.

Impõe-se perguntar: – por que, ante fatos tão estarrecedores, ainda assim, os jovens pobres da periferia, especialmente as meninas adolescentes simbolizadas naquela caixa de papelão, repetidamente perfurada a faca, e a população mantida pelo Bolsa-Família, votaram massivamente no indigitado candidato “rapacu”?

Imagino que o cidadão deve ter esperado que os pretensos líderes, protagonistas da senda política, da Terra de José de Alencar, especialmente os da esquerda, e da centro-esquerda, maiores derrotados até aqui, viessem a público fazer uma autocrítica, e explicar as razões desse fracasso, possibilitando a compreensão das razões. Não foi o que ocorreu.

Para não fugir à tradição malsã da nossa política, à espera foi em vão, pois preferiram o silêncio, ou dizer o óbvio, mostrando como a principal razão para o fracasso o fenômeno das redes sociais. A meu sentir, tal afirmação é um atestado de arrogância e ignorância em relação aos fatos, além de um atentado à inteligência coletiva, pois não explica, e muito menos justifica, a extensão da história, de mandonismo hegemônico no decurso de décadas no poder. Humildade e autocrítica constituem o mínimo que o cidadão espera de sua elite política, num momento em que a Cidade, a cidadania e a dignidade das pessoas estão sob sério risco.

Na canção ‘Ideologia’, o poeta Cazuza afirma que seus “heróis morreram de overdose”. Na qualidade de cientista político e jornalista, 46 anos em atividade, observador privilegiado da história política desta Capital, é possível afirmar que os derrotados no primeiro turno pelo fedelho malcheiroso, “rapacu”, experimentam o perigo real de perder essa eleição para si mesmos, e a própria corriola, pelo abandono do povo de uma cidade próxima a completar três séculos de sua fundação, historicamente irrigada pela pobreza e a desigualdade, da maioria da sua população amargurada, por não vislumbrar à extensão temporal, a mínima possibilidade de ascensão na escala social, enquanto assistem, sofridas e em prantos, as alegrias e a opulência de uma minoria detentora do poder político e econômico.

É preciso ter a coragem de admitir que o modelo político-administrativo adotado nesta Cidade, à extensão da história, deu origem a uma sociedade atomizada, provocando a repressão do espírito, e quase a morte de tudo o que é mais sensível ao cidadão comum, resultando em um grande vazio existencial, e descrença nos mandarins, além da desesperança e desassossego para a maioria.

Todas essas iniquidades provocaram uma espécie de filípica contra a política, que, como se sabe, encontra-se no volume morto da sua credibilidade e confiança por parte do cidadão, cedendo lugar aos cínicos, medíocres e obscuros, como esse manipulador a que estamos assistindo na televisão. 

Na música ‘Comida’, dos Titãs, no refrão “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, a banda revela a procura do cidadão por uma vida plena, cheia de outros significados, que, como se sabe, vai muito mais além do que suprir as necessidades básicas, como alguns integrantes da elite política de nossa cidade quer fazer crer. Para esses, até o último dia 06 de outubro, o Bolsa-Família, por si, seria suficiente. A julgar pelo resultado do primeiro turno, restou provado que não; pois a vida do ser humano não se resume apenas à satisfação das necessidades fisiológicas, como comer e beber, entre as demais. O homem tem sede de saber, de cultura e de liberdade. Conformam valores que o Bolsa-Família, com toda sua importância e valor social, não é suficiente para prover. 

É nesse vazio que estamos vendo florescer, como erva daninha, o oportunismo, que nos ameaça a todos. Para os menos avisados, devo lembrar que o Bolsa-Família, de há muito, se transformou em uma política de Estado e, portanto, uma política da qual o cidadão corretamente se apropriou e – parece –  já não importa muito se quem criou foi o Presidente Lula. Esse que, com todos os méritos, é o maior programa social da história nacional, pertence ao povo. Ainda bem!

Nessa contextura, assinalamos que não será com a mesmice das promessas que vamos impedir que o pior aconteça. É preciso ousar e avançar, para universalizar a implantação de creches de tempo integral, priorizando a primeira infância, para que as famílias pobres deixem seus filhos em segurança, bem alimentados e bem-cuidados, enquanto os pais vão trabalhar. Deve ser lembrado que esse contingente de famílias é composto, em maioria, por mães diaristas e pais na construção civil, quando estão empregados, que não têm onde, tampouco com quem deixar seus filhos.

A quarta maior cidade do País não tem uma biblioteca pública compatível com as exigências culturais do seu povo. Diante desse fato precisamos não desperdiçar a oportunidade em que o Ministro da Educação é o senador Camilo Santana, e apresentar um projeto propondo a construção de pelo menos 12 bibliotecas públicas municipais, uma em cada regional para atender os jovens estudantes do entorno, com um acervo de pelo menos 1 milhão e 200 mil títulos (100 mil livros em cada unidade), equipadas com auditórios, salas de leitura, cinema, teatro, e uma escola digital com tecnologia avançada, para ensinar aos jovens o desenvolvimento, programação e criação de games e robótica. 

É preciso ousar, e propor, aos empresários do transporte público, a abertura de um sério debate para avançar no sentido da  implantação da tarifa zero, em Fortaleza, para que se ofereça o transporte público gratuito, inicialmente para os estudantes da escola pública, e, em um segundo momento, para a população em geral, pois municípios como Eusébio e Caucaia já implantaram.

Na geração de trabalho e renda para a população de baixa renda e desempregada, impende desenvolver junto ao SEBRAE, e outras instituições, um arrojado projeto para criação dos conhecidos arranjos produtivos, dando condições para criação de pequenos negócios. Com esse objetivo, ouso sugerir à equipe responsável pela formulação do plano de governo a edificação de quiosques urbanizados com água, energia e esgoto, nos bairros pobres, onde reside o maior contingente dessa população, para implantar oficinas de consertos e aviamentos, nas áreas de costura, calçados, carpintaria, consertos em geral, além de um projeto CONFIAR, para concessão de pequenos financiamentos para aquisição de equipamentos, como máquinas de costura, ferramental para o conserto de bicicletas, e outros, como manicure, pedicure e barbearia etc.

Nessa perspectiva, recupero uma ideia anteriormente pensada pelo professor Auto Filho, e agora atualizada e apresentada  pelo professor Raimundo Costa, presidente da FUNCAP, que é, a ideia de um projeto para implantação  de lavandarias industriais com gestão comunitária, que ele desenvolveu juntamente com o Acrísio Sena, presidente do CENTEC, para os bairros populares da Cidade, ensejando a geração de trabalho e renda, especialmente para as mulheres.

Como se percebe pela singeleza das ideias, são arranjos e iniciativas simples, e de baixo custo, com potencial para produzir grandes resultados em termos de ocupação e renda para aqueles que mais precisam. Nos manuais de Sociologia Política, aprendemos que, quando a revolução não é possível, se procedem às reformas. A Cidade reclama por algumas modificações em seu modelo gestor, e espera uma proposta de governo direcionada para as pessoas, e, nessa perspectiva, o candidato Evandro Leitão é quem reúne as melhores condições, pois tem credibilidade e capacidade provadas pelas funções que já exerceu, apoio político e administrativo, nas esferas estadual e federal! 

Tenho dito.   

Comentários e críticas para: arnaldosantos13@live.com

Arnaldo Santos é jornalista, sociólogo e doutor em Ciências Políticas

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