Muitos países pedem moderação em meio ao aumento das operações militares israelenses, mas os EUA oferecem apoio
Os Estados Unidos parecem estar em desacordo com grande parte da comunidade internacional ao apoiar a incursão terrestre de Israel no Líbano, que teve início na última terça-feira. Enquanto diversos países pediam um cessar-fogo e um recuo para evitar uma guerra total, Washington defendeu a ação como parte do “direito de Israel de se defender”. A ofensiva, descrita como “limitada” pelo governo americano, foi direcionada contra o Hezbollah no sul do Líbano.
As tropas israelenses avançaram sobre o território libanês durante a madrugada, em um movimento que já era amplamente esperado. De acordo com um comunicado militar de Israel, os ataques foram “limitados, localizados e direcionados” especificamente contra o Hezbollah, grupo armado apoiado pelo Irã. No entanto, a incursão aumentou ainda mais o risco de uma escalada no conflito, o que preocupou a comunidade internacional. Países como os Emirados Árabes Unidos, Catar e Japão expressaram rapidamente suas preocupações com o avanço israelense e pediram moderação.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou que, em uma conversa com seu homólogo israelense, Yoav Gallant, deixou claro que Washington apoia a ofensiva. “Deixei claro que os Estados Unidos apoiam o direito de Israel de se defender”, declarou Austin. Ele também destacou que a ação visa desarmar o Hezbollah e outros grupos que representam uma ameaça à segurança na fronteira entre Israel e o Líbano.
O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca emitiu uma declaração semelhante, justificando as “operações limitadas” de Israel, mas destacou que continua contra uma expansão do ataque terrestre e que uma solução diplomática é a única forma de alcançar uma estabilidade duradoura ao longo da fronteira.
‘Uma das fases mais perigosas da história’
Enquanto isso, o primeiro-ministro interino do Líbano, Najib Mikati, fez um alerta severo sobre a situação que seu país enfrenta. Ele descreveu o momento atual como “uma das fases mais perigosas de sua história” e solicitou à ONU uma ajuda urgente para atender mais de um milhão de pessoas deslocadas pelos ataques israelenses nas últimas semanas. “Pedimos urgentemente mais ajuda para reforçar nossos esforços contínuos para fornecer suporte básico aos civis deslocados”, disse Mikati durante uma reunião com representantes das Nações Unidas.
O coordenador humanitário da ONU para o Líbano, Imran Riza, anunciou o lançamento de um apelo emergencial de US$ 426 milhões para assistência humanitária imediata. Ele alertou que, sem recursos suficientes, os humanitários correm o risco de deixar toda a população libanesa sem o apoio de que necessita. No entanto, Riza observou que nenhuma quantidade de ajuda será suficiente para resolver a crise se os civis continuarem a ser alvos de ataques. Liz Throssell, porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, também expressou preocupação, alertando que uma “invasão terrestre em larga escala” poderia resultar em “sofrimento ainda maior” para a população civil.
Violação da soberania
A nova fase da operação israelense rapidamente gerou preocupações em todo o Oriente Médio. A força de paz das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) condenou a ofensiva, afirmando que ela viola a “soberania e integridade territorial” do país. A ONU reiterou que qualquer incursão de Israel em território libanês é uma violação da Resolução 1701, que determinou o fim das hostilidades após o conflito de 2006 entre Israel e Hezbollah.
O Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos manifestou sua “profunda preocupação” com a escalada dos combates e reafirmou sua posição firme em defesa da unidade e soberania do Líbano. O país pediu apoio internacional para evitar uma escalada maior e destacou a importância de proteger totalmente os civis. O presidente Sheikh Mohamed bin Zayed Al Nahyan anunciou a entrega de um pacote de ajuda humanitária de US$ 100 milhões ao povo do Líbano, buscando aliviar o impacto dos confrontos.
O Ministro de Estado das Relações Exteriores do Catar, Mohammed bin Abdulaziz al-Khulaifi, foi às redes sociais para alertar que “a agressão ao Líbano causará o pior”. Ele enfatizou que “agora, mais do que nunca, é necessário um apoio inabalável para garantir a integridade e segurança do país”. Al-Khulaifi também destacou que ficar ao lado do povo libanês é tanto um dever moral quanto uma necessidade urgente.
Pressão internacional por cessar-fogo
Enquanto a situação se deteriora, o clamor internacional por um cessar-fogo imediato aumentou. O governo japonês foi um dos primeiros a pedir a cessação das hostilidades, pedindo que todas as partes demonstrem máxima contenção para evitar uma escalada regional. A Rússia, por sua vez, alertou que “a geografia das hostilidades está se expandindo”, o que está desestabilizando ainda mais a região e elevando as tensões a níveis perigosos.
Outros países também se manifestaram. O ministro das Relações Exteriores da Espanha exigiu que Israel cessasse seus ataques terrestres para evitar que o conflito se espalhasse ainda mais pela região. Já a Itália, que atualmente preside o Grupo dos Sete (G7) das economias mais ricas, afirmou que continuará a trabalhar para reduzir as tensões.
O novo chefe da OTAN, Mark Rutte, declarou que está “acompanhando de perto o que está acontecendo no Líbano” e expressou sua esperança de que “as hostilidades terminem o mais rápido possível”. Já o Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, alertou que o custo de uma guerra regional seria devastador. Lammy disse que Londres tem mantido conversas com colegas iranianos, pedindo moderação, embora não tenha mencionado contatos diretos com Israel.
A ofensiva de Israel: Flechas do Norte
A incursão terrestre de Israel, chamada de Flechas do Norte, é a primeira ofensiva do país no Líbano desde a guerra de 2006. Lançada na noite de segunda-feira, a operação seguiu mais de uma semana de intensos ataques aéreos em Beirute e no sul do Líbano. Esses bombardeios mataram centenas de pessoas, incluindo altos comandantes do Hezbollah, e o líder do grupo, Hassan Nasrallah.
Segundo o exército israelense, a invasão tem como objetivo empurrar o Hezbollah para o norte do Rio Litani, cerca de 30 km da fronteira com Israel, cumprindo assim a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. No entanto, na terça-feira, a UNIFIL reiterou que qualquer incursão para o Líbano é uma violação da soberania e integridade territorial do país, além de infringir as determinações da ONU.
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