Pesquisa Quaest expõe desafios estratégicos na reta final da eleição em São Paulo

Boulos, Nunes e Marçal seguem tecnicamente empatados na corrida pela prefeitura de São Paulo, segundo nova pesquisa Datafolha / Foto: Reprodução

A disputa é apertada, e a diferença entre os candidatos está dentro da margem de erro, que é de 3 pontos percentuais.


A mais recente pesquisa Quaest, divulgada nesta terça-feira (24), reforça o cenário de acirramento na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito, Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) seguem empatados tecnicamente, com 25%, 23% e 20% das intenções de voto, respectivamente.

Em comparação com a pesquisa de 18 de setembro, Nunes oscilou um ponto para cima, enquanto Boulos e Marçal mantiveram o mesmo percentual. A pesquisa entrevistou 1.200 pessoas entre os dias 21 e 23 de setembro e foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo SP-06330/2024. Além disso, o levantamento também apontou para uma alta taxa de rejeição entre os candidatos, um fator que pode ser decisivo nas semanas que antecedem o pleito.

Cenário de rejeição limita avanços no segundo turno

A rejeição tem se mostrado um ponto crítico na eleição paulistana. Pablo Marçal e Guilherme Boulos atingiram 50% de rejeição entre os eleitores da cidade, um número considerado alarmante. Em termos práticos, isso significa que metade dos eleitores de São Paulo não votaria em nenhum dos dois de forma alguma, o que representa um desafio significativo, sobretudo no contexto de um possível segundo turno. O crescimento de Marçal entre os eleitores mais jovens das periferias tem sido contrabalanceado pela resistência que ele enfrenta em outros segmentos. Ele, que antes era desconhecido por 47% do eleitorado, hoje é amplamente conhecido, mas sua rejeição subiu a patamares preocupantes.

No caso de Boulos, o cenário é semelhante. Sua rejeição se sustenta em um misto de resistência pessoal e antipatia generalizada pela esquerda e pelas pautas identitárias defendidas pelo PSOL. A luta de Boulos para desconstruir essa imagem se mostrou ineficaz até o momento, com sua rejeição subindo de 40% em junho para 50% agora em setembro.

Por outro lado, Ricardo Nunes apresenta uma rejeição menor, de 39%, o que o coloca em uma posição mais confortável. Sua capacidade de transitar entre diferentes grupos eleitorais – moderados e conservadores – faz dele um candidato mais competitivo em um eventual segundo turno, mesmo contra adversários polarizadores como Boulos e Marçal.

O avanço inesperado de Marçal e a preocupação da campanha de Nunes

No início da campanha, a equipe de Nunes acreditava que a ausência de um candidato forte da direita, como Ricardo Salles, facilitaria a captação de votos conservadores. A estratégia era evitar gestos explícitos para a direita, assumindo que esses eleitores migrariam para Nunes de forma automática, como ocorreu com Bruno Covas em 2020. No entanto, a entrada de Pablo Marçal no cenário eleitoral mudou essa equação.

A ascensão de Marçal, sem grande estrutura de campanha ou tempo de TV, surpreendeu a todos, especialmente pela sua penetração em áreas periféricas como a Zona Leste de São Paulo. Seu crescimento se deu por meio de vídeos e conteúdos virais nas redes sociais, focados principalmente no público jovem. Essa dinâmica preocupa a equipe de Nunes, que vê em Marçal uma ameaça, sobretudo em regiões tradicionalmente dominadas por candidaturas conservadoras. A rejeição de Marçal entre os eleitores moderados, no entanto, permanece uma barreira, o que impede seu avanço em outros grupos eleitorais.

A campanha de Nunes, diante desse cenário, teve de ajustar sua estratégia, realizando acenos à direita, como a declaração sobre arrependimento em relação ao passaporte vacinal. Essa tentativa de atrair eleitores bolsonaristas que se inclinam para Marçal pode custar apoio no centro, o que se torna um desafio complexo para o prefeito. Além disso, há uma preocupação em como equilibrar esses gestos sem perder a base moderada que o apoia e que se mostra essencial para sua competitividade.

A divisão ideológica do eleitorado paulistano

A cidade de São Paulo reflete uma divisão ideológica que marca as estratégias de campanha dos principais candidatos. Guilherme Boulos é o nome preferido do eleitorado progressista e lulista, especialmente entre eleitores de menor renda e nas periferias. Sua campanha depende fortemente desse bloco para avançar, embora encontre dificuldades em atrair eleitores moderados, que enxergam no PSOL uma força política de confronto com pautas conservadoras.

Por outro lado, Pablo Marçal consolidou-se como o candidato do bolsonarismo na capital paulista, mesmo sem o apoio formal de Jair Bolsonaro. Ele ocupa um espaço à direita que parecia estar disponível para Nunes, forçando o atual prefeito a competir diretamente por esse segmento de eleitores. A rejeição elevada de Marçal, no entanto, pode ser um limitador importante, especialmente se ele não conseguir expandir sua base para além dos bolsonaristas mais fiéis.

Ricardo Nunes, por sua vez, tenta se consolidar como a opção de quem não se encaixa claramente em nenhuma dessas duas categorias ideológicas. Ele tem conseguido atrair tanto eleitores moderados quanto parte dos conservadores, além de aqueles que rejeitam a polarização entre Boulos e Marçal. Esse posicionamento o torna um candidato flexível, capaz de transitar entre blocos eleitorais, mas também o obriga a equilibrar diferentes discursos para não alienar nenhum desses grupos.

Eleitorado indeciso e mudanças de voto

Outro dado relevante da pesquisa é a indecisão que ainda paira sobre grande parte do eleitorado. Na pesquisa espontânea, 46% dos eleitores se declaram indecisos, enquanto 38% afirmam que podem mudar de voto até o dia da eleição. Esse número de eleitores indecisos é um indicativo de que a campanha está longe de ser decidida.

Entre os eleitores de Marçal, 71% afirmam que sua escolha de voto é definitiva, assim como 71% dos eleitores de Boulos. Já entre os eleitores de Nunes, esse percentual é de 57%, o que indica que há espaço para outros candidatos conquistarem mais eleitores, especialmente os indecisos e aqueles que ainda podem mudar de posição.

Com menos de duas semanas para o primeiro turno, a disputa pela Prefeitura de São Paulo permanece aberta. A elevada rejeição de Boulos e Marçal coloca Ricardo Nunes em uma posição relativamente mais confortável, mas o triplo empate técnico aponta que qualquer erro ou movimento mal calculado pode alterar os rumos da campanha.

A capacidade de cada candidato de se posicionar adequadamente diante de um eleitorado fragmentado será crucial. Enquanto Nunes tenta equilibrar seus acenos à direita com a necessidade de manter o apoio moderado, Boulos e Marçal enfrentam o desafio de superar a rejeição crescente e conquistar novos eleitores em meio à polarização. As próximas semanas serão decisivas para definir quem conseguirá passar para o segundo turno e, mais importante, quem terá a chance de liderar São Paulo nos próximos quatro anos.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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