Eleições São Paulo 2024: as tendências de Datafolha, Atlas e Quaest que passaram despercebidas

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Empate técnico entre Nunes, Boulos e Marçal; movimento de voto útil bolsonarista favorece Marçal, enquanto Nunes se beneficia da menor rejeição.


Cenário eleitoral em São Paulo

As pesquisas Datafolha, Atlas e Quaest, realizadas na última semana, indicam um cenário extremamente competitivo na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2024. Os três principais candidatos — Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) — estão tecnicamente empatados. Cada um enfrenta desafios específicos para garantir uma vaga no segundo turno. Este texto analisa as principais tendências reveladas nas três pesquisas, destacando o contexto eleitoral de São Paulo em 2024.

Empate técnico entre os três principais candidatos

Os números das pesquisas Datafolha, Atlas e Quaest convergem para um cenário de empate técnico entre Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Pablo Marçal. As intenções de voto nas três pesquisas mostram resultados muito próximos para esses candidatos:

  • Datafolha: Ricardo Nunes (24%), Guilherme Boulos (23%) e Pablo Marçal (21%).
  • Atlas: Ricardo Nunes (24%), Guilherme Boulos (23%) e Pablo Marçal (21%).
  • Quaest: mostra os candidatos tecnicamente empatados, com variações entre 17% e 24%.

A estabilidade dos números entre as pesquisas revela que nenhum dos candidatos conseguiu se distanciar dos demais até o momento. Esse empate técnico reflete uma disputa acirrada, onde qualquer movimento estratégico nas últimas semanas pode ser determinante para definir quem seguirá no segundo turno.

Movimento de voto útil bolsonarista em Pablo Marçal

Uma das tendências mais marcantes nas pesquisas, especialmente observada na Atlas e na Datafolha, é o movimento de voto útil dos eleitores bolsonaristas para Pablo Marçal. Esse fenômeno parece estar relacionado à insatisfação de parte desse eleitorado com o apoio de Jair Bolsonaro a Ricardo Nunes, visto como um representante da “velha política”.

  • Atlas: Marçal registrou 51% das intenções de voto entre os eleitores de Bolsonaro, um crescimento significativo em comparação com semanas anteriores, quando tinha entre 42% e 43% desse eleitorado.
  • Datafolha: apresenta um cenário similar, confirmando a preferência crescente de eleitores conservadores por Marçal, enquanto a rejeição de Ricardo Nunes entre esse grupo aumenta.
  • Quaest: também indica crescimento de Marçal entre bolsonaristas, mas não de forma tão expressiva quanto nas outras duas pesquisas, sugerindo que parte desse eleitorado ainda está indeciso.

Esse movimento em direção a Marçal se deve, em parte, à sua retórica de rompimento com a “velha política” e à crítica direta a Bolsonaro. Essa postura atrai eleitores que buscam renovação política, mesmo dentro do campo conservador.

Ricardo Nunes: baixa rejeição e vantagem potencial no segundo turno

Ricardo Nunes tem enfrentado dificuldades para se consolidar no primeiro turno, apesar do bom desempenho entre eleitores de baixa renda:

  • Datafolha e Atlas: Nunes lidera entre os eleitores de renda mais baixa, com 30% das intenções de voto entre aqueles que ganham até dois salários mínimos.
  • Quaest: também mostra um cenário em que Nunes se sai melhor entre os eleitores de menor renda, mas sua posição entre a classe média ainda é limitada.

Um ponto positivo para Ricardo Nunes, que aparece em todas as pesquisas, é sua baixa rejeição. Enquanto Pablo Marçal apresenta uma rejeição crescente de 48% para 53% (Atlas e Datafolha), e Guilherme Boulos mantém sua rejeição entre 38% e 49%, Nunes é o candidato com a menor taxa de rejeição. Isso o coloca em uma posição vantajosa para um eventual segundo turno, já que a menor rejeição facilita o crescimento e a captação de votos indecisos. Esse dado se torna uma “boia de salvação” para Ricardo Nunes, que pode se beneficiar dessa característica para garantir uma vaga no segundo turno.

Guilherme Boulos: eleitorado consolidado e desafios de crescimento

Guilherme Boulos possui um eleitorado bastante consolidado, e as pesquisas indicam que seus apoiadores têm grande certeza em relação ao voto:

  • Quaest: mostra que 78% dos eleitores de Boulos já estão decididos e dificilmente mudarão de voto. Além disso, 66% do total de seus eleitores indicam que a escolha é definitiva.
  • Atlas e Datafolha: ambas revelam que Boulos se destaca entre os eleitores de maior renda, com 32% das intenções de voto entre os que ganham mais de cinco salários mínimos.

Apesar disso, Boulos enfrenta desafios para crescer além do seu eleitorado tradicional. A alta rejeição ainda é um obstáculo, especialmente em um cenário de segundo turno. Outro risco, embora remoto, é a migração de votos de eleitores de Boulos para Tabata Amaral, caso haja uma percepção de que Tabata seja uma alternativa viável para evitar a polarização. Contudo, essa migração é improvável, pois Tabata é vista de forma negativa por parte da esquerda, sendo associada a políticas de austeridade e um viés econômico mais neoliberal.

  • Quaest: entre os eleitores de Boulos, 46% indicam Tabata como uma segunda opção, mas apenas 23% desse grupo estaria disposto a mudar de voto, enquanto 73% manteriam seu apoio a Boulos. Isso demonstra que o eleitorado de Boulos está bem cristalizado e dificilmente migrará.

Vantagem de Nunes e o risco de Tabata para Boulos

Apesar da consolidação de Pablo Marçal entre os eleitores bolsonaristas, a baixa rejeição de Ricardo Nunes nas pesquisas Datafolha e Atlas pode acabar conferindo-lhe uma vantagem significativa. Esse fator é um ponto de salvação para Nunes, que precisa se destacar no cenário de empate técnico para garantir sua vaga no segundo turno.

Outro risco que precisa ser considerado, embora menos provável, é o de Tabata Amaral conseguir captar votos dos eleitores de Guilherme Boulos e criar um cenário em que o candidato do PSOL fique fora do segundo turno. Contudo, essa hipótese enfrenta barreiras significativas, já que Tabata é mal vista por uma parcela da esquerda devido às suas posições mais alinhadas a políticas de austeridade e seu viés neoliberal. Além disso, o eleitorado de Boulos é altamente consolidado, e a maioria tende a manter seu voto, como mostram os 78% que indicam a escolha como definitiva.

Tendências comuns nas três pesquisas

Para finalizar, é importante destacar as tendências que se repetem nas três pesquisas:

  1. Empate técnico entre os três candidatos: tanto Datafolha, Atlas quanto Quaest mostram um cenário de empate técnico entre Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal.
  2. Voto útil bolsonarista para Marçal: tanto a Atlas quanto a Datafolha indicam um movimento expressivo de eleitores bolsonaristas em direção a Marçal, enquanto a Quaest mostra esse movimento de forma menos acentuada.
  3. Baixa rejeição de Ricardo Nunes: em todas as pesquisas, Ricardo Nunes é o candidato com a menor rejeição, o que o favorece em um eventual segundo turno.
  4. Eleitorado consolidado de Boulos: as três pesquisas mostram que os eleitores de Boulos estão, em sua maioria, decididos, com 78% indicando que dificilmente mudarão de voto, o que reduz o risco de perda de eleitores para Tabata ou outros candidatos.

Essas tendências destacam a complexidade da disputa em São Paulo e indicam que os próximos dias serão cruciais, tanto para conquistar eleitores indecisos quanto para consolidar o apoio necessário para avançar ao segundo turno.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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