Analistas revelam como as explosões contra membros do Hezbollah expõem o potencial das cadeias de suprimentos como armas
As explosões de pagers no Líbano, que causaram mortes, podem levar a um aumento da cautela na China quanto ao uso de produtos eletrônicos como armas, afirmam analistas ouvidos pelo South China Morning Post.
Nesta terça-feira (17), pagers explodiram simultaneamente em várias regiões do Líbano e da Síria, deixando milhares de feridos e resultando em 12 mortes, incluindo duas crianças. Entre os feridos estavam combatentes do Hezbollah e o embaixador do Irã no Líbano.
O Hezbollah prometeu retaliação contra Israel pelo ataque, enquanto o Irã condenou o que chamou de “terrorismo israelense”. O Hamas, por sua vez, classificou as explosões como uma “escalada”, afirmando que isso só levaria Israel ao “fracasso e derrota”.
De acordo com uma reportagem do New York Times, citando autoridades americanas e de outros países, Israel teria escondido explosivos em pagers fabricados pela empresa taiwanesa Gold Apollo, antes que fossem importados para o Líbano. O explosivo foi colocado perto da bateria, com um interruptor embutido que poderia ser acionado remotamente.
A Reuters informou que cerca de 5.000 pagers foram encomendados da Gold Apollo e distribuídos entre os membros do Hezbollah. Segundo o New York Times, os pagers receberam uma mensagem, aparentemente vinda da liderança do Hezbollah, que teria desencadeado as explosões.
Outros relatos sugerem que a operação foi uma colaboração entre o serviço de inteligência de Israel e suas forças militares. Os pagers teriam sido adquiridos pelo Hezbollah após seu líder ter limitado o uso de telefones celulares, alertando que poderiam ser vulneráveis à vigilância israelense.
A Gold Apollo negou ter fabricado os pagers envolvidos nas explosões, afirmando que eles foram produzidos por uma empresa chamada BAC, baseada na Hungria, e licenciada para usar sua marca.
“Nós apenas fornecemos a autorização de marca registrada e não temos envolvimento no design ou fabricação deste produto”, declarou a empresa. Hsu Ching-kuang, fundador da Gold Apollo, mencionou à imprensa que está considerando tomar medidas legais contra a BAC.
Muhammad Faizal Abdul Rahman, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S Rajaratnam, em Cingapura, comentou que as explosões mostram que “Israel tem a capacidade de usar meios digitais e conexões secretas nas cadeias de suprimentos globais para atacar profundamente os redutos de seus adversários”. Ele também destacou que a China pode começar a ver com mais suspeita produtos eletrônicos fabricados pelos EUA e seus aliados, incluindo Taiwan.
“A China pode lançar um olhar ainda mais cauteloso sobre indústrias taiwanesas, considerando a estreita aliança entre Taiwan e os EUA”, afirmou.
Dov Levin, professor associado de relações internacionais da Universidade de Hong Kong, afirmou que o uso de explosivos escondidos nos pagers lembra táticas usadas por Israel no passado, como no caso da morte de Yahya Ayyash, fabricante de bombas do Hamas nos anos 1990. No entanto, desta vez, foi em uma escala maior.
Francesco Mancini, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Cingapura, expressou preocupação com a transformação de dispositivos comuns em armas, chamando isso de “extremamente preocupante”, não apenas para a China, mas para todos os países. Ele disse que esse tipo de operação revela o investimento de Israel em capacidades de guerra tecnológica e pode levar outros países, como China e EUA, a considerarem o desenvolvimento dessa tecnologia.
Tang Wei, diretor de marketing de uma empresa de software antivírus da China, comentou que as baterias dos pagers podem ter sido manipuladas para superaquecer remotamente, utilizando uma técnica de soldagem ultrassônica. Ele sugeriu que o risco de explosões em dispositivos como lanternas ou faróis de alta intensidade poderia ser maior, pois podem ser adulterados para incluir cartões SIM para controle remoto.
Por fim, Wei Dongxu, analista militar chinês, disse à CCTV que os pagers provavelmente foram adulterados antes de serem distribuídos, e alertou que, se o Hezbollah determinar que Israel está por trás do ataque, o conflito entre Líbano e Israel pode se intensificar ainda mais.