Kamala Harris admite que o apoio dos homens negros, um eleitorado essencial para os democratas, ainda precisa ser conquistado antes das eleições de novembro
Kamala Harris reconheceu que precisa intensificar seus esforços para conquistar o voto de eleitores negros do sexo masculino, em meio a preocupações de que esse grupo, antes confiável para os democratas, possa estar se voltando para Donald Trump.
Segundo o Financial Times, Harris enfatizou que nunca presumiu que os homens negros votariam nela “simplesmente porque sou negra”, mas que está “trabalhando para conquistar o voto deles” antes da eleição presidencial de novembro. “Acho muito importante não agir sob a suposição de que os homens negros já estão comprometidos com algum partido. Eles, como qualquer outro grupo de eleitores, têm suas próprias demandas”, afirmou Harris durante uma entrevista organizada pela National Association of Black Journalists (NABJ), na Filadélfia, nesta terça-feira (17).
A vice-presidente também aproveitou a ocasião para intensificar suas críticas às falas de Donald Trump, relembrando sua teoria da conspiração “birther” sobre Barack Obama e suas recentes alegações de que imigrantes estariam “roubando e comendo animais de estimação”. “É exaustivo, prejudicial e odioso, baseado em ideias retrógradas que não devemos tolerar”, disse Harris.
Os comentários de Harris vieram enquanto ela e Trump disputam o apoio dos eleitores negros nos EUA. “Kamala Harris admitiu hoje que falhou com os negros americanos”, declarou Janiyah Thomas, diretora de mídia da campanha de Trump, após a entrevista. “Ela disse à NABJ que, depois de três anos e meio de suas políticas fracassadas, o custo de vida está insustentável e o sonho americano está fora de alcance para muitos jovens.”
Embora o entusiasmo dos eleitores negros tenha aumentado desde que Harris foi indicada como vice de Joe Biden, ainda há dúvidas sobre sua capacidade de conquistar o apoio dos homens negros, especialmente em estados-chave como Geórgia e Carolina do Norte. Uma pesquisa recente da NAACP mostrou que um em cada quatro homens negros planeja votar em Trump. Além disso, uma pesquisa do NYT/Siena revelou que 17% de todos os eleitores negros apoiam Trump, com 9% ainda indecisos.
Durante o evento, Harris adotou um tom mais sério em comparação à polêmica entrevista de Trump na convenção de jornalistas negros em Chicago, em julho, onde ele foi vaiado ao questionar a identidade racial de Harris e ao se declarar “o melhor presidente para os negros desde Abraham Lincoln”. Trump chegou a afirmar que Harris era “índia de corpo e alma” e depois “se tornou negra”, provocando mais reações negativas.
Apesar da recepção um tanto contida na Filadélfia, com alguns aplausos discretos, Harris foi pressionada por moderadores de veículos como NPR, Politico e theGrio, que buscaram respostas mais diretas sobre questões como a guerra entre Israel e Hamas e a violência armada.
Harris também criticou Trump por espalhar teorias da conspiração sobre migrantes haitianos em Ohio e afirmou que ele “não deveria mais ter um microfone”. “Isso precisa acabar. Não podemos permitir que alguém comande os Estados Unidos enquanto promove uma retórica de ódio destinada a nos dividir”, declarou.
Em relação à política interna, Harris destacou sua proposta de limitar os custos de cuidados infantis para famílias trabalhadoras a 7% da renda familiar, reafirmando seu foco em aliviar o custo de vida. Ela também mencionou que entrou em contato com Trump após uma tentativa de atentado contra sua vida no fim de semana, reforçando que “não há espaço para violência política nos EUA”. A vice-presidente afirmou ainda que confia plenamente no Serviço Secreto para garantir sua segurança: “Eu me sinto segura”, concluiu.