Quaest: “cadeirada” prejudica Marçal e segundo turno entre Boulos e Nunes ganha força

Guilherme Boulos e Ricardo Nunes. Fotos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados e Rovena Rosa/Agência Brasil

A mais recente pesquisa da Quaest revela que o incidente no debate da TV Cultura mexeu com as intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo.


A mais recente pesquisa da Quaest, divulgada nesta quarta-feira (18), revelou impactos significativos na corrida pela Prefeitura de São Paulo após o polêmico episódio da “cadeirada” no debate da TV Cultura, ocorrido no domingo (15). O candidato Pablo Marçal (PRTB), que vinha apresentando crescimento constante nas pesquisas, registrou uma queda de 3 pontos percentuais, passando de 23% para 20% das intenções de voto. Enquanto isso, José Luiz Datena (PSDB), autor da “cadeirada”, cresceu 2 pontos percentuais, indo de 8% para 10%.

Marçal em declínio após incidente no debate

Pablo Marçal vinha em uma trajetória ascendente desde junho, quando tinha 11% das intenções de voto. Nas pesquisas seguintes, continuou crescendo: 13% em julho, 19% em agosto e atingindo 23% em 11 de setembro. Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, “se a tendência apresentada nas pesquisas anteriores tivesse continuado, o esperado era que Marçal aparecesse com 26 pontos percentuais, mas ele aparece com 20”. Isso indica uma reversão significativa na sua trajetória.

A pesquisa captou o impacto do incidente em dois dos três dias de entrevistas realizadas entre 15 e 17 de setembro. A queda de Marçal ocorre em um momento crucial da campanha, e sua taxa de eleitores que consideram o voto definitivo também caiu de 66% para 60%. Isso sugere uma fragilização da sua base de apoio, com 39% dos seus eleitores admitindo que podem mudar de voto.

Datena ganha espaço mesmo após polêmica

José Luiz Datena, que vinha em tendência de queda desde julho (quando tinha 19%), registrou crescimento pela primeira vez em duas pesquisas consecutivas, passando de 8% para 10%. Apesar de ser o autor da “cadeirada”, o aumento nas intenções de voto sugere que parte do eleitorado interpretou sua reação como uma demonstração de firmeza. Datena também viu sua rejeição diminuir, embora continue sendo o candidato mais rejeitado, com 57%.

Segundo turno entre Boulos e Nunes se desenha

Guilherme Boulos (PSOL) oscilou positivamente, passando de 21% para 23%, enquanto Ricardo Nunes (MDB) manteve-se estável com 24%. Com Marçal em queda, o cenário de um segundo turno entre Boulos e Nunes ganha força. Nas simulações de segundo turno:

  • Nunes x Boulos: Nunes teria 46% (oscilou 2 pontos para baixo) e Boulos 35% (oscilou 2 pontos para cima), reduzindo a diferença entre eles.
  • Nunes x Marçal: Nunes lidera com 47% (caiu de 50%) contra 27% de Marçal (caiu de 30%).
  • Boulos x Marçal: Boulos aparece com 42% (subiu de 40%) e Marçal com 36% (caiu de 39%), indicando um empate técnico no limite da margem de erro.

Esses números indicam que, se Marçal continuar em declínio, a disputa no segundo turno deve se concentrar entre Nunes e Boulos.

Boulos precisa liderar no primeiro turno para aumentar chances no segundo

Analistas políticos apontam que Boulos não pode se contentar apenas em chegar ao segundo turno; ele precisa terminar o primeiro turno à frente de Nunes para ter chances reais de vitória. Em uma eleição tão disputada, começar o segundo turno liderando é crucial. A história política brasileira mostra que viradas no segundo turno são raras e, muitas vezes, impossíveis. Portanto, Boulos precisa intensificar sua campanha e ampliar seu eleitorado, especialmente entre os mais pobres, onde tem dificuldade de penetração.

Ricardo Nunes mantém estabilidade e liderança

Ricardo Nunes continua sólido na liderança, especialmente entre os eleitores de baixa renda e do eleitorado feminino. Sua estratégia de manter uma imagem moderada e equilibrada parece estar rendendo frutos. Além disso, o apoio de líderes religiosos tem fortalecido sua base eleitoral.

O episódio da “cadeirada” trouxe novas dinâmicas para a corrida eleitoral em São Paulo. Enquanto Marçal enfrenta desafios para recuperar sua imagem, Datena aproveita um momento de crescimento. Boulos e Nunes se posicionam como os principais concorrentes, com a possibilidade de um segundo turno cada vez mais clara entre os dois. As próximas pesquisas serão decisivas para confirmar essas tendências e indicar como os candidatos devem ajustar suas estratégias na reta final do primeiro turno.

Decisão de voto

  • Eleitorado geral:
    • Escolha definitiva: 54% (caiu 1 ponto)
    • Pode mudar de escolha: 45% (mesmo percentual)
  • Entre eleitores de Nunes:
    • Escolha definitiva: 51% (caiu 2 pontos)
    • Pode mudar: 49% (subiu 2 pontos)
  • Entre eleitores de Boulos:
    • Escolha definitiva: 65% (subiu 2 pontos)
    • Pode mudar: 35% (caiu 2 pontos)
  • Entre eleitores de Marçal:
    • Escolha definitiva: 60% (caiu 6 pontos)
    • Pode mudar: 39% (subiu 5 pontos)

Esses dados mostram que a base de eleitores de Marçal é a que mais se tornou volátil após o incidente, enquanto a de Boulos se solidificou.

Análise por segmentos

  • Gênero:
    • Homens: Marçal sofreu queda significativa, passando de 31% para 25% entre eleitores masculinos.
    • Mulheres: Ricardo Nunes mantém crescimento consistente, chegando a 25% das intenções de voto nesse segmento.
  • Religião:
    • Católicos: Boulos cresceu de 20% para 26%, empatando tecnicamente com Nunes.
    • Evangélicos: Marçal liderava com 31%, mas caiu para 29%, interrompendo sua tendência de alta.
  • Renda:
    • Até 3 salários mínimos: Nunes mantém liderança com 28%, Boulos oscila dentro da margem de erro e Marçal estagnou.
    • Entre 3 e 7 salários mínimos: Marçal caiu 7 pontos, de 31% para 24%. Datena cresceu de 6% para 10% nesse grupo.
    • Acima de 7 salários mínimos: Marçal perdeu 7 pontos, passando de 29% para 22%.

Sentimentos do eleitorado

Quando questionados sobre seus sentimentos em relação à eleição:

  • Esperança: 25%
  • Desânimo: 19%
  • Vergonha: 19%
  • Medo: 12%
  • Ansiedade: 8%
  • Otimismo: 6%
  • Orgulho: 4%
  • Indiferença (nada sente): 7%

Os dados indicam que sentimentos negativos como desânimo e vergonha estão empatados tecnicamente com a esperança, refletindo um clima de insatisfação e apatia entre os eleitores. Essas dados explicam em partes o motivo da estagnação e do “cansaço” do eleitorado com o coach e ex-membro de quadrilha. Já que a retórica de Marçal instiga sentimentos de revolta e inconformismo, no último Debate da Rede TV/UOL, ocorrido nesta terça-feira (17), ele chegou a afirmar que dia 6 de outubro (dia das eleições) seria o dia da vingança, depois ao final, disse que faria parte de uma revolução do povo.

O episódio da “cadeirada” teve um impacto significativo na corrida eleitoral em São Paulo. Pablo Marçal, que vinha crescendo e ameaçava consolidar-se como um dos favoritos, agora enfrenta uma tendência de queda que, se mantida, pode excluí-lo do segundo turno. José Luiz Datena, apesar de protagonista do incidente, conseguiu reverter sua tendência de queda e pode influenciar ainda mais o cenário eleitoral.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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