Tecnologia com células-tronco em pandas pode salvar animais em extinção

Pesquisadores criaram um tipo de célula auto-renovável que pode ajudar em pesquisas futuras e preservar recursos genéticos vitais / Reprodução via SCMP

Cientistas chineses conseguiram, pela primeira vez, desenvolver um tipo de célula-tronco autorrenovável de pandas gigantes, representando um avanço importante para a preservação e conservação desses animais e, potencialmente, de outras espécies em risco de extinção.

Os pesquisadores da Base de Pesquisa de Reprodução de Pandas Gigantes de Chengdu e dos Institutos de Biomedicina e Saúde de Guangzhou afirmaram que essa nova técnica pode superar as limitações na preservação da diversidade genética dos pandas e possibilitar estudos mais avançados, inclusive sobre doenças. Atualmente, estima-se que existam cerca de 2.000 pandas gigantes na natureza, que enfrentam ameaças à sobrevivência devido a atividades humanas, como desmatamento e construção de estradas.

Embora as iniciativas de conservação, como a proteção de habitats e a reprodução em cativeiro, tenham sido eficazes, os cientistas alertam que algumas populações de pandas correm um risco de extinção superior a 90%, tornando “imperativo” preservar seus recursos genéticos, segundo a equipe.

As células autorrenováveis, conhecidas como células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), têm a capacidade de se regenerar em diferentes tipos de células.

Essas células-tronco induzidas são criadas reprogramando células do corpo, como as da pele ou do cabelo, para um estado embrionário, permitindo que funcionem como células iniciais, capazes de se transformar em vários tipos de tecidos.

A equipe desenvolveu essas células a partir da reprogramação de fibroblastos, um tipo de célula do tecido conjuntivo. Anteriormente, os cientistas já haviam conseguido isolar e preservar algumas células de panda, como as da medula óssea e do cordão umbilical, que também podem ser transformadas em outros tipos de células.

“Apesar desses esforços, a capacidade limitada de proliferação e a fraca capacidade de diferenciação dessas células dificultam sua aplicação em pesquisas sobre pandas gigantes”, escreveu a equipe em um artigo publicado na Science Advances, um periódico revisado por pares. “As células-tronco pluripotentes induzidas oferecem uma fonte inesgotável e autorrenovável de material genético de espécies ameaçadas, podendo regenerar diversos tipos de células conforme necessário.”

Zhang Shihao, coautor do estudo, afirmou que uma das principais vantagens das iPSCs é sua facilidade de obtenção, já que podem ser derivadas da pele ou de células capilares sem prejudicar os pandas. “Além disso, as iPSCs têm o potencial de se autorrenovar e podem se diferenciar em várias direções, inclusive em células-tronco mesenquimais”, acrescentou Zhang. As células-tronco mesenquimais podem se transformar em diversos tipos de tecidos, como ossos, cartilagem, músculos e gordura.

A aplicação dessa tecnologia iPSC tem mostrado grande potencial para a conservação de outras espécies ameaçadas, como o rinoceronte de Sumatra e o diabo da Tasmânia. “[Essas células] podem ser uma ferramenta essencial na prevenção da extinção de espécies, ao se diferenciar em células semelhantes às células germinativas primordiais”, explicaram os pesquisadores.

As células germinativas primordiais, que dão origem aos espermatozoides e óvulos, são utilizadas em tecnologias de reprodução assistida para aumentar as populações de espécies em risco. As células-tronco embrionárias, que podem se desenvolver em várias direções, são o padrão ouro para estudar as funções das células-tronco pluripotentes. No entanto, obtê-las de pandas gigantes é difícil, pois algumas técnicas de coleta de óvulos de pandas vivos são proibidas, e os pandas mortos geralmente não têm óvulos viáveis. O novo método da equipe pode permitir a criação de células-tronco embrionárias em laboratório usando as iPSCs.

“Esse avanço crucial é um passo importante em direção ao nosso objetivo final de usar [iPSCs de panda gigante] para a geração in vitro de células gametas e embriões”, escreveram os pesquisadores. A equipe seguirá tentando criar células “ingênuas”, que se assemelham às células pré-implantação, por terem maior capacidade de diferenciação.

Um dos desafios enfrentados pelos cientistas foi a pesquisa limitada sobre as características das células de panda, o que fez com que os pesquisadores tivessem que começar praticamente do zero. Zhang enfatizou que o sucesso só foi possível graças a anos de experimentos contínuos. Ele também afirmou que a abordagem atual para o uso dessa tecnologia é “conservadora”, mas pode ser aplicada quando necessário, especialmente em populações selvagens pequenas e ameaçadas de extinção.

Com informações do South China Morning Post*

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