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O Irã está enviando mísseis balísticos para a Rússia usar na guerra contra a Ucrânia?

A variante que o Irã supostamente enviou à Rússia é uma arma tática de uso no campo de batalha, não projetada para ataques em áreas mais profundas da Ucrânia. Os países ocidentais que apoiam a Ucrânia acusam o Irã de ter enviado mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia, o que seria uma escalada […]

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O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, ouve o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária do Irã, Amir Ali Hajizadeh, durante uma visita à exposição da indústria aeroespacial iraniana em Teerã [Ministério da Defesa da Rússia/Reuters]

A variante que o Irã supostamente enviou à Rússia é uma arma tática de uso no campo de batalha, não projetada para ataques em áreas mais profundas da Ucrânia.

Os países ocidentais que apoiam a Ucrânia acusam o Irã de ter enviado mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia, o que seria uma escalada significativa no conflito. Teerã, por sua vez, rejeitou as acusações como “completamente infundadas e falsas”, ao mesmo tempo que apontou o que considera ser hipocrisia por parte do Ocidente.

Na terça-feira, os Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha impuseram novas sanções ao Irã, alegando que o envio desses mísseis foi uma decisão “escalatória” por parte do governo iraniano. Contudo, não foi apresentada nenhuma evidência pública de que os mísseis tenham sido enviados, nem se observou a presença dessas armas no campo de batalha até o momento.

Teerã condenou as sanções impostas, chamando-as de “terrorismo econômico” direcionado a empresas e indivíduos iranianos.

Enquanto isso, o Kremlin evitou refutar as alegações sobre o envio de mísseis, e descreveu o Irã como um “parceiro importante”.

Qual é o significado desses mísseis?

Os aliados ocidentais acusaram o Irã de fornecer cerca de 200 mísseis balísticos do modelo Fath-360 para a Rússia, que estariam prestes a serem utilizados na Ucrânia nas próximas semanas. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que começou em 2022, envolve grande apoio ocidental à Ucrânia, e essa nova arma poderia dar à Rússia uma vantagem no campo de batalha.

O Fath-360, também conhecido como BM-120, é um míssil balístico de estágio único, movido por combustível sólido e lançado a partir de um sistema de até seis cartuchos montados em caminhões. Seu alcance é de apenas 120 km (75 milhas) e ele pode carregar até 150 kg (330 lb) de explosivos, atingindo uma velocidade de Mach 4, o equivalente a quatro vezes a velocidade do som, ou cerca de 4.900 km/h (3.050 mph). A precisão do míssil é estimada em menos de 30 metros (98 pés).

Embora o Fath-360 sozinho não tenha o potencial de alterar drasticamente o rumo da guerra, ele poderia ajudar a Rússia a gerenciar melhor sua ofensiva em solo ucraniano. Essa arma foi frequentemente comparada ao sistema HIMARS, de fabricação americana, que a Ucrânia tem usado com sucesso contra as forças russas.

Os Estados Unidos também destacaram que os mísseis iranianos poderiam ser usados para atingir alvos mais próximos da linha de frente, permitindo que a Rússia economizasse suas próprias munições guiadas de precisão para ataques em áreas mais distantes da Ucrânia.

Logo após o início do conflito em 2022, o Irã foi acusado de fornecer drones explosivos à Rússia e de ajudar a treinar as forças russas, além de colaborar na construção de uma linha de produção de drones. Partes desses drones destruídos foram exibidas pela Ucrânia como prova no campo de batalha. Em resposta, o Irã afirmou que, de fato, vendeu drones à Rússia, mas que isso ocorreu “meses” antes do início da guerra.

Desde que as alegações foram feitas pelas autoridades ocidentais, Teerã negou repetidamente o envio de mísseis, e o Ministério das Relações Exteriores do Irã prometeu, na quarta-feira, responder às sanções impostas.

O envio de mísseis viola o acordo nuclear do Irã?

O acordo nuclear que o Irã firmou com potências globais em 2015, que ofereceu alívio das sanções da ONU em troca de limites no programa nuclear iraniano, também incluía disposições sobre mísseis. Como parte do acordo, um embargo de armas convencionais expirou em outubro de 2020, e mais restrições ao programa de mísseis iraniano terminaram em outubro de 2023. Apesar disso, os EUA e a União Europeia mantiveram suas próprias sanções, buscando pressionar a indústria de armamentos do Irã.

Do ponto de vista legal, não há barreiras internacionais que impeçam o Irã de enviar mísseis balísticos. No entanto, a Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, que sustenta o acordo nuclear, baseia-se no Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), criado pelo G7, para definir as proibições impostas ao Irã. A Rússia e a China são membros do MTCR, embora o regime não imponha obrigações juridicamente vinculativas.

A Categoria I do MTCR estipula que os países aderentes não devem exportar mísseis e drones com alcance superior a 300 km (186 milhas) e carga útil maior que 500 kg (1.100 lb). O Fath-360 está dentro dos limites dessa categoria, o que sugere que, se as alegações forem verdadeiras, o Irã está tomando cuidado para não enviar mísseis de longo alcance.

Relatos anteriores especularam que o Irã poderia estar enviando variantes de mísseis com alcance de até 700 km (435 milhas), capazes de atingir alvos muito além da Ucrânia. Ao limitar o alcance de seus mísseis exportados, o Irã pode evitar o chamado mecanismo de “snapback” do acordo nuclear, que poderia restabelecer todas as sanções do Conselho de Segurança da ONU. Se o Irã exportasse mísseis de longo alcance, as potências europeias poderiam argumentar que Teerã estaria violando a Resolução 2231, que expira em outubro de 2025.

Faz sentido estratégico para o Irã exportar mísseis para a Rússia?

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, e seu governo chegaram ao poder com o apoio do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e afirmaram buscar maior envolvimento diplomático com o Ocidente, além de negociar a suspensão das sanções. No entanto, o apoio da Rússia ao plano do Azerbaijão, promovido pela Turquia, para estabelecer o polêmico Corredor de Zangezur, que ligaria o Azerbaijão continental a Nakhichevan através da Armênia, causou tensões com o Irã, pois isso cortaria uma importante rota de exportação iraniana para a Europa.

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, recebe o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Sergei Shoigu, em Teerã, em 5 de agosto de 2024 [Divulgação via site do presidente iraniano/Al Jazeera]

Por essas razões, uma decisão do Irã de enviar mísseis para a Rússia pode parecer incoerente do ponto de vista estratégico, segundo Hamidreza Azizi, pesquisador visitante no Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP). “Pode não fazer sentido imediato”, afirmou Azizi em entrevista à Al Jazeera.

Contudo, o especialista também apontou que o Irã pode estar esperando finalmente receber os avançados caças russos Su-35, além de buscar novas tecnologias militares e cooperação na produção de armas com a Rússia. “Além disso, Irã e Rússia têm colaborado em outras áreas estratégicas, como programas espaciais e nucleares. O Irã pode estar interessado em aprofundar essa cooperação”, acrescentou Azizi. Portanto, mesmo que o momento seja questionável, fatores mais amplos podem estar influenciando a decisão do Irã de continuar com o envio de mísseis.

O que sabemos sobre as últimas sanções ocidentais ao Irã?

Em resposta à “escalada dramática” nas exportações de armas iranianas para a Rússia, os EUA e o E3 (França, Alemanha e Reino Unido) intensificaram ainda mais as sanções, especialmente contra a aviação civil iraniana. A Iran Air, principal companhia aérea do Irã, foi colocada na lista negra, perdendo seu acesso à Europa.

O E3 argumentou que o Irã representa uma “ameaça direta à segurança europeia” e sinalizou que pretende sancionar indivíduos e entidades envolvidos com os programas de armamentos do país. Além disso, tanto os EUA quanto o Reino Unido colocaram três comandantes militares iranianos na lista de sanções, alegando que esses oficiais estavam diretamente envolvidos no envio de armas à Rússia. Outras quatro entidades, incluindo a Zona de Livre Comércio de Anzali, no norte do Irã, também foram sancionadas. Além disso, cinco navios russos e três unidades de aviação receberam designações semelhantes.

A retirada dos EUA do acordo nuclear nos trouxe até aqui?

O acordo nuclear iraniano, assinado em 2015, entrou em colapso depois que os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018, sob a administração do ex-presidente Donald Trump. Essa decisão trouxe de volta sanções devastadoras para o Irã, consideradas algumas das mais severas já impostas. As sanções ainda permanecem sob o governo do presidente Joe Biden, que manteve grande parte da política de “pressão máxima” iniciada por seu antecessor.

Essa ruptura impulsionou o Irã a se aproximar cada vez mais da Rússia e da China. O especialista Hamidreza Azizi afirmou que a saída dos EUA do acordo nuclear foi um “momento-chave” que levou o Irã a adotar uma política de “olhar para o Oriente”, intensificando suas relações com esses dois países.

O Irã e a Rússia, uma parceria estratégica?

A relação entre o Irã e a Rússia se estende há mais de uma década, com ambos os países cooperando na Síria para manter o presidente Bashar al-Assad no poder. Além disso, o Irã assinou um acordo de cooperação de 25 anos com a China em 2021, embora poucos detalhes concretos tenham sido anunciados. Mesmo assim, a China permanece como o maior comprador de petróleo iraniano, desafiando as sanções internacionais.

A invasão russa da Ucrânia também empurrou Moscou a buscar novos parceiros, e o Irã se tornou um deles. Azizi destaca que a pressão dos EUA sobre Teerã tem sido um fator importante para impulsionar essa cooperação. No entanto, ele enfatiza que a relação entre Irã e Rússia não é uma aliança militar ou econômica formal, mesmo com os diversos acordos bilaterais.

“Não existe um pacto de defesa mútua que obrigue a Rússia a defender o Irã em um conflito, por exemplo, nem compromissos concretos em outras áreas estratégicas”, afirmou Azizi. Ele também mencionou que o tão falado acordo de parceria estratégica, supostamente em seus estágios finais, provavelmente será mais focado em linhas gerais do que em compromissos específicos e vinculativos.

Apesar disso, é claro que ambos os países têm interesse em desafiar a hegemonia global dos EUA, e há uma intenção clara de continuar expandindo essa cooperação. Mas, segundo o especialista, é importante não superestimar essa relação como uma verdadeira aliança formal.

Com informações da Al Jazeera

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