Israel alega que foi um acidente em meio a uma revolta, mas testemunhas contam uma história diferente.
O corpo de Aysenur Ezgi Eygi, de 26 anos, foi repatriado para a Turquia, onde será enterrado em sua cidade natal, Didim.
A ativista turco-americana foi morta por tropas israelenses na última sexta-feira durante um protesto contra assentamentos israelenses ilegais. Israel afirmou que a morte de Aysenur foi acidental, ocorrida durante uma manifestação em Beita, perto de Nablus, na Cisjordânia ocupada, mas há crescentes evidências que contradizem essa versão, com testemunhas alegando que os soldados israelenses a alvejaram de forma deliberada.
Após uma investigação preliminar, o exército israelense declarou que era “altamente provável que [ela] tenha sido atingida” por seus soldados, afirmando que o tiro foi “indireto e não intencional”.
Quem foi Aysenur?
Aysenur era integrante do Movimento de Solidariedade Internacional (ISM), grupo que há anos protesta contra a ocupação israelense da Palestina e o tratamento imposto aos palestinos. Ela chegou à Cisjordânia ocupada poucos dias antes de sua morte para um treinamento com outros voluntários, e foi designada para um protesto ao lado de ativistas palestinos, israelenses e internacionais.
Seus amigos a descrevem como uma mulher calorosa, com grandes aspirações, incluindo estudar direito. Desde cedo, Aysenur acreditava ser importante protestar pelos direitos das pessoas oprimidas.
O que aconteceu naquele dia?
Na sexta-feira, 6 de setembro, o grupo realizou suas orações comunitárias do meio-dia. Logo após, soldados israelenses cercaram os manifestantes e começaram a atirar e usar gás lacrimogêneo, enquanto os manifestantes respondiam com pedras. Aysenur e outros voluntários recuaram cerca de 200 metros colina abaixo, tentando se abrigar.
Testemunhas relataram que, enquanto se escondiam, quatro soldados israelenses se posicionaram no telhado de uma casa local, observando os manifestantes. Cerca de 20 minutos depois, dois tiros foram disparados. Aysenur foi atingida e encontrada de bruços, baleada na cabeça.
Um jovem palestino, de aproximadamente 17 anos, estava a cerca de 18 metros de Aysenur e foi ferido pelo outro tiro, que ricocheteou em sua perna. “Eu a encontrei caída no chão… sangrando na cabeça”, relatou o ativista Jonathan Pollak, que encontrou Aysenur.
Às 13h49, um vídeo mostra Aysenur cercada por paramédicos antes de ser colocada em uma ambulância, mas ela foi declarada morta pouco depois.
O que as testemunhas disseram?
Nenhum dos ativistas entrevistados relatou a existência de um motim, e as imagens do protesto também não mostram violência por parte dos manifestantes. Uma declaração do ISM refutou as alegações israelenses de que houve distúrbios físicos antes da morte de Aysenur. A ativista Mariam Dag, usando um pseudônimo, afirmou: “Estávamos protestando pacificamente contra a colonização das terras palestinas e o assentamento ilegal de Evyatar.”
Outro ativista, usando o pseudônimo de Mariam, relatou que estava a cerca de 10 a 20 metros de Aysenur no momento do tiroteio e que o exército estava claramente visível, posicionado em uma rua e em um telhado. “Foi um tiro deliberado para matar, na cabeça dela”, disse Mariam.
O que Israel disse?
Quatro dias após a morte de Aysenur, o exército israelense afirmou que ela foi morta durante uma tentativa de seus soldados de conter um tumulto. A declaração diz que “é altamente provável que ela tenha sido atingida indiretamente e sem intenção” por disparos direcionados ao “principal instigador do motim”.
Israel ainda não apresentou evidências que comprovem suas alegações.
O que o governo turco disse?
A Turquia iniciou uma investigação sobre o assassinato de Aysenur e afirmou que buscará mandados de prisão internacionais para os responsáveis. O Ministério das Relações Exteriores da Turquia declarou que Aysenur foi “deliberadamente alvejada e morta por soldados israelenses durante uma manifestação pacífica”.
O que o governo dos EUA disse?
Os Estados Unidos expressaram estar “profundamente perturbados” com a morte de Aysenur, cidadã americana. No entanto, decidiram não conduzir sua própria investigação, como solicitado pelos pais de Aysenur, e pediram que Israel investigasse o tiroteio realizado por seus próprios soldados.
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