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Sri Lanka elege um presidente marxista

O povo do Sri Lanka fez história ao eleger, no último sábado (21), Anura Kumara Dissanayake, um líder com tendências marxistas, como seu novo presidente. Sua vitória representa uma resposta clara ao descontentamento popular contra o establishment político que vinha dominando o país há décadas. Com promessas de transformar a nação endividada, Dissanayake assumiu o […]

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O novo presidente do Sri Lanka, Anura Kumara Dissanayake, mostra seu dedo marcado com tinta após votar durante a eleição presidencial / Chamila Karunarathne / EPA

O povo do Sri Lanka fez história ao eleger, no último sábado (21), Anura Kumara Dissanayake, um líder com tendências marxistas, como seu novo presidente. Sua vitória representa uma resposta clara ao descontentamento popular contra o establishment político que vinha dominando o país há décadas. Com promessas de transformar a nação endividada, Dissanayake assumiu o compromisso de reformar o sistema político do Sri Lanka.

Dissanayake, de 55 anos, é visto como o “homem do povo”, tendo crescido em uma família humilde no campo. Sua campanha foi marcada por uma nítida diferença entre ele e seus oponentes, que pertenciam a dinastias políticas tradicionais, conhecidas por corrupção e controle do poder por gerações. No Sri Lanka, esse cenário é comum no sul da Ásia, onde a política frequentemente é tratada como um negócio familiar.

Por mais de duas décadas, a política do país esteve sob o domínio da dinastia Rajapaksa, até que uma grave crise econômica em 2022 derrubou o então presidente Gotabaya Rajapaksa após grandes protestos populares.

A campanha de Dissanayake foi fortemente pautada na crítica à corrupção, apontada como uma das principais responsáveis pela crise econômica do país. Seu discurso de abertura e transformação conquistou o apoio de uma população cansada de um sistema político estagnado. Eleito com a promessa de uma nova era, AKD, como é conhecido, afirmou em sua vitória: “Esta vitória pertence a todos nós“, reforçando seu compromisso com as demandas populares.

Dissanayake lidera o Janatha Vimukti Peramuna (JVP), um partido de esquerda que, apesar de não ser uma força dominante no Parlamento – possui apenas três assentos dos 225 disponíveis – tem ganhado força com sua mensagem de mudança. Embora o JVP tenha um passado controverso, com envolvimento em insurreições violentas na década de 1980, o novo presidente pediu desculpas pelos erros do passado e garantiu que sua gestão será baseada em uma política limpa e transparente. Em seu discurso de posse, ele afirmou: “Precisamos estabelecer uma nova cultura política… Faremos o máximo para reconquistar o respeito e a confiança do povo no sistema político“.

Desafios à frente

Os eleitores escolheram um novo presidente pela primeira vez desde que protestos em massa destituíram o líder do Sri Lanka em 2022 / Color Collector / Shutterstock

Entre os muitos desafios que AKD terá que enfrentar, o mais urgente é a recuperação da economia do país. O Sri Lanka sofreu gravemente com a pandemia, que prejudicou suas duas principais fontes de receita: o turismo e as remessas de cidadãos no exterior. O colapso econômico resultou em uma inflação galopante e na escassez de bens essenciais, levando o país a declarar moratória de sua dívida externa em maio de 2022 pela primeira vez em sua história.

Esse cenário gerou uma crise nacional, e o levante popular conhecido como aragalaya levou à queda de Gotabaya Rajapaksa. Desde então, o país conseguiu um empréstimo de US$ 3 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), e há sinais de que a economia está lentamente se recuperando. Espera-se que o crescimento econômico volte em 2024, impulsionado por uma redução no déficit comercial e aumento das remessas.

Dissanayake está ciente dos desafios e da pressão que carrega. Ao aceitar a presidência, ele declarou: “Eu não sou um mágico, sou um cidadão comum. Meu objetivo é reunir pessoas com conhecimento e habilidades para ajudar a levantar este país“. Sua plataforma pró-classe trabalhadora e anti-elite política foi essencial para conquistar o voto jovem e garantir a vitória, mas seu governo terá que equilibrar as expectativas da população por subsídios populistas e as exigências de austeridade dos credores internacionais.

O novo presidente do Sri Lanka terá uma difícil missão de navegar entre os interesses internos e externos, mas sua visão de transformação e compromisso com o povo trazem esperanças de um futuro melhor para o país.

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