Eduardo Paes, reeleito para seu quarto mandato como prefeito do Rio de Janeiro com 60,47% dos votos válidos, conversou com a Folha, falando sobre a relação de Lula com os evangélicos.
“Todo mundo sabe que eu sou aliado do presidente Lula, mas eu não sou PT. Eu sou PSD. Temos as nossas discordâncias, nossas visões distintas do mundo. Isso é um pouco a característica do PSD. Manteve uma certa postura independente, de um centro pragmático que busca a solução para os problemas do Brasil, das cidades e dos estados que governam“.
Ao receber 1.861.856 votos, Paes consolidou seu nome na história da política carioca, sendo o prefeito com mais tempo no cargo. Durante a entrevista, ele comentou sua visão política, afirmando que, apesar de ser aliado do presidente Lula, mantém independência, destacando o caráter pragmático do PSD, partido ao qual pertence. Seu foco, segundo ele, é buscar soluções concretas para os desafios da cidade e do estado, mantendo um diálogo construtivo, mesmo com adversários políticos.
Mas, para o futuro, o PSD está com um pé em cada canoa. O Kassab está com o governador Tarcísio [de Freitas] e o sr., com o Lula.
Vamos esperar a dinâmica de 2026 se consolidar. Acho tudo muito prematuro. O Kassab tem sido honesto. O favorito é o incumbente. O Lula é um talento na política, sabe governar. Se ele for candidato à reeleição, é porque vai estar em boas condições físicas e de popularidade. Eu tenho certeza que o presidente Lula vai ser candidato e vai se reeleger com o meu apoio.
O PT apoiou o sr. aqui sob essa condição. É um apoio condicionado ou convicto?
Se isso para eles foi condição, eles perderam uma ótima oportunidade de escolher outras condições. Porque, dado o grau de identidade que eu tenho com o presidente Lula, eles não precisavam nem ter condicionado porque já ia no automático. Se foi uma das condições, gastaram o cartucho à toa. (…)
A aliança com lideranças evangélicas é reproduzível em escala nacional?
Acho que sim. A igreja não é de um homem, é de Deus. Então, não é o bem contra o mal, nessa visão maniqueísta do mundo, “eu sou Deus, você é o diabo”. Acho que tem um meio-termo.
O PT e o Lula têm capacidade de se reconectar com essas lideranças religiosas?
Totalmente. O presidente Lula não é um sujeito de pautas anticristãs. Nunca foi. É defensor da liberdade religiosa. Nunca oprimiu nenhum evangélico. Cuida dos assuntos da vida real dos evangélicos, isso é uma prioridade dele. Ele sempre defendeu o Bolsa Família, transporte para as pessoas mais pobres, o Minha Casa, Minha Vida, em que a maioria das pessoas são evangélicas. É um sujeito que trabalha muito com os evangélicos.
O sr. imagina [o deputado] Otoni de Paula fazendo campanha para o presidente Lula?
Imagino ser possível. O valor cristão ensina que você tem que cuidar dos mais pobres, melhorar a vida das pessoas, ser mais solidário, mais humano. Então, se for para seguir Jesus, é melhor estar com o Lula. As elites brasileiras, incluindo-se aí a imprensa, tratam os evangélicos como se eles fossem seres de outro mundo. Têm sido objeto de estudos e leituras um tanto quanto complexas. A minha experiência é de relação de absoluta normalidade. Estão fantasiando esse personagem evangélico no Brasil como se fosse um ser de outro mundo. Não é. Ouvem lá o pastor deles também, mas influenciam mais o pastor do que o pastor a eles.