O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, nesta terça-feira (10), que irá retomar as negociações para a reconstrução da BR-319, rodovia que conecta Manaus (AM) a Porto Velho (RO). A pavimentação da estrada, que atravessa uma área ambientalmente sensível na floresta amazônica, gera debates há décadas.
Lula destacou a importância de assegurar que a obra não causará desmatamento. “Queremos estabelecer um acordo entre o estado e a Federação para garantir que não permitiremos o desmatamento e a grilagem de terras próximas à rodovia, como frequentemente acontece. Construímos uma rodovia, e logo depois, áreas ao redor começam a ser destruídas, queimadas, invadidas, com criação de gado em locais inadequados”, disse Lula durante uma visita à Aldeia Kainã, no Amazonas.
Ele também rebateu críticas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmando que a BR-319 foi construída nos anos 70, mas abandonada por décadas. Segundo ele, a estrada tem trechos em funcionamento, mas 400 quilômetros permanecem inativos.
Lula reconheceu as pressões internacionais para a preservação da Amazônia, mas afirmou que o governo busca desenvolver a região de forma sustentável. “O mundo que compra nossos produtos exige que preservemos a Amazônia porque dependem do ar que respiram. Eles destruíram suas florestas durante a revolução industrial, e agora nos cobram”, afirmou.
Ele reforçou que a Amazônia deve ser vista como um patrimônio soberano do Brasil, onde é possível utilizar a biodiversidade para gerar renda para povos indígenas, ribeirinhos e extrativistas, a partir da conservação da floresta.
O presidente explicou que as negociações para a retomada das obras envolverão ministérios, governos locais e outros atores. Ele mencionou que, com o Rio Madeira navegável, a rodovia não era tão essencial, mas que agora é preciso evitar o isolamento das capitais.
Grupo de trabalho
Com 918 quilômetros, a BR-319 começou a ser construída em 1968, mas nunca foi finalizada, sendo fechada em 1988 devido ao abandono. Em 2022, durante o governo Bolsonaro, o Ibama concedeu uma licença para pavimentar o chamado Trecho do Meio, que concentra a maior densidade vegetal, mas essa licença foi suspensa pela Justiça por falta de medidas para proteger a floresta.
A rodovia interliga 22 municípios e, de acordo com o governo, sua reconstrução é crucial para o desenvolvimento da região. Um relatório de junho deste ano apontou que a obra é viável tecnicamente e destacou a necessidade de parcerias e governança entre os órgãos responsáveis para controlar o impacto no ecossistema ao redor da rodovia.
Seca histórica
Durante sua visita ao Amazonas, Lula também tratou de ações para combater a seca histórica que atinge a região. Dos 62 municípios do estado, 61 estão em situação de emergência. Serão investidos R$ 500 milhões em obras de dragagem nos rios Amazonas e Solimões para garantir a navegabilidade e escoamento de insumos, mitigando os efeitos da pior seca dos últimos 45 anos.
A dragagem será realizada em pontos críticos dos rios para remover sedimentos que dificultam a navegação. Todo o processo será feito respeitando as normas ambientais, com os sedimentos sendo realocados fora do canal de navegação, conforme estabelecido pela Marinha.
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