Inflação fecha setembro a 4,4% em 12 meses, abaixo do teto

Rafa Neddermeyer / Agência Brasil

A inflação acumulada nos últimos 12 meses no Brasil foi de 4,42%, conforme divulgado pelo IBGE em 9 de outubro. Esse índice está abaixo do teto da meta inflacionária estipulada pelo governo, que é de 4,5% ao ano, mas ainda permanece acima do centro da meta, fixado em 3%. O cenário indica que, embora a inflação esteja sob controle dentro do limite superior, ainda há um caminho a ser percorrido para que o índice se aproxime do centro da meta e garanta maior estabilidade dos preços, contribuindo para a confiança dos investidores e o poder de compra das famílias.

O controle da inflação é fundamental para a estabilidade econômica do país, especialmente em um contexto de recuperação após os choques inflacionários dos últimos anos. A inflação acima do centro da meta gera preocupação, pois pressiona as taxas de juros e pode impactar negativamente o consumo e os investimentos. O desafio para o governo é manter o equilíbrio, evitando que os preços voltem a subir de forma descontrolada e, ao mesmo tempo, garantindo que a atividade econômica não desacelere demasiadamente.

Em setembro, a inflação mensal acelerou para 0,44%, após uma retração de 0,02% em agosto, refletindo principalmente o aumento dos preços da energia elétrica residencial, que subiram 5,36%. Essa alta resultou em um impacto de 0,21 ponto percentual (p.p.) no índice geral do mês. A mudança da bandeira tarifária de verde para vermelha patamar um, devido ao baixo nível dos reservatórios, foi o principal fator por trás desse aumento. A bandeira vermelha adiciona um custo extra de aproximadamente R$4,46 a cada 100 kWh consumidos, o que pressionou o orçamento das famílias e afetou diretamente o grupo Habitação, que registrou alta de 1,80%.

Além da energia elétrica, o grupo Alimentação e bebidas também contribuiu para a aceleração do IPCA em setembro, com uma alta de 0,50%, revertendo dois meses consecutivos de quedas. Os preços da alimentação no domicílio aumentaram 0,56%, impulsionados pelo encarecimento de itens como carne bovina e frutas, especialmente laranja, limão e mamão. De acordo com o gerente da pesquisa do IBGE, André Almeida, a estiagem e o clima seco afetaram a produção de carne, reduzindo a oferta e pressionando os preços. Ele destaca que “ao longo do primeiro semestre de 2024, observamos uma queda nos preços das carnes devido ao alto número de abates, mas a situação mudou com o período de entressafra e as condições climáticas adversas”.

A alimentação fora do domicílio também registrou alta, de 0,34%, mantendo-se próxima ao índice de agosto (0,33%). O subitem refeição apresentou uma desaceleração, passando de 0,44% para 0,18%, enquanto o lanche teve um aumento mais expressivo, de 0,11% para 0,67%. Essa variação reflete o comportamento sazonal dos preços em diferentes tipos de alimentação, influenciado por fatores como custo dos insumos e dinâmica de consumo.

Por outro lado, alguns itens registraram queda em setembro, ajudando a conter o avanço do IPCA. O grupo Despesas pessoais recuou 0,31%, o que reduziu o índice geral em 0,03 p.p. A maior queda foi observada no subitem cinema, teatro e concertos, que apresentou uma retração de 8,75%, graças a uma campanha nacional de preços promocionais durante a semana do cinema. A iniciativa, que incentivou redes de cinema a oferecerem ingressos a preços reduzidos, impactou positivamente o orçamento das famílias e trouxe um alívio para a inflação do mês.

Regionalmente, todas as áreas pesquisadas pelo IBGE apresentaram inflação positiva em setembro. A maior alta foi registrada em Goiânia, com um aumento de 1,08%, impulsionado pela alta da gasolina (6,24%) e da energia elétrica residencial (4,68%). Já a menor variação ocorreu em Aracaju, que teve uma alta de apenas 0,07%, beneficiada por quedas expressivas nos preços de itens como cebola (-25,07%), tomate (-18,62%) e gasolina (-1,68%). Essas variações regionais mostram como o comportamento dos preços pode ser influenciado por condições locais, como disponibilidade de produtos agrícolas e mudanças na demanda por combustíveis.

Além do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) também registrou alta em setembro, de 0,48%, revertendo a queda de 0,14% em agosto. O INPC, que mede a variação de preços para famílias com rendimentos de até cinco salários-mínimos, acumula alta de 3,29% no ano e 4,09% nos últimos 12 meses. Esse índice, que tem uma metodologia de apuração semelhante ao IPCA, é especialmente relevante para reajustes salariais e políticas sociais, como o cálculo do salário mínimo.

O impacto do aumento dos preços de itens básicos no orçamento das famílias de menor renda é um ponto de atenção, pois a alta nos alimentos e na energia elétrica tem um efeito direto sobre o custo de vida. A elevação dos preços de produtos alimentícios, que subiram 0,49% em setembro após dois meses de queda, afeta de forma mais intensa essas famílias, que destinam uma parcela maior de sua renda para alimentação. Por sua vez, os produtos não alimentícios, que incluem itens como energia elétrica, vestuário e transporte, também aceleraram, passando de 0,02% em agosto para 0,48% em setembro.

O controle da inflação, especialmente em um cenário global de incertezas econômicas, é fundamental para manter a estabilidade econômica no Brasil. Embora o índice de 4,42% em 12 meses esteja abaixo do teto da meta, a meta de 3% ainda exige um esforço contínuo para ser alcançada. O governo e o Banco Central precisam monitorar de perto a evolução dos preços e o impacto de choques externos, como variações nos preços do petróleo e mudanças climáticas que afetam a produção agrícola. Além disso, a gestão da política monetária e a eventual necessidade de ajustes nas taxas de juros podem ser importantes para garantir que a inflação permaneça sob controle e se aproxime do centro da meta nos próximos meses.

Com o avanço do IPCA em setembro e a aproximação do fim do ano, os próximos meses serão decisivos para o controle da inflação. A expectativa é que o governo consiga equilibrar a recuperação econômica com medidas que mantenham a inflação em patamares estáveis, assegurando um ambiente mais favorável para o crescimento econômico em 2025. O próximo resultado do IPCA, referente a outubro, será divulgado em 8 de novembro, e será um indicativo importante sobre o comportamento dos preços na reta final do ano.

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