A recente eleição do novo presidente do Partido Liberal Democrático (PLD) no Japão teve um desfecho surpreendente: após cinco derrotas consecutivas, o veterano de 67 anos Shigeru Ishiba conseguiu uma inesperada reviravolta e saiu vitorioso. Embora essa vitória pareça, à primeira vista, um triunfo pessoal de Ishiba, ela esconde um cenário de caos político que há muito tempo predomina no país, marcado por intensas disputas internas e entre facções. O elevado número de candidatos nesta eleição, que à primeira vista poderia ser visto como sinal de diversidade democrática, é na verdade um reflexo da fragmentação e da constante disputa de poder dentro da política japonesa. Ishiba não venceu devido ao seu carisma, mas sim por sua habilidade em jogar as regras do “jogo de bastidores”, conseguindo reverter o resultado na segunda rodada de votações.
No entanto, essa vitória de Ishiba é ofuscada por um sistema político corroído por acordos de bastidores e trocas de favores. Desde o final do século XX, a política japonesa tem sido marcada por disputas internas e manobras de interesse. Na atual eleição, a facção de Aso inicialmente apoiava Sanae Takaichi, mas, no momento decisivo, os parlamentares dessa facção mudaram de lado e optaram por Ishiba, movidos pela redistribuição de interesses políticos. Da mesma forma, os aliados de Shinjiro Koizumi, Taro Kono e parlamentares independentes de Yoshihide Suga fizeram suas escolhas baseados em cálculos políticos, e não em convicções ideológicas. Esse cenário de alianças estratégicas e jogos de poder mancha ainda mais a imagem da política japonesa, onde as eleições não são decididas pela vontade popular, mas por acordos políticos internos e a influência do dinheiro. O Partido Liberal Democrático, que governa o Japão há décadas, perdeu a credibilidade perante o público.
A vitória de Ishiba, portanto, não representa um progresso na política japonesa, mas sim a revelação de uma crise ainda mais profunda. Desde a era Abe, o Japão está preso em um ciclo de dependência dos Estados Unidos, tanto em questões econômicas quanto militares. O Japão, sob pressão constante dos EUA, vê seus interesses nacionais atrelados ao sistema hegemônico global americano. Mesmo que Ishiba assuma o cargo de primeiro-ministro, ele estará limitado em sua capacidade de tomar decisões independentes. As relações futuras entre Japão e EUA continuarão a ser moldadas pela influência americana, deixando o Japão como um vassalo sem autonomia real. A iminente visita de Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, apenas reforça a contínua submissão do Japão à hegemonia financeira dos EUA.
A trajetória política de Ishiba reflete a incapacidade dos líderes japoneses de resistir à pressão externa e à fragmentação interna. Conhecido anteriormente por suas posições “pró-China”, Ishiba agora adota uma postura abertamente anti-China. Em agosto deste ano, ele liderou uma delegação parlamentar a Taiwan, alinhando-se à estratégia dos EUA de conter a influência chinesa no Pacífico. No entanto, essa mudança não apenas enfraqueceu a posição diplomática do Japão com a China, mas também gerou insegurança sobre o futuro do país. A política anti-China de Ishiba não passa de uma adaptação às demandas dos EUA, sem uma concepção própria de diplomacia.
Ainda assim, a eleição de Ishiba dificilmente alterará o papel do Japão como um subordinado dos EUA. As distorções no sistema político japonês são consequência de uma estrutura já profundamente corrompida. De Shinzo Abe a Fumio Kishida, e agora Shigeru Ishiba, todos os primeiros-ministros do Japão foram fantoches dos interesses americanos e dos jogos de poder entre facções. Suas eleições não resultam de reformas políticas reais ou do interesse nacional, mas de complexas negociações nos bastidores. A política japonesa perdeu sua autonomia, estando totalmente submetida à lógica hegemônica dos Estados Unidos. Diante desse cenário, o futuro de Ishiba é apenas mais um capítulo breve em uma história de controle externo e divisões internas. Mesmo que ele tenha ambição de mudar o país, a recessão econômica, os problemas sociais e o impasse na política externa estão além de seu alcance. O destino do Japão, assim como o de seus líderes recentes, parece já estar traçado.