Rejeição decide as eleições mais do que você imagina, principalmente em SP

Os três candidatos se encontram tecnicamente empatados, mas os bastidores já apontam a possibilidade de que Boulos e Marçal se destaquem no 1º turno / Reprodução

Rejeição é um dos fatores mais determinantes para o sucesso de uma campanha eleitoral, influenciando diretamente as chances de vitória, especialmente em segundo turno.


A rejeição dos candidatos é um dos elementos mais sólidos e determinantes durante toda a campanha eleitoral. Embora muitos acreditem que o segundo turno seja um “recomeço”, a realidade das eleições mostra que os candidatos levam consigo a rejeição acumulada no primeiro turno, e que vencer não é apenas uma questão de conquistar novos votos, mas de gerenciar as rejeições, tanto a própria quanto a do oponente.

A rejeição, em termos eleitorais, é o nível de recusa de um candidato entre os eleitores. Quando questionados sobre quem não votariam de forma alguma, as respostas compõem essa taxa. Diferente da intenção de voto, que pode flutuar durante a campanha, a rejeição é extremamente resistente e se torna um dos maiores desafios para qualquer candidato. No segundo turno, o papel da rejeição é crucial: em vez de ser uma nova eleição, o segundo turno funciona como uma extensão da narrativa do primeiro, onde cada candidato tenta aumentar a rejeição do adversário enquanto tenta manter a sua própria estável ou em queda.

Celso Russomanno: o impacto da rejeição no desempenho eleitoral

Celso Russomanno é um exemplo claro de como a rejeição pode ser um impedimento para um candidato. Em 2016, Russomanno começou a corrida eleitoral para a prefeitura de São Paulo como um dos favoritos, liderando as intenções de voto. No entanto, à medida que a campanha avançava e sua rejeição escalava, chegando a 50%, ele acabou ficando de fora do segundo turno. Essa trajetória ilustra como uma rejeição elevada pode impedir um candidato de sustentar seu apoio inicial, tornando impossível sua chegada ao segundo turno, mesmo quando começa a disputa com uma base forte.

Fernando Haddad e a trajetória da rejeição em 2018 e 2022

Fernando Haddad é outro exemplo de como a rejeição acumulada no primeiro turno pode ser determinante no resultado do segundo turno. Em 2018, Haddad chegou ao segundo turno contra Jair Bolsonaro com uma rejeição de 32%, enquanto Bolsonaro apresentava 46%. No entanto, a crença de que o segundo turno seria uma nova chance para redefinir a imagem e melhorar suas perspectivas não se concretizou. Ao contrário, Haddad viu sua rejeição crescer para 52%, enquanto Bolsonaro conseguiu diminuir a dele para 44%, ainda que modestamente. No final, a rejeição elevada de Haddad foi um dos fatores decisivos para sua derrota.

Veja também: Eleições São Paulo 2024: as tendências de Datafolha, Atlas e Quaest que passaram despercebidas

Em 2022, durante as eleições para o governo de São Paulo, Haddad novamente enfrentou dificuldades relacionadas à rejeição. Poucos dias antes do primeiro turno, Haddad tinha 40% de rejeição contra 33% de Tarcísio de Freitas. Já na véspera do segundo turno, a rejeição de Haddad aumentou para 50%, enquanto a de Tarcísio chegou a 44%. Esses números mostram que, ao contrário do que muitos acreditam, o segundo turno não representa um recomeço; a rejeição do primeiro turno acompanha os candidatos, e sua gestão é crucial para o desfecho da eleição.

O desafio atual de Pablo Marçal em 2024

Outro caso que exemplifica bem a dificuldade de lidar com a rejeição é o de Pablo Marçal, atual candidato à prefeitura de São Paulo. Marçal possui uma rejeição de 53%, segundo a pesquisa Datafolha. Assim como Haddad e Russomanno, Marçal já enfrenta um grande desafio. Mesmo que consiga chegar ao segundo turno, terá que lidar com um eleitorado que, em sua maioria, já o rejeita fortemente. A experiência de Jair Bolsonaro em 2018 mostra como é complicado reduzir a rejeição. Durante toda a campanha do segundo turno, mesmo com a comoção causada pelo atentado, Bolsonaro conseguiu diminuir sua rejeição em apenas dois pontos percentuais – uma variação que se manteve dentro da margem de erro.

Portanto, para Marçal, o cenário é claro: além de precisar ganhar novos eleitores, ele também precisará elevar a rejeição do adversário de forma significativa. Em muitos casos, o foco do candidato passa a ser aumentar a rejeição do adversário ao ponto em que se iguale ou supere a sua própria. A dificuldade, no entanto, é que Marçal já parte de uma rejeição muito elevada, o que torna essa tarefa ainda mais desafiadora.

Segundo turno é outra eleição?

Ao contrário do que muitos acreditam, o segundo turno não é uma “nova eleição” onde os candidatos têm a chance de começar do zero. Na verdade, eles levam consigo toda a rejeição acumulada ao longo do primeiro turno, e essa rejeição se torna um fator decisivo. Candidatos que chegam ao segundo turno precisam lidar com a rejeição já consolidada, o que limita sua capacidade de conquistar novos eleitores.

O resultado muitas vezes depende de quem consegue aumentar a rejeição do oponente ao ponto de torná-lo inviável, enquanto mantém a própria rejeição sob controle para evitar que cresça ainda mais. Em exemplos recentes, como os de Fernando Haddad em 2018 e 2022, vemos que a rejeição tende a crescer no segundo turno, refletindo as dificuldades de reconstruir uma imagem em um curto espaço de tempo. Assim, quem administra melhor a rejeição — seja a própria, seja a do oponente — é quem costuma ter mais chances de sair vitorioso.

A batalha pela redução de rejeição no segundo turno

É importante desmistificar a ideia de que o segundo turno é uma eleição completamente nova. A verdade é que os candidatos carregam consigo o histórico e a rejeição acumulada no primeiro turno. Bolsonaro em 2018 conseguiu reduzir sua rejeição de 46% para 44%, enquanto Haddad aumentou a sua de 32% para 52%. Essa dinâmica mostra que é muito mais fácil aumentar a rejeição do adversário do que diminuir a própria.

Nas eleições de 2022 em São Paulo, o mesmo cenário se repetiu: Haddad começou com 40% de rejeição e terminou o segundo turno com 50%, enquanto Tarcísio aumentou a dele de forma mais contida. Quem vence no segundo turno, muitas vezes, é aquele que consegue administrar sua própria rejeição para que ela não aumente e, ao mesmo tempo, trabalha para ampliar a rejeição do oponente.

O foco em Ricardo Nunes: a vantagem de ter baixa rejeição

No debate eleitoral recente, ficou evidente que Ricardo Nunes era o principal alvo dos ataques dos adversários. Isso se deve ao fato de Nunes ter uma rejeição consideravelmente baixa. Essa vantagem o torna um candidato difícil de ser derrotado no segundo turno, pois, ao contrário de outros concorrentes, ele não precisa lidar com uma rejeição massiva que o impeça de conquistar eleitores. Projeções de segundo turno frequentemente mostram Nunes como vencedor, seja contra Guilherme Boulos ou Pablo Marçal.

Para Guilherme Boulos, o cenário mais favorável seria enfrentar Pablo Marçal, e não Ricardo Nunes. A rejeição de Marçal, já alta, é um ponto vulnerável que pode ser explorado. Vencer um candidato com alta rejeição é muito mais viável do que enfrentar um adversário com baixa rejeição e ampla aceitação popular. Essa dinâmica mostra que o segundo turno não é tanto sobre conquistar novos votos, mas sobre saber administrar as rejeições: aumentar a do oponente e manter a sua própria sob controle.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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