Uma equipe de cientistas chineses desenvolveu um método inovador para detectar objetos furtivos no radar.
Um experimento de radar sem precedentes conduzido por cientistas chineses no Mar do Sul da China pode revolucionar o futuro da guerra. Usando um drone DJI Phantom 4 Pro – do tamanho de um pássaro e com uma seção radar comparável à de um caça furtivo – a equipe lançou o aparelho na costa de Guangdong. O radar terrestre não emitiu ondas de rádio para gerar um eco, mas o alvo apareceu na tela.
Isso ocorreu porque o drone foi iluminado por radiações eletromagnéticas emitidas por um satélite Starlink sobrevoando as Filipinas, segundo os cientistas. Nenhum outro país havia demonstrado essa capacidade antes.
Aeronaves furtivas, como o F-22 dos EUA, reduzem a reflexão de ondas eletromagnéticas por meio de formas geométricas e revestimentos absorventes, enganando radares. No entanto, se uma estação de radar puder usar os sinais dos satélites Starlink – que são fortes e quase onipresentes – suas capacidades de detecção podem ser “independentes da forma tridimensional e do material da superfície do alvo”, escreveu a equipe de pesquisa liderada pelo professor Yi Jianxin, da escola de informação eletrônica da Universidade de Wuhan, em um artigo publicado em 26 de agosto no Journal of Signal Processing.
Isso proporcionará “vantagens significativas na detecção de alvos pequenos e furtivos”, disseram os pesquisadores. Além disso, radares militares convencionais revelam sua localização ao operar, tornando-se alvos potenciais para os inimigos.
“Usando fontes de radiação de terceiros, os sistemas de radar podem ter capacidades aprimoradas de ocultação e resistência a interferências”, escreveram Yi e seus colegas.
O experimento foi supervisionado pelo Centro Estatal de Monitoramento de Rádio do governo chinês, e os resultados foram revisados por pares antes da publicação.
Quando uma aeronave passa pelo espaço entre satélites de comunicação e antenas terrestres, ela pode dispersar algumas das ondas eletromagnéticas emitidas pelos satélites.
Essas ondas, conhecidas como dispersão para frente, podem interferir nos sinais normais de comunicação. Cientistas podem analisar essas pequenas interferências para identificar e rastrear um alvo de interesse.
A ideia de usar a dispersão para frente para detectar drones foi inicialmente proposta por cientistas russos em uma conferência acadêmica internacional em 2015, mas o Starlink não existia naquela época.
Atualmente, essa enorme constelação criada pela SpaceX conta com mais de 6.000 satélites, emitindo constantemente sinais de rádio de alta frequência para suportar conexões de internet de até 220 Mbps. Esse complexo ambiente eletromagnético não foi considerado no design dos caças furtivos atuais, desenvolvidos há várias décadas.
O Starlink coopera estreitamente com o exército dos EUA e desempenhou um papel importante no conflito entre Rússia e Ucrânia. Pesquisadores militares chineses estão desenvolvendo tecnologias para destruir o Starlink, se necessário.
No entanto, algumas equipes estão estudando como usar o Starlink contra o exército dos EUA. “Os sinais de satélites de baixa órbita têm as vantagens de [serem] operacionais em qualquer clima, em várias regiões e de baixo custo, o que pode ser perfeitamente combinado com radares de dispersão para frente”, escreveu a equipe de Yi.
Os sinais do Starlink são criptografados, e o fundador da SpaceX, Elon Musk, não fornece serviços para usuários chineses. No entanto, a equipe de Yi afirma que pode construir um receptor Starlink usando componentes baratos facilmente encontrados no mercado de eletrônicos.
A antena é fixada em uma base giratória, permitindo rastrear o satélite à medida que ele se move pelo céu.
Antes deste estudo, cientistas já usavam sinais de rádio FM, televisão digital e até radares militares hostis para detectar grandes alvos, como aviões comerciais e navios de carga. No entanto, a detecção de alvos pequenos ou furtivos é muito mais desafiadora.
Yi e seus colegas revisaram o modelo de detecção por dispersão para frente com base em um entendimento mais profundo dos mecanismos físicos fundamentais e desenvolveram um novo algoritmo. Eles também utilizaram um chip de alto desempenho não divulgado para processar os sinais recebidos.
Atualmente, a antena do radar tem o tamanho de uma frigideira, e os drones do experimento voaram a baixas altitudes. Portanto, a tecnologia apresentada no artigo ainda não pode ser aplicada diretamente em uso militar.
Mas a equipe de Yi afirma que conseguiu detectar sinais que correspondem a detalhes como o movimento dos rotores dos drones, confirmando a “viabilidade e eficácia” do método e do sistema projetado para aplicações contra drones e caças furtivos.
A China usa várias técnicas para detectar aeronaves furtivas, a fim de melhorar suas capacidades de negação regional. Essas técnicas incluem o uso de constelações de satélites de observação da Terra para identificar e rastrear automaticamente caças furtivos dos EUA, além de radares além do horizonte que emitem sinais de detecção de ondas longas, impossíveis de serem absorvidos pelos revestimentos furtivos.
Para prevenir a intervenção militar dos EUA no Mar do Sul da China e em Taiwan, as forças chinesas também instalaram radares anti-furtivos avançados em muitos navios de guerra, formando uma rede de guerra eletrônica, segundo relatórios da mídia estatal.
Com informações do South China Morning Post*
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