Pesquisa Quaest revela que a campanha de Guilherme Boulos enfrenta dificuldades para gerar o mesmo nível de engajamento de 2020, enquanto Ricardo Nunes consolida apoio entre eleitores de baixa renda e Pablo Marçal cresce com força nas redes sociais.
A nova pesquisa Quaest para a eleição municipal de São Paulo mostra um cenário que reflete não apenas a ascensão de Ricardo Nunes e Pablo Marçal, mas também um desgaste evidente na candidatura de Guilherme Boulos. Segundo dados coletados, Nunes se beneficia de uma crescente aceitação em segmentos de eleitores que tradicionalmente votaram em candidatos do PT, enquanto Boulos enfrenta dificuldades em manter o nível de empolgação de sua campanha anterior.
O desgaste da candidatura de Boulos
Uma fonte interna da campanha de Ricardo Nunes trouxe à tona uma observação crucial: nas eleições de 2020, a base eleitoral de Boulos era marcada por um alto nível de engajamento e entusiasmo. A sensação era de que havia uma mobilização espontânea e vibrante em torno de sua candidatura, especialmente entre jovens e eleitores de esquerda. No entanto, em 2024, os trackings e pesquisas internas não refletem o mesmo nível de envolvimento. Essa mudança levanta a hipótese de que ou a campanha de Boulos não conseguiu ativar o mesmo engajamento ou que o “modelo” de candidatura adotado por ele está se mostrando esgotado aos olhos de parte de seu eleitorado.
Esse cansaço percebido pode estar diretamente relacionado à perda de apoio entre eleitores jovens, um segmento que sempre foi central para o sucesso de Boulos. Com a força digital de Pablo Marçal, que conseguiu capturar grande parte do eleitorado bolsonarista e dos jovens que se informam por redes sociais, Boulos viu seu principal público-alvo começar a migrar. A pesquisa Quaest aponta que, entre os eleitores de 16 a 34 anos, Marçal já está à frente de Boulos, refletindo uma inversão preocupante para a campanha do candidato do PSOL.
O avanço de Ricardo Nunes e a força da TV
Ricardo Nunes, por sua vez, consolidou-se como um dos principais candidatos, beneficiando-se do maior tempo de televisão entre todos os concorrentes. O impacto da TV nas eleições municipais se mostrou essencial para que Nunes pudesse reduzir seu nível de desconhecimento e apresentar suas realizações como prefeito. A pesquisa aponta que Nunes está crescendo especialmente entre os eleitores de baixa renda, um grupo historicamente associado ao PT. Entre os beneficiários do Bolsa Família, por exemplo, Nunes tem conseguido se destacar, superando concorrentes que, em tese, deveriam ser mais alinhados a esse eleitorado.
Nunes também está utilizando uma estratégia de “voto útil” em sua campanha, sugerindo que, se ele não for ao segundo turno, a prefeitura poderá cair nas mãos de Pablo Marçal ou Guilherme Boulos, dois candidatos que representam campos políticos opostos ao seu. Essa estratégia tem como base o fato de que Marçal apresenta um crescimento na rejeição, o que pode ser explorado por Nunes como um argumento para atrair eleitores que temem uma polarização com Boulos.
Pablo Marçal: o candidato das redes sociais
Enquanto Nunes se apoia na televisão, Pablo Marçal segue firme como o candidato que melhor utiliza as redes sociais. Sua base de apoio está concentrada em eleitores que se informam principalmente por meios digitais, e ele conseguiu capitalizar o apoio dos eleitores bolsonaristas, especialmente entre homens e evangélicos. A campanha de Marçal conseguiu conquistar 31% das intenções de voto entre aqueles que se informam via redes sociais, um avanço que tem preocupado seus concorrentes.
Apesar de Marçal enfrentar um aumento na rejeição, seu crescimento entre eleitores jovens e nas faixas mais economicamente ativas o coloca como uma força relevante na corrida eleitoral. Sua capacidade de engajamento nas plataformas digitais e seu discurso alinhado com o bolsonarismo o consolidam como uma alternativa viável para esse grupo de eleitores que se afastou da política tradicional.
Desafios para a campanha de Boulos
A estagnação de Boulos nas pesquisas e a perda de entusiasmo entre seus eleitores mais jovens sugerem que a campanha precisará de ajustes urgentes. Um ponto levantado por analistas é a falta de uma figura de peso político local que possa agregar credibilidade e apelo à candidatura. A ex-prefeita Marta Suplicy, por exemplo, é vista como um trunfo que a campanha de Boulos ainda não utilizou plenamente, mas que poderia fazer a diferença na reconquista de eleitores das periferias.
Além disso, será necessário um esforço maior para se comunicar com os eleitores de menor renda e escolaridade, que hoje se mostram mais inclinados a apoiar Nunes. A estratégia de Boulos também precisa incluir um ajuste em seu discurso nas redes sociais, que, embora tenha funcionado em 2020, parece não estar conseguindo competir com a estrutura digital montada por Marçal.
A análise dos dados da pesquisa Quaest deixa claro que Guilherme Boulos está perdendo espaço entre seus eleitores potenciais, especialmente os jovens e eleitores de maior escolaridade, que antes eram a base sólida de sua candidatura. Enquanto isso, Ricardo Nunes e Pablo Marçal são os principais responsáveis por corroer essa base de apoio.
Nunes, com sua estratégia focada na televisão e na conquista do eleitorado de baixa renda, tradicionalmente lulista, e Marçal, com seu apelo digital e força nas redes sociais, estão dividindo um eleitorado que, em outros tempos, poderia ter se unido em torno de Boulos. Se a campanha do PSOL não ajustar rapidamente sua estratégia, há um risco real de que Nunes e Marçal sigam capitalizando sobre esse desgaste, deixando Boulos sem fôlego para chegar ao segundo turno.