Israel matou líderes do Hezbollah e Hamas em bombardeios devastadores no Líbano, com mais de mil mortos e centenas de milhares de pessoas deslocadas enquanto o conflito se intensifica
O grupo militante palestino Hamas afirmou que um ataque aéreo israelense matou seu líder no Líbano nesta segunda-feira (30).
De acordo com o Hamas, Fatah Sharif e sua família foram mortos durante o bombardeio no campo de refugiados de Al-Buss, localizado na cidade portuária de Tiro, ao sul do Líbano.
Na última semana, Israel realizou diversos ataques nos subúrbios ao sul de Beirute, uma área de forte presença do Hezbollah. Um ataque massivo na sexta-feira resultou na morte de Hassan Nasrallah, líder de longa data do Hezbollah.
Entretanto, na segunda-feira, o primeiro ataque aéreo israelense em quase um ano no centro de Beirute destruiu um prédio de apartamentos.
Israel já havia atacado o Líbano nos últimos dias, resultando em dezenas de mortes, e o Hezbollah sofreu perdas significativas em sua liderança, incluindo a morte de Nasrallah.
As autoridades israelenses não comentaram imediatamente o ataque.
O bombardeio destruiu um prédio residencial de vários andares no centro de Beirute, conforme relatado por um jornalista da Associated Press no local. Vídeos mostram ambulâncias e uma multidão reunida perto do prédio em uma movimentada área sunita repleta de comércios.
O ataque aéreo matou pelo menos uma pessoa e feriu outras 16, segundo um oficial da Defesa Civil Libanesa, que pediu anonimato por não estar autorizado a falar com a imprensa. A pessoa morta era um membro da al-Jamaa al-Islamiya, um grupo sunita aliado ao Hezbollah.
Uma facção esquerdista palestina no Líbano, a Frente Popular para a Libertação da Palestina, também afirmou que três de seus membros foram mortos no ataque. O grupo declarou que seus comandantes militares e de segurança, além de um terceiro integrante, foram mortos na ação.
Nenhum desses grupos militantes desempenhou um papel significativo no conflito entre Israel e o grupo xiita Hezbollah.
Mais cedo, o Hezbollah confirmou a morte de Nabil Kaouk, vice-chefe de seu Conselho Central, no sábado, sendo o sétimo líder sênior da organização morto em ataques israelenses em pouco mais de uma semana. Esses líderes incluíam membros fundadores do grupo, que haviam escapado de capturas por décadas.
Além disso, o Hezbollah confirmou que o comandante Ali Karaki também foi morto no ataque que matou Nasrallah. Israel afirmou que mais de 20 militantes do Hezbollah foram mortos, incluindo um oficial de segurança de Nasrallah.
O Ministério da Saúde do Líbano informou que pelo menos 105 pessoas foram mortas no país durante os ataques aéreos no domingo. Dois bombardeios próximos à cidade de Sidon, ao sul de Beirute, mataram ao menos 32 pessoas, enquanto ataques na província de Baalbek Hermel causaram 21 mortes e feriram ao menos 47.
A mídia libanesa reportou dezenas de ataques em várias regiões, incluindo Beirute. Israel afirmou que seus alvos eram militantes, mas muitos civis também foram atingidos, elevando o número de mortos.
Em um vídeo de um ataque em Sidon, verificado pela AP, um prédio balançou antes de desmoronar. Uma estação de TV local pediu orações por uma família presa sob os escombros, já que os socorristas não conseguiram alcançá-los. O Ministério da Saúde relatou que 14 médicos foram mortos em dois dias no sul.
O presidente Joe Biden disse no domingo que em breve conversaria com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e enfatizou que uma guerra total no Oriente Médio deve ser evitada. “Tem que ser”, afirmou Biden aos repórteres.
Biden ainda declarou que a morte de Nasrallah foi uma “medida de justiça” pelas vítimas do Hezbollah
Em uma nota oficial da Casa Branca, o presidente afirmou: “Nasrallah e o Hezbollah são responsáveis pela morte de centenas de americanos ao longo de quatro décadas de terror, além de milhares de civis israelenses e libaneses”.
O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, comentou que os ataques israelenses “destruíram” a estrutura de comando do Hezbollah, mas alertou que o grupo tentará rapidamente se reorganizar.
“Sem Nasrallah, o mundo está mais seguro”, afirmou Kirby. “Mas eles tentarão se recuperar. Estamos de olho em como irão preencher essa lacuna de liderança. Será um desafio, pois grande parte da sua estrutura foi eliminada.”
Kirby evitou comentar se o governo Biden apoia a maneira como Israel tem atacado líderes do Hezbollah. A Casa Branca segue insistindo em um cessar-fogo temporário de 21 dias, proposto pelos EUA, França e outros países durante a Assembleia Geral da ONU na semana passada.
Enquanto isso, o local onde Nasrallah foi morto ainda mostrava sinais da destruição do ataque de sexta-feira, com escombros fumegantes. Civis se aglomeravam para ver os destroços ou prestar homenagens.
Em resposta à escalada israelense, o Hezbollah intensificou seus ataques de foguetes contra Israel, disparando centenas de mísseis por dia, de acordo com os militares israelenses. Muitos foram interceptados pelos sistemas de defesa aérea de Israel.
O exército israelense disse que suas ofensivas prejudicaram seriamente as capacidades do Hezbollah, afirmando que os ataques seriam ainda mais intensos se o Hezbollah não tivesse sofrido tantas baixas.
Israel diz que atingiu alvos Houthis
Israel também afirmou que no domingo atingiu alvos Houthi no Iêmen, em retaliação a um ataque de mísseis balísticos contra o aeroporto de Ben Gurion. O exército israelense atacou usinas de energia e instalações portuárias na cidade de Hodeida. O escritório de mídia Houthi confirmou que os ataques atingiram portos e usinas, matando quatro pessoas e ferindo outras 40.
Os Houthis afirmaram que haviam tomado precauções antes dos ataques, esvaziando os estoques de petróleo dos portos.
O Ministério da Saúde do Líbano informou que mais de 1.030 pessoas, incluindo 156 mulheres e 87 crianças, foram mortas pelos bombardeios israelenses nas últimas duas semanas. Centenas de milhares de pessoas foram forçadas a deixar suas casas.
O Hezbollah, apoiado pelo Irã, ganhou notoriedade após o conflito de 2006 contra Israel, que terminou sem uma clara vitória para nenhum dos lados.
O Hezbollah começou a disparar foguetes e mísseis contra Israel após o ataque do Hamas em 7 de outubro, que desencadeou a guerra. Tanto o Hezbollah quanto o Hamas são aliados no que chamam de “Eixo de Resistência” contra Israel.
O conflito segue se intensificando, gerando temores de uma guerra em larga escala na região.
Israel afirmou que está comprometido em devolver cerca de 60.000 cidadãos às comunidades no norte do país, evacuadas há quase um ano. O Hezbollah, por sua vez, disse que interromperá os ataques com foguetes apenas se houver um cessar-fogo em Gaza, algo que permanece incerto apesar das negociações indiretas lideradas por EUA, Qatar e Egito.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!