O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, manifestou-se sobre a aquisição de 36 veículos blindados da empresa israelense Elbit Systems pelo governo brasileiro.
Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim ressaltou que, embora a escolha não tenha motivações ideológicas, o contexto político de negociar com um país em guerra não pode ser ignorado.
Ele comentou a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que autorizou a continuidade do processo de compra, sem críticas à legalidade, mas alertou para os riscos envolvidos.
Na última quarta-feira, 18, o TCU decidiu, por unanimidade, que não há obstáculos legais para a aquisição dos blindados pela empresa israelense, mesmo diante das acusações de genocídio contra Israel na Faixa de Gaza.
Amorim afirmou: “Não comento decisão do TCU, mas nunca foi colocada em questão a legalidade do processo e nem há nada de ideológico, mas isso também é uma questão política. Você está comprando equipamento sensível de um país acusado de genocídio pela Corte Internacional”.
A compra está avaliada em R$ 1 bilhão e envolve veículos blindados equipados com obuses de longo alcance. Amorim destacou que a operação pode gerar uma dependência tecnológica arriscada, comprometendo a autonomia do Brasil em casos de embargos futuros.
Divergência no governo sobre a aquisição
O debate sobre a compra dos blindados gerou divergências dentro do governo.
O ministro da Defesa, José Múcio, defende a assinatura do contrato com a Elbit Systems, enquanto Amorim busca convencer o presidente Lula a reavaliar o acordo, citando as implicações morais e políticas, além do conflito no Oriente Médio.
Embora Amorim negue qualquer atrito com Múcio, ele admite diferenças de opinião sobre o caso. “Eu não compraria material de país em guerra, qualquer um, é um risco”, disse Amorim.
Impactos para a indústria nacional
Múcio argumenta que a compra dos blindados pode fortalecer a indústria de defesa nacional, com a montagem sendo realizada em subsidiárias da Elbit no Brasil, gerando empregos e inovação.
O Ministério da Defesa também consultou o TCU sobre a possibilidade de contratar a empresa eslovaca Konstrukta, segunda colocada no processo licitatório.
Contudo, essa alternativa também apresenta desafios, já que os blindados oferecidos pela Konstrukta são usados atualmente pela Ucrânia na guerra contra a Rússia.
O presidente Lula ainda não tomou uma decisão final sobre a compra, mas pessoas próximas ao governo indicam que um desfecho pode depender de um cessar-fogo no Oriente Médio, o que poderia ampliar as opções políticas do Brasil. A Elbit Systems, por sua vez, aguarda a decisão do governo e reafirma seu compromisso com a negociação.
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