Ataques israelenses atingem o sul e Beqaa, enquanto fontes disseram à imprensa que o exército libanês lutará ao lado do Hezbollah se for invadido
Grandes ataques aéreos israelenses contra áreas residenciais no sul e leste do Líbano mataram ao menos 492 pessoas nesta segunda-feira (23), no que foi descrito como o dia mais sangrento no Líbano em décadas.
Entre os mortos estavam pelo menos 35 crianças, 58 mulheres e dois socorristas, conforme informou o ministro da Saúde do Líbano, acrescentando que mais de 1.645 pessoas ficaram feridas. O ataque gerou comoção e intensificou as tensões já crescentes na região, à medida que o número de vítimas aumentava.
Um dos ataques aéreos no sul de Beirute tinha como alvo Ali Karaki, chefe do comando sul do Hezbollah, que estava no estacionamento de seu prédio, segundo informaram fontes de segurança ao Middle East Eye. Mais tarde, o Hezbollah anunciou que Karaki estava vivo e “foi para um lugar seguro”, apesar do atentado.
Os ataques israelenses ao Líbano, focados em posições do Hezbollah, forçaram dezenas de milhares de pessoas a fugirem em direção ao norte em busca de segurança. O cenário de destruição nas estradas do sul do país, cobertas por ruínas e fumaça, refletiu o caos que tomou conta dos libaneses tentando escapar dos bombardeios. Israel também fez contato com diversas pessoas em todo o país por telefone, ordenando que deixassem suas casas e fugissem das áreas de risco.
Em resposta aos bombardeios israelenses, o Hezbollah disparou uma série de foguetes contra alvos militares no norte de Israel e assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada. Essa retaliação marcou mais uma escalada significativa nas hostilidades, agravando ainda mais o cenário de confronto.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que “dias complicados” estavam por vir e que buscava “mudar o equilíbrio de poder”. Suas declarações intensificaram o clima de incerteza e temor, com fontes de segurança libanesas prevendo uma piora nas condições, embora não esperem uma invasão terrestre israelense, apesar da concentração de tropas perto da fronteira.
“Israel sabe que, se se infiltrar no Líbano, o exército libanês e o Hezbollah terão superioridade militar no terreno”, disse uma fonte ao Middle East Eye, sublinhando o risco de um confronto ainda maior caso essa eventual invasão ocorresse.
Além disso, uma fonte próxima ao Hezbollah afirmou que os ataques israelenses parecem ter o objetivo de deslocar a população do sul do Líbano, em retaliação aos ataques do Hezbollah no norte de Israel, que forçaram evacuações na região. No fim de semana, um ministro israelense chegou a sugerir que a “população inimiga xiita” do sul do Líbano fosse expulsa e que uma zona-tampão fosse criada ao longo da fronteira.
Enquanto os bombardeios atingiam o sul do Líbano, incluindo áreas próximas a grandes cidades como Tiro, moradores de Beirute e do sul relataram que receberam ligações telefônicas instruindo-os a se afastarem de supostos locais do Hezbollah. Alguns residentes de Beirute também relataram ter recebido mensagens de texto de um número libanês desconhecido, ordenando que deixassem suas casas imediatamente.
O ministro da Informação do Líbano, Ziad Makary, descreveu essas ordens como parte de uma “guerra psicológica” conduzida por Israel. De acordo com o chefe da empresa de telecomunicações Ogero, mais de 80.000 tentativas de ligação foram feitas a libaneses instruindo-os a evacuar. Em paralelo, Avichay Adraee, porta-voz de Israel para a mídia árabe, publicou um vídeo animado na plataforma X (anteriormente Twitter), alegando que o povo libanês sabia que havia armas do Hezbollah escondidas em suas casas. A alegação foi feita sem evidências e acompanhada de novos avisos para que os libaneses fugissem.
À tarde, as estradas que saem do sul do Líbano estavam congestionadas com famílias desesperadas tentando se mover para o norte, em busca de segurança. A mídia local relatou cenas caóticas na cidade de Saida, onde estradas foram bloqueadas enquanto moradores corriam para escapar dos bombardeios. O Ministério do Interior do Líbano anunciou que abriu escolas em Beirute, Trípoli e nas partes leste e sul do país como abrigos de emergência, à medida que o “grande deslocamento” de pessoas continuava.
Amal Sabbah, uma residente de Nabatieh, fugiu com sua família para um abrigo nos arredores de Saida. Sua experiência reflete a realidade de milhares de famílias deslocadas que agora tentam se refugiar longe das áreas sob ataque.
O Hezbollah, movimento que surgiu da resistência à ocupação israelense no sul do Líbano entre 1982 e 2000, afirmou que não busca uma guerra em grande escala com Israel, mas está lutando em solidariedade aos palestinos, que também estão sob ataque em Gaza. Uma fonte próxima ao Hezbollah indicou que a organização manterá sua estratégia de resposta proporcional aos ataques israelenses, explicando que “sua escalada corresponderá ao nível de escalada de Israel”. No entanto, o Hezbollah demonstrou alguma flexibilidade recentemente, sugerindo que, se os ataques a Gaza terminarem sem uma trégua de longo prazo, o conflito atual também pode chegar ao fim.
Nas últimas semanas, o conflito entre Israel e o Hezbollah intensificou-se de forma alarmante. Na sexta-feira anterior, um ataque aéreo israelense em um subúrbio densamente povoado no sul de Beirute matou 45 pessoas, incluindo várias crianças e mulheres. O Hezbollah confirmou que 16 de seus membros foram mortos no ataque, incluindo o líder sênior Ibrahim Aqil e o comandante principal Ahmed Wahbi. O ataque ocorreu dias depois de uma série de bombardeios israelenses que detonaram rádios e pagers com armadilhas pertencentes a membros do Hezbollah. Pelo menos 39 pessoas foram mortas nesses ataques, e mais de 3.000 ficaram feridas.
Diante do agravamento da violência, o futuro do conflito entre Israel e o Hezbollah permanece incerto. Fontes de segurança e especialistas alertam que, embora a escalada continue, as chances de uma invasão terrestre total por parte de Israel ainda são improváveis, dado o risco de um confronto devastador com as forças libanesas e o Hezbollah no terreno. Contudo, a contínua retaliação mútua e o aumento das tensões deixam a região em estado de alerta, com as populações civis sofrendo o peso dessa nova onda de violência.
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