Anotações em cadernos encontrados pelas Forças de Segurança mostram o alto custo de produtos básicos dentro do garimpo. Dois frangos chegam a custar R$700 reais dentro de garimpos
Uma operação das forças de segurança do Governo Federal desmantelou acampamentos clandestinos em um garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, revelando o impacto econômico da logística em áreas remotas e os preços exorbitantes pagos pelos trabalhadores ilegais para adquirir itens essenciais no isolamento da floresta.
Entre motores, geradores, antenas Starlink e utensílios de cozinha, o que chamou mais atenção dos agentes foram os cadernos com registros detalhados dos preços de produtos básicos, que ilustram o alto custo de vida para manutenção das atividades criminosas dentro da floresta.
Ouro como moeda de troca: o peso dos preços no garimpo
No garimpo, o ouro extraído pelos trabalhadores é utilizado como moeda de troca. A grama de ouro está cotada em R$ 350 e produtos de primeira necessidade atingem valores impressionantes. Um dos exemplos mais impactantes foi o preço de dois frangos, ao custo de 2 gramas de ouro, o equivalente a R$ 700.
Da mesma forma, um pacote de calabresa é vendido por 3 gramas de ouro, ou seja, R$ 1.050,00. Esses valores, extremamente altos em comparação aos preços urbanos, refletem a realidade dos garimpeiros, que dependem de mercadorias transportadas por rotas aéreas ou fluviais até o interior da Terra Indígena Yanomami.
Outros itens também apresentam preços exorbitantes: um botijão de gás de 13 kg custa R$ 665, enquanto um galão de 50 litros de combustível é vendido por R$ 2.800. Até mesmo alimentos básicos, como três quilos de farinha, chegam a custar 3,6 gramas de ouro, ou seja, R$ 1.260. Além disso, um par de botas de borracha é vendido a 1,5 gramas de ouro (R$525), e um dia de acesso à internet custa 0,5 gramas de ouro, correspondente a R$ 175.
“Esses valores revelam o custo humano e econômico da exploração em áreas remotas. O trabalhador do garimpo não só se submete a condições perigosas e ilegais, mas também enfrenta uma economia inflacionada devido à dificuldade de acesso a bens essenciais”, afirmou Nilton Tubino, diretor da Casa de Governo. A geografia isolada faz com que cada item necessário para a sobrevivência tenha um preço inflacionado, forçando os garimpeiros a usarem grande parte do ouro extraído para adquirir produtos de primeira necessidade.
Além das dificuldades e dos preços exorbitantes dentro do garimpo, os trabalhadores ilegais também enfrentam custos significativos antes mesmo de chegar à Terra Yanomami. O transporte aéreo, por exemplo, é a única maneira de acessar muitos dos garimpos localizados em áreas extremamente remotas. Um voo partindo de Boa Vista, capital de Roraima, até um desses garimpos pode custar até R$ 20 mil.
O ciclo de dívidas no garimpo ilegal
As anotações sobre os preços no garimpo evidenciam o peso financeiro que recai sobre os trabalhadores ilegais da mineração. Muitos entram nesse ambiente com a esperança de ganhos céleres, mas rapidamente se veem presos em um ciclo de dívidas e despesas altíssimas. Enquanto os garimpeiros gastam grande parte de seus lucros em logística e materiais essenciais, como comida e combustível, o maior lucro do garimpo acaba nas mãos do dono ou financiador, que muitas vezes nunca pisou no local. Esses financiadores controlam a operação a distância, acumulando a maior parte dos ganhos.
Operação da PF mira financiadores do garimpo ilegal
No contexto das ações de combate ao garimpo ilegal, o Governo Federal deflagrou mais uma operação. Através da Polícia Federal, a operação Taurus Aureus foi iniciada no dia 3 de setembro e já foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão, além do bloqueio de R$ 834 mil em bens dos investigados. Entre os alvos, destacam-se o responsável pela logística do garimpo e um dos financiadores, que investia o dinheiro da atividade ilegal na compra de gado.
A operação também resultou na apreensão de R$ 60 mil em espécie, cinco armas, quatro veículos e diversas joias. As investigações apontam que o grupo criminoso utilizava uma fazenda como base de apoio para o garimpo, enviando suprimentos como combustível para a região do baixo rio Mucajaí, uma das áreas mais afetadas pela mineração ilegal.
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