Com 41 mil mortos e 90% da população deslocada, Gaza enfrenta uma destruição cruel – Especialistas acreditam que a reconstrução pode levar até 40 anos
A Faixa de Gaza está devastada. Onde antes existiam blocos de apartamentos, agora restam montes de escombros. Poças de água contaminada com esgoto espalham doenças, e as ruas foram transformadas em verdadeiros cânions de terra. Em muitos lugares, o ar está impregnado pelo cheiro de cadáveres ainda não recuperados.
A ofensiva de um ano de Israel contra o Hamas, uma das mais mortais e destrutivas da história recente, matou mais de 41.000 pessoas, mais da metade delas mulheres e crianças, de acordo com autoridades locais de saúde. Com a guerra ainda sem fim à vista e sem planos de reconstrução, é impossível prever quando — ou mesmo se — algo será reerguido.
Mesmo após o fim dos combates, centenas de milhares de pessoas podem ficar presas em miseráveis acampamentos de tendas por anos. Especialistas alertam que a reconstrução pode levar décadas.
“Essa guerra é pura destruição e miséria. Ela faria até as pedras clamarem”, disse Shifaa Hejjo, uma dona de casa de 60 anos que vive agora em uma tenda, no terreno onde antes ficava sua casa. “Quem quer que veja Gaza… vai chorar.”
Israel culpa o Hamas pela destruição, apontando o ataque de 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 250 sequestradas. Israel também afirma que o Hamas embutiu grande parte de sua infraestrutura militar, incluindo centenas de quilômetros de túneis, em áreas densamente povoadas, onde ocorreram os confrontos mais intensos.
Segundo uma avaliação da ONU em setembro, baseada em imagens de satélite, aproximadamente um quarto de todas as estruturas em Gaza foram destruídas ou severamente danificadas. A ONU também relatou que cerca de 66% das edificações sofreram algum tipo de dano, incluindo mais de 227.000 unidades habitacionais.
Se um cessar-fogo for estabelecido, metade das famílias em Gaza “não terão para onde voltar”, afirmou Alison Ely, coordenadora do Shelter Cluster, uma coalizão internacional liderada pelo Conselho Norueguês para Refugiados em Gaza.
A devastação de Gaza se equipara à das cidades na linha de frente da Ucrânia.
A quantidade de destruição no centro e sul de Gaza é comparável ao que foi perdido na cidade de Bakhmut, na Ucrânia, uma das batalhas mais mortais daquele conflito. No norte de Gaza, a situação é ainda pior, segundo especialistas.
O sistema de água e saneamento de Gaza entrou em colapso completo. Mais de 80% de suas instalações de saúde e a maioria das suas estradas estão danificadas ou destruídas.
“Não consigo pensar em nenhum paralelo, em termos de gravidade dos danos, para um enclave, país ou povo”, disse Corey Scher, pesquisador especializado em devastação causada por guerras.
No início de janeiro, o Banco Mundial estimou os danos em Gaza em US$ 18,5 bilhões, valor próximo à produção econômica combinada da Cisjordânia e Gaza em 2022. Isso antes de operações terrestres ainda mais destrutivas de Israel, como as que ocorreram na cidade fronteiriça de Rafah.
Shifaa Hejjo e sua família, que fugiram quando as forças israelenses avançaram para a cidade de Khan Younis, retornaram para encontrar tudo destruído. 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados pela guerra, muitos deles várias vezes.
A destruição não afeta apenas lares, mas também a infraestrutura crítica. 70% das plantas de água e saneamento de Gaza foram danificadas ou destruídas, e o único sistema de energia colapsou nos primeiros dias da guerra.
Países árabes ricos, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, disseram que só contribuiriam para a reconstrução de Gaza se houver um acordo de paz que leve à criação de um estado palestino. Entretanto, Israel, por meio de seu primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já descartou essa possibilidade, afirmando que não permitirá que o Hamas ou a Autoridade Palestina governem Gaza.
Por enquanto, o futuro de Gaza é sombrio, com montanhas de escombros, sem água e energia, e com centenas de milhares de pessoas vivendo em tendas improvisadas. Estima-se que levará 40 anos para reconstruir todas as casas destruídas.