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Imagine um mundo livre da opressão e de uma ordem global liderada pelos EUA

Isso representaria o fim da capacidade dos EUA de impor sua vontade à comunidade internacional, moldar outros países à sua imagem e transferir o peso de suas crises econômicas para outras nações. Um espectro está assombrando Washington. O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, recentemente chamou isso de “Chinafobia”. Assim como algumas pessoas veem fantasmas em […]

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Anwar Ibrahim, primeiro-ministro da Malásia, critica a 'Chinafobia' dos EUA, ressaltando a crescente tensão entre Washington e Pequim em meio à disputa pela ordem global / Foto: SCMP

Isso representaria o fim da capacidade dos EUA de impor sua vontade à comunidade internacional, moldar outros países à sua imagem e transferir o peso de suas crises econômicas para outras nações.

Um espectro está assombrando Washington. O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, recentemente chamou isso de “Chinafobia”. Assim como algumas pessoas veem fantasmas em plena luz do dia, políticos americanos encaram cada movimento da China com desconfiança. Eles veem produtos chineses, como equipamentos 5G, guindastes portuários e carros, como potenciais ameaças e estão empenhados em proibir o TikTok por razões de segurança nacional.

Por trás desse medo está a percepção da China como um grande adversário, que supostamente busca derrubar a “ordem internacional baseada em regras”. Mas o que isso realmente significaria para Washington?

Em primeiro lugar, poderia sinalizar o fim da supremacia dos EUA nos assuntos globais. A ordem internacional, criada e mantida por Washington e seus aliados, permite que os EUA imponham sua vontade à comunidade internacional. Se essa ordem for desmantelada, os EUA podem perder o poder de bloquear decisões em organizações como o Conselho de Segurança da ONU, como fizeram recentemente em resoluções sobre o conflito palestino-israelense, e na paralisia do sistema de solução de controvérsias da OMC, após os EUA bloquearem a nomeação de juízes repetidamente.

Também seria difícil para Washington manter seu domínio no Banco Mundial e no FMI, onde controla decisões importantes com seu poder de veto. Tradicionalmente, os presidentes do Banco Mundial são americanos, mas uma mudança estrutural poderia permitir que asiáticos, africanos ou latino-americanos ocupassem o cargo, com base na competência, e não na nacionalidade.

Além disso, Washington veria sua capacidade de moldar outros países à sua própria imagem diminuída. Os EUA têm o hábito de interferir nos assuntos internos de outras nações, impondo sanções e apoiando revoltas sob o pretexto de direitos humanos e democracia, como ocorreu na Líbia e na Síria. Contudo, como admitiu recentemente o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, décadas de tentativas de moldar a China falharam. Com o colapso da ordem internacional, fracassos semelhantes seriam mais comuns.

Washington também precisaria repensar sua tendência a se envolver em guerras em solo estrangeiro. Os EUA, descritos pelo ex-presidente Jimmy Carter como “a nação mais belicosa da história”, estiveram em paz apenas 16 dos seus 242 anos. Sem a atual ordem, os EUA não poderiam justificar invasões usando a desculpa de violações de direitos humanos.

Além disso, a hegemonia financeira dos EUA seria abalada. Se o dólar perdesse seu status como moeda de reserva global, Washington não poderia mais transferir os custos de suas crises econômicas para outros países, como fez em 2008, ou manipular sua política monetária para “roubar” outros países. A capacidade de cortar o acesso a sistemas de pagamento internacionais, como o SWIFT, também seria limitada.

O fim da “ordem internacional baseada em regras” representaria a perda do excepcionalismo americano. Nos EUA, a lei federal frequentemente se sobrepõe ao direito internacional, e seus tribunais são conhecidos por ignorar decisões internacionais. Um estudo do Ministério do Comércio chinês apontou que os EUA são o maior infrator das decisões da OMC. Sem essa ordem, os EUA teriam que seguir as regras internacionais como qualquer outro país.

Essa mudança seria dolorosa para Washington. No entanto, para o mundo em desenvolvimento, poderia representar um avanço. A atual ordem internacional perpetua a hegemonia dos EUA e contraria os interesses do Sul Global, que busca uma ordem mais justa e equitativa. Isso inevitavelmente coloca Washington em conflito com essas nações.

Em contraste, a China defende uma ordem baseada no direito internacional, promovendo um futuro compartilhado para a humanidade, sem deixar nenhum país para trás, e busca um mundo multipolar, onde todas as nações, grandes ou pequenas, tenham voz.

É importante notar que a China repetidamente enfatizou que não busca substituir os EUA. Em vez disso, promove a coexistência pacífica, cooperação e benefícios mútuos. No entanto, essas mensagens parecem ignoradas por Washington, que, como disse o secretário de Estado Antony Blinken, acredita que ou você está à mesa ou é parte do cardápio. Para os EUA, a ideia de todos terem um lugar à mesa é difícil de conceber. Contudo, as aspirações da China para o futuro parecem alinhadas com as de muitos países em desenvolvimento, como demonstra o crescente dinamismo do Brics, um bloco apoiado pela China.

Por Zhou Xiaoming, pesquisador sênior do Centro para China e Globalização em Pequim e ex-representante adjunto da Missão Permanente da China no Escritório das Nações Unidas em Genebra, para o South China Morning Post.

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Comentários

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Paulo

11/09/2024 - 18h46

Livre da opressão americana e à mercê da opressão da China, por exemplo? Ou deveríamos escolher?


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