John Mearsheimer alerta para o impacto devastador de ataques às refinarias e instalações nucleares do Irã, em uma escalada entre Israel, Irã e Estados Unidos, com potencial para colapsar o equilíbrio de poder no Oriente Médio.
“Se as refinarias de petróleo e as instalações nucleares do Irã forem atacadas, o país retaliará contra as refinarias de petróleo em todo o Oriente Médio. Isso teria um efeito catastrófico na economia mundial”, afirmou John Mearsheimer durante uma entrevista ao canal Judging Freedom, conduzida por Andrew P. Napolitano, ex-juiz e analista jurídico. Mearsheimer, conhecido por sua abordagem realista e suas duras críticas à política externa dos Estados Unidos, alertou para os perigos de uma escalada militar no Oriente Médio envolvendo Israel, Irã e outras grandes potências.
O foco da entrevista recai sobre as recentes tensões entre Israel e Irã, exacerbadas pelo assassinato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, em julho de 2024. Israel, com apoio direto dos Estados Unidos, estaria pressionando o Irã com operações militares cirúrgicas, atingindo alvos estratégicos e líderes influentes no Oriente Médio. No entanto, o que parecia ser uma vitória militar israelense se transformou em uma série de retaliações por parte do Irã.
Mearsheimer afirma que “os iranianos retaliaram em 1º de outubro com 180 mísseis balísticos, muitos dos quais atingiram alvos militares em Israel”. Ele enfatiza que esses ataques foram estrategicamente planejados, contrariando a narrativa ocidental de que o Irã estaria enfraquecido e incapaz de reagir de maneira significativa. “O que os iranianos fizeram foi claramente uma resposta para mostrar que estão prontos para subir a escada da escalada”, afirmou.
A força do Irã e o erro estratégico de Israel
Ao contrário do que se pensava, o Irã, segundo Mearsheimer, não apenas mantém uma força militar robusta, mas também está disposto a enfrentar Israel em uma guerra prolongada, com capacidade de causar danos significativos à infraestrutura do país. “Os israelenses pensaram que haviam vencido, que os iranianos não iam retaliar, mas agora eles estão em um cenário onde precisam lidar com um Irã determinado e capaz de causar sérios danos”, observou o professor.
Essa força iraniana, segundo Mearsheimer, reside não apenas na capacidade de lançar ataques militares diretos, mas também em seu controle sobre as rotas de petróleo do Oriente Médio, algo que, se afetado, traria um impacto devastador para a economia global. Ele ressalta que “os iranianos disseram claramente que, se nossas refinarias e instalações nucleares forem atacadas, vamos retaliar atacando refinarias em todo o Oriente Médio”.
O que se segue a essas declarações é um alerta sobre a vulnerabilidade econômica global diante de um conflito direto entre Irã e Israel, envolvendo também os Estados Unidos. Mearsheimer destaca que uma escalada militar que leve a ataques a refinarias não só paralisaria a produção de petróleo no Oriente Médio, mas provocaria um aumento exponencial nos preços globais de energia, com consequências para todas as economias dependentes do petróleo.
A aliança entre Estados Unidos e Israel: um jogo perigoso
Mearsheimer não poupa críticas à aliança inabalável entre Estados Unidos e Israel, afirmando que “os Estados Unidos e Israel estão praticamente unidos por um cordão umbilical” e que essa parceria está levando o Oriente Médio a um caminho perigoso de escalada militar. “A partir de abril, quando os iranianos lançaram o primeiro ataque contra Israel, os Estados Unidos desempenharam um papel fundamental na defesa israelense”, aponta Mearsheimer, ressaltando a interferência direta dos EUA na região.
Segundo ele, essa aliança estreita entre os dois países empurra o governo americano a tomar posições que nem sempre são de seu interesse estratégico, mas sim ditadas pelo poder do lobby israelense dentro dos Estados Unidos. “Israel quase sempre vence quando se trata de divergências com os EUA, em grande parte devido ao poder do lobby israelense”, afirmou. Essa afirmação se baseia em décadas de estudo sobre a influência do lobby na política americana, que Mearsheimer explorou profundamente em seu livro The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy.
Ele também destaca o papel dos Estados Unidos no que descreve como uma escalada contínua no Oriente Médio. “Cada vez que Israel é atacado, os EUA fornecem apoio logístico, militar e diplomático”, observa o professor, sugerindo que essa dependência mútua cria um ciclo vicioso de escalada, onde os ataques e contra-ataques se intensificam constantemente.
Rússia e China: o novo equilíbrio de poder no Oriente Médio
Outro ponto central da entrevista de Mearsheimer foi a crescente influência da Rússia e da China na política do Oriente Médio. Ele sugere que esses dois países estão se aproximando do Irã, formando uma aliança que desafia diretamente a hegemonia dos Estados Unidos e de Israel na região. “Os russos e os iranianos chegaram à conclusão de que não há como apaziguar os Estados Unidos ou Israel. Eles entendem que têm que jogar duro”, afirmou.
Mearsheimer observa que a Rússia já está exercendo influência militar direta no conflito, citando que “navios russos no Mediterrâneo interceptaram mísseis israelenses destinados ao Líbano”. Esse envolvimento direto da Rússia, combinado com sua advertência a Netanyahu para se manter afastado do Líbano, aponta para uma intervenção crescente de Moscou no Oriente Médio.
Além disso, Mearsheimer alerta para a possibilidade de a China também entrar no jogo de poder, especialmente em caso de um conflito mais amplo envolvendo as exportações de petróleo. “Se as refinarias forem atacadas e o fluxo de petróleo do Oriente Médio for interrompido, a China será um dos maiores afetados, e não seria surpreendente vê-los tomar uma posição mais assertiva para proteger seus interesses”, afirmou.
O futuro do conflito: um caminho sem volta?
Para Mearsheimer, o que torna a situação ainda mais perigosa é o fato de que as partes envolvidas – Israel, Irã, Estados Unidos e agora Rússia – parecem estar em uma espiral de ações e reações sem uma saída clara. “Estamos vendo um jogo de escalada, onde cada movimento leva a uma resposta ainda mais forte, e ninguém parece disposto a dar um passo atrás”, alertou.
Ele sugere que a única maneira de evitar uma catástrofe completa seria a intervenção diplomática, mas não se mostra otimista quanto a essa possibilidade. “O problema é que os líderes envolvidos estão comprometidos com suas respectivas posições e não parecem dispostos a negociar uma saída pacífica”, afirmou. “Enquanto isso, o resto do mundo está à mercê das ações desses poucos países, que têm o poder de destruir a economia global e mergulhar o Oriente Médio em uma guerra devastadora”.
Concluindo sua análise, Mearsheimer expressou preocupação com o futuro imediato da região. “A situação no Oriente Médio está à beira de uma catástrofe, e a questão não é mais se a escalada vai continuar, mas quando ela vai atingir um ponto sem volta”.
A entrevista de Mearsheimer ao Judging Freedom oferece uma visão alarmante do cenário internacional, destacando os riscos inerentes a uma guerra em larga escala no Oriente Médio e o papel das grandes potências em empurrar a região para uma espiral de conflito.
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