O candidato do partido em exercício pode ser aquele que defende a mudança? Um candidato pode energizar sua base prevendo vitória?
A eleição de 2024 está transformando a política de maneira inesperada, e dois fatores principais exemplificam essa mudança. Embora a Casa Branca tenha sido controlada por um republicano em apenas quatro dos últimos 15 anos, o atual presidente democrata, que passou oito anos como vice-presidente do presidente anterior, continua a influenciar fortemente o cenário político. Em todas as eleições desse período, os candidatos democratas obtiveram mais votos populares do que os republicanos, incluindo a eleição que levou o presidente democrata anterior ao cargo.
No entanto, uma pesquisa recente do New York Times mostrou que, surpreendentemente, o candidato republicano à presidência não é visto pelos eleitores como o candidato da mudança. Em vez disso, uma pluralidade de eleitores acredita que a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, representa melhor essa mudança do que seu oponente.
Isso ocorre, em parte, porque Kamala Harris não é o presidente Joe Biden. Quando Biden conquistou a nomeação de seu partido no início deste ano, ele o fez com um desempenho inferior ao esperado nas pesquisas em relação a 2020, devido, principalmente, à sua impopularidade. Embora Harris esteja intimamente associada a Biden, assim como Biden esteve associado a Barack Obama, Harris é vista como uma mudança literal e figurativa: ela é mais jovem, mulher, e uma pessoa de cor, trazendo novos ares ao partido.
Mais importante ainda, Harris está concorrendo contra Donald Trump, o mesmo adversário que Biden enfrentou quatro anos atrás, e que o democrata apoiado por Obama enfrentou quatro anos antes disso. Trump, por ter sido presidente, enfrenta o desafio de se posicionar como o candidato da mudança, algo difícil para alguém que já ocupou o cargo máximo. Seu slogan “Make America Great Again” sugere uma reversão a um passado idealizado, em vez de uma verdadeira mudança.
Trump nunca foi realmente o candidato da mudança, mas sim de um status quo diferente. Mesmo fora do poder, ele é visto como o candidato do “mais do mesmo”, enquanto Harris, apesar de estar no governo, consegue se apresentar como alguém diferente, tanto de Trump quanto do próprio Biden.
Há outra dinâmica peculiar em jogo na corrida presidencial. A candidata democrata ao Senado de Maryland, Angela Alsobrooks, usou uma tática clássica de política para criar urgência em sua campanha. Em uma postagem nas redes sociais, ela afirmou que sua corrida estava “empatada” com seu oponente, o ex-governador republicano Larry Hogan. No entanto, essa pesquisa foi conduzida por um pesquisador associado a Trump e, desde então, outras pesquisas mostraram Alsobrooks com uma vantagem confortável, algo esperado em um estado de tendência democrata.
Esse tipo de estratégia é comum para gerar doações em campanhas. Candidatos que enfrentam disputas acirradas têm mais sucesso em arrecadar fundos. Contudo, essa abordagem é diferente da usada por Trump. Ele gera urgência não sugerindo uma corrida apertada, mas sim alegando que a eleição está em risco de ser roubada. A campanha de Trump terceirizou grande parte de seus esforços para mobilizar eleitores, concentrando-se em promover a ideia de que o problema está em supostos votos ilegais, apesar de não haver evidências significativas de fraude eleitoral.
Trump introduziu um novo slogan nesta campanha: “Grande demais para fraudar”, baseado em uma teoria bizarra de que, em 2020, os democratas não conseguiram “roubar” certos estados porque ele recebeu muitos votos. Agora, ele pede que seus apoiadores compareçam em massa para que os democratas não possam subverter o entusiasmo popular. Esse discurso permite que Trump insista em sua popularidade, ao mesmo tempo em que mantém a narrativa de que a eleição está em risco de ser roubada.
Apesar de ser um candidato há quase uma década, Trump continua a desafiar as expectativas e padrões tradicionais de campanhas eleitorais. Entretanto, os resultados passados mostram que ele obteve menos votos que Hillary Clinton, menos votos que Joe Biden, e, atualmente, menos apoio que Kamala Harris.
Coluna de Philip Bump para o The Washington Post*