A ByteDance, empresa controladora do TikTok, está avançando no desenvolvimento de um novo modelo de inteligência artificial (IA) com o uso de chips da Huawei, à medida que as sanções impostas pelos Estados Unidos restringem o acesso a semicondutores avançados.
De acordo com fontes ligadas ao projeto, a companhia chinesa tem buscado fornecedores locais para impulsionar suas operações de IA, em meio a um cenário de crescente tensão tecnológica entre EUA e China.
Segundo informações obtidas pela agência Reuters, três pessoas familiarizadas com o projeto confirmaram que a ByteDance está utilizando os chips Ascend 910B da Huawei para o treinamento de um novo modelo de linguagem de grande escala.
Essa movimentação ocorre em resposta às sanções dos EUA que, desde 2022, limitam o acesso de empresas chinesas a chips avançados de empresas americanas, como a Nvidia.
Aposta em fornecedores domésticos
De acordo com uma das fontes, a ByteDance tem acelerado seus esforços no desenvolvimento de chips próprios e apostado cada vez mais em fornecedores chineses, como a Huawei.
“A ByteDance tem acelerado o desenvolvimento de seus próprios chips e apostado em fornecedores domésticos, como a Huawei, desde que as sanções dos EUA começaram a limitar o acesso a chips avançados, como os da Nvidia, em 2022”, declarou a fonte.
A iniciativa faz parte de uma reconfiguração mais ampla da indústria de tecnologia da China, que tem colocado a IA no centro de suas estratégias para setores variados, como e-commerce e entretenimento.
O uso dos chips Ascend 910B, da Huawei, é visto como uma solução emergente para manter os avanços tecnológicos, embora o desenvolvimento de novos modelos de IA demande grande poder de processamento e enormes quantidades de dados.
Uso dos chips Ascend 910B
O chip Ascend 910B, fabricado pela Huawei, até então vinha sendo utilizado principalmente em tarefas de inferência, nas quais modelos de IA já treinados são usados para fazer previsões e análises.
No entanto, a ByteDance agora planeja utilizar esses chips para treinar um novo modelo de IA, processo que demanda mais capacidade de processamento, tradicionalmente fornecida por unidades de processamento gráfico (GPU) como as da Nvidia.
Apesar da aposta nos chips da Huawei, a ByteDance enfrenta desafios com a escassez desses componentes. Segundo fontes, a empresa encomendou mais de 100.000 unidades do chip Ascend 910B em 2023, mas até julho apenas 30.000 foram entregues.
Esse número, segundo as fontes, é insuficiente para atender às necessidades do desenvolvimento de IA da empresa, especialmente em um ambiente de crescente demanda por poder computacional.
Comparação com o modelo Doubao
O novo modelo de IA que a ByteDance está desenvolvendo será menos poderoso e complexo do que o modelo de linguagem atual da empresa, conhecido como Doubao.
Lançado em agosto de 2023, o Doubao rapidamente se tornou um dos chatbots mais populares da China, com mais de 10 milhões de usuários ativos mensais.
Ele está no centro da estratégia de IA da ByteDance e já possui versões focadas em vídeo, criadas para competir com produtos de outras gigantes do setor, como a OpenAI.
No entanto, apesar das expectativas em torno desse novo projeto, o porta-voz do TikTok, Michael Hughes, negou que a ByteDance esteja desenvolvendo um novo modelo de IA. “A premissa toda está errada. Nenhum novo modelo está sendo desenvolvido”, afirmou Hughes em resposta à agência Reuters.
Impacto das sanções e a busca por alternativas
A ByteDance, como outras empresas chinesas de tecnologia, tem sido fortemente impactada pelas sanções comerciais dos EUA, que visam limitar o acesso da China a chips avançados e outras tecnologias de ponta.
As restrições forçaram as companhias chinesas a buscar soluções alternativas no mercado doméstico e a investir no desenvolvimento de tecnologias próprias.
Desde o início das sanções, a ByteDance se tornou uma das principais compradoras de chips de IA da Huawei e também de versões adaptadas de chips da Nvidia disponíveis para o mercado chinês. A Nvidia, por exemplo, desenvolveu o modelo H20, destinado a contornar as restrições impostas pelos EUA, mas com capacidade limitada em relação aos modelos disponíveis globalmente.
Futuro da IA na ByteDance
Embora a ByteDance tenha enfrentado dificuldades com a escassez de chips e as limitações impostas pelas sanções, a empresa segue com planos ambiciosos para expandir suas operações de IA.
O desenvolvimento de um novo modelo de linguagem, mesmo que menos avançado que o Doubao, reflete o compromisso da empresa em se manter competitiva no mercado de tecnologia global, apesar das restrições.
Ainda não há uma data específica para o lançamento desse novo modelo de IA, e o projeto continua envolto em incertezas devido às limitações na oferta de chips.
No entanto, o esforço da ByteDance para consolidar sua posição no setor de IA e sua colaboração com empresas como a Huawei indicam que a empresa busca se adaptar rapidamente às mudanças no cenário tecnológico global.
A questão agora é se as medidas adotadas pela ByteDance, incluindo a parceria com fornecedores domésticos, serão suficientes para enfrentar os desafios impostos pelas sanções e manter o ritmo de inovação necessário para competir com empresas ocidentais em um campo que se tornou crucial para o futuro da tecnologia global.