Quaest, Datafolha e Atlas apontam para a mesma direção

Nomes evangélicos são os mais recorrentes nas urnas, mostra pesquisa / Fernando Frazão / Agência Brasil

Alvo de críticas, muitas pessoas tendem a olhar apenas para o resultado macro das pesquisas, quando o que realmente importa são as tendências reveladas nelas e nisso todas as pesquisas foram na mesma direção.


As três pesquisas eleitorais divulgadas nesta semana sobre as intenções de voto para a prefeitura de São Paulo geraram discussões acaloradas nas redes sociais. As pesquisas realizadas pelo Atlas, Datafolha e Quaest apresentaram resultados com algumas variações, o que trouxe críticas de eleitores e analistas políticos. No entanto, é essencial compreender que cada uma dessas pesquisas captura tendências de acordo com metodologias distintas e em períodos diferentes, e que todas, de maneira geral, refletem alguns movimentos importantes no comportamento do eleitorado.

Primeiramente, é importante ressaltar que pesquisas eleitorais não são ferramentas capazes de prever o futuro com precisão. Elas não são um retrato exato do que ocorrerá nas urnas, mas sim um indicativo de tendências e comportamentos do eleitorado naquele momento. Para campanhas, são guias que ajudam a definir ajustes estratégicos e a identificar quais grupos precisam ser melhor trabalhados. As três pesquisas captaram algumas tendências consistentes, especialmente em relação a Guilherme Boulos e Ricardo Nunes.

O desempenho de Guilherme Boulos e a base lulista

Um ponto comum observado nas três pesquisas é a dificuldade de Guilherme Boulos em penetrar de forma eficaz no eleitorado mais tradicionalmente ligado ao ex-presidente Lula, composto em grande parte por eleitores mais velhos, de menor escolaridade e menor renda. Esse é um segmento crucial em São Paulo, e Boulos, até o momento, não conseguiu estabelecer uma conexão robusta com esses eleitores. Em contrapartida, Ricardo Nunes tem obtido sucesso nesse campo, conseguindo, com sua experiência administrativa, se comunicar de maneira eficaz com essa base.

Boulos enfrenta o desafio de ampliar seu apelo para além de seu eleitorado fiel. Ele tem um bom desempenho entre os que negativamente avaliam a administração de Nunes, mas não tem conseguido traduzir isso em crescimento suficiente entre eleitores mais amplos, especialmente os de perfil “lulista”, onde Nunes tem se consolidado. Um erro estratégico da campanha de Boulos, segundo as análises, pode ser o subaproveitamento de figuras de peso como Marta Suplicy, que poderia ampliar sua influência entre esse público mais periférico e de menor renda.

A estagnação de Pablo Marçal

Outro ponto captado nas três pesquisas é o movimento de estagnação de Pablo Marçal. Embora ele tenha apresentado crescimento expressivo entre os jovens frustrados com a política tradicional, as pesquisas mais recentes indicam que ele não tem avançado nesse grupo com a mesma intensidade. Os jovens, que têm sido um grupo mais volátil e menos fiel a um único candidato, mostram-se abertos a mudanças e podem, eventualmente, migrar para outras opções. Marçal terá que trabalhar para reativar esse entusiasmo, caso queira recuperar o terreno perdido.

A aproximação do eleitorado bolsonarista com Ricardo Nunes

Uma tendência clara que também se repete nas três pesquisas é a aproximação de parte do eleitorado bolsonarista com Ricardo Nunes. Esse movimento indica que Nunes tem conseguido captar eleitores conservadores que antes estavam dispersos ou indecisos. Esse segmento é importante para o prefeito consolidar seu desempenho, especialmente considerando a fragmentação natural desse grupo em São Paulo.

Diferenças metodológicas entre as pesquisas

Outro ponto a ser considerado quando se analisam os resultados dessas pesquisas é a diferença metodológica entre elas, que pode explicar as variações observadas. O Datafolha realiza suas coletas em pontos de grande circulação de pessoas, onde os entrevistadores abordam eleitores diretamente. Esse método, embora eficiente, pode deixar de fora alguns perfis que não estão presentes nesses locais.

A Quaest opta por uma coleta domiciliar, com entrevistadores indo de porta em porta. Essa abordagem tende a capturar uma amostra mais diversa da população, incluindo pessoas que não frequentam locais de grande fluxo.

Já a Atlas utiliza uma metodologia digital, coletando respostas online por meio de uma seleção randomizada. Embora esse método atinja eleitores conectados à internet, ele também pode ter limitações ao deixar de fora grupos que têm menor acesso ou familiaridade com o ambiente digital.

Essas diferenças de metodologia, aliadas aos períodos distintos de coleta, ajudam a entender por que os resultados podem apresentar variações. O importante, no entanto, é que, independentemente do método, as três pesquisas captam tendências similares e oferecem um panorama consistente do comportamento do eleitorado.

O papel das pesquisas na campanha

As pesquisas desta semana não entregam um cenário definitivo nem servem como uma previsão do futuro. Elas são, no entanto, ferramentas valiosas para captar tendências e ajudar as campanhas a entender como o eleitorado está se comportando. Em vez de prever o resultado final, essas pesquisas mostram quais grupos estão se movimentando e de que maneira, permitindo que as campanhas ajustem suas estratégias de comunicação e abordagem.

No caso de Boulos, fica evidente que sua campanha precisa encontrar uma forma mais eficaz de dialogar com eleitores de perfil mais tradicional, como os de menor renda e escolaridade, um grupo que hoje está mais alinhado a Ricardo Nunes. Já o atual prefeito precisa consolidar sua base entre aqueles que o avaliam positivamente e buscar formas de se comunicar melhor com os grupos que ainda estão voláteis, especialmente os bolsonaristas e aqueles que veem sua gestão como regular.

Pablo Marçal, por sua vez, terá que reavaliar suas estratégias para captar novamente o entusiasmo dos eleitores jovens, que se mostram menos engajados do que antes. Esse grupo, sendo altamente volátil, pode ainda ser decisivo na eleição, e campanhas que souberem lidar com essa volatilidade estarão em vantagem.

As pesquisas, portanto, oferecem um panorama importante para entender o comportamento atual do eleitor, mas não fecham o jogo. Elas orientam as campanhas sobre quais grupos de eleitores estão abertos a serem conquistados e quais estratégias podem funcionar melhor para atingir esses segmentos. É nesse sentido que as pesquisas eleitorais se tornam uma ferramenta essencial, ajudando a traçar caminhos e a definir ajustes de rota ao longo da campanha.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.