Com a derrocada do PSDB partidos de direita e centro-direita ampliam ainda mais influência nas prefeituras e conseguem conter parte do extremismo.
As eleições municipais de 2024 redesenharam o mapa político brasileiro, marcando a consolidação do Centrão como a principal força local e demonstrando o enfraquecimento do PSDB. O Centrão, especialmente com o crescimento do PSD, PP e União Brasil, ocupou o espaço que era historicamente dos tucanos, e retoma, aos poucos, o controle de parte da base mais radical, especialmente no sul do país.
Centrão domina mais de 50% das cidades do país
Os números mostram que PSD, MDB, PP e União Brasil juntos elegeram mais de 3 mil prefeitos, representando 54% das cidades do país. Pela primeira vez em duas décadas, o PSD desbancou o MDB e se tornou a maior força municipal, consolidando-se como líder no número de prefeitos eleitos.
O Centrão também teve papel importante em eleger prefeitos que contaram com votos de eleitores de extrema direita, como Eduardo Paes, que foi apoiado por figuras proeminentes desse espectro, como o deputado Otôni de Paula, um bolsonarista fervoroso. Esse apoio foi significativo no contexto do Rio de Janeiro, onde o candidato bolsonarista Alexandre Ramagem estava na disputa.
O PSDB perde o controle e o espaço político
O PSDB, que historicamente ocupava o espaço político da centro-direita, perdeu o protagonismo e viu o Centrão assumir o papel de contenção dos extremistas. No passado, os tucanos tinham uma ala mais radical entre seus filiados, principalmente no sul do país, mas conseguiam exercer controle sobre essa base. Com a ascensão de Jair Bolsonaro, o PSDB perdeu esse controle, o que levou à dispersão da extrema direita. Agora, o Centrão, com partidos como o PSD e o PP, está conseguindo gradualmente retomar esse espaço, impondo uma narrativa mais moderada, embora ainda consiga angariar o apoio de eleitores mais à direita.
PL e Republicanos são os partidos que mais cresceram
Logo atrás do Centrão, o PL e os Republicanos foram as siglas que mais cresceram em número de prefeituras em relação às eleições anteriores. O crescimento do PL, partido de Bolsonaro, foi de 49%, principalmente em redutos como São Paulo e Santa Catarina. Já os Republicanos cresceram 106%, conquistando redutos importantes como Minas Gerais e Tocantins.
PT recupera espaço, mas não volta ao protagonismo
O PT teve um crescimento de 39% em relação às últimas eleições, mas partindo de uma base baixa. O partido chegou a ter mais de 600 prefeituras durante o governo Dilma, mas sofreu um tombo acentuado pós-Lava Jato e, agora, tenta se recuperar. Em 2024, o PT elegeu 252 prefeitos, voltando ao top 10 partidos com mais prefeituras eleitas, embora seu impacto seja menor quando analisada a população governada.
A importância da análise de “população governada”
Além do número de prefeitos eleitos, é essencial observar a população governada por cada partido. O PSD lidera, governando mais de 29 milhões de pessoas, seguido pelo PL com cerca de 21 milhões. O MDB vem logo atrás, com mais de 18 milhões. Essa análise demonstra que o Centrão não só elegeu muitos prefeitos, mas também assumiu a liderança nas grandes cidades e regiões metropolitanas. Em comparação, o PT, apesar de ter aumentado o número de prefeitos, governa cerca de 6 milhões de cidadãos, o que reflete o desafio do partido em reconquistar grandes centros urbanos.
PSDB e PDT em queda livre e negociação de federação
O PSDB teve um desempenho desastroso, especialmente em São Paulo, onde perdeu o protagonismo. Em 2020, o PSDB era a sigla dominante no estado; em 2024, caiu para o 8º lugar, com apenas 21 prefeitos eleitos. A capital, onde Datena foi candidato, também representou um fracasso, ficando com apenas 1,84% dos votos.
O PDT foi ainda mais atingido, com uma queda de 52% no número de prefeituras em relação ao pleito anterior. No Ceará, reduto histórico do partido, o PDT perdeu espaço para o PSB, passando de 65 prefeituras em 2020 para apenas 5 em 2024. Essa queda ocorre em meio às disputas internas entre Cid e Ciro Gomes, que enfraqueceram o partido no estado.
Diante desse cenário de queda, PSDB e PDT começaram a negociar a criação de uma federação. A intenção é unir forças para recuperar relevância política e evitar uma diminuição ainda maior de suas bases nos próximos ciclos eleitorais. A federação pode representar uma saída estratégica para ambos os partidos, que agora buscam maior articulação e sobrevivência política.
O futuro do cenário político municipal
As eleições de 2024 mostraram um deslocamento importante no cenário político local: o Centrão ocupou o espaço deixado pelo PSDB e está conseguindo retomar o controle da base de extrema direita, ainda que de maneira moderada. Enquanto partidos como o PL e os Republicanos consolidam suas bases, o PSDB enfrenta o desafio de se reestruturar para evitar um colapso ainda maior.
O Centrão segue como principal agente do jogo político municipal, evidenciando que a abordagem pragmática e voltada à gestão local continua a ser uma fórmula de sucesso.