O genocídio em Gaza, acontecendo sob os aplausos entusiásticos do Ocidente (literalmente, vide a ovação que Netanyahu recebeu há poucas semanas no congresso americano), serviu para pôr um fim a décadas de hipocrisia.
O ocidente nunca se caracterizou pela defesa real, concreta, de direitos humanos, sobretudo quando considerados do ponto-de-vista internacional.
Ao contrário, o discurso sobre direitos humanos tem sido há tempos “militarizado” pelo Ocidente, utilizado politicamente para atacar governos e países que se mostram rebeldes às grandes diretrizes macro-econômicas e geopolíticas emanadas dos Estados Unidos e seus vassalos.
Diante deste cenário, o evento que ocorre hoje, 10 de setembro, no Rio de Janeiro, discutindo direitos humanos na China e na América Latina, é um vento fresco num mundo asfixiado por narrativas falaciosas.
Trata-se da primeira Mesa Redonda da China-Estados Latino Americanos e Caribenhos sobre Direitos Humanos, que se realiza neste momento no Windsow Barra Hotel, no Rio de Janeiro.
Dirigentes das mais prestigiadas universidades da China, junto a diversos ativistas, acadêmicos e políticos do Brasil e de outros países da América Latina, subiram à tribuna para falar de democracia, harmonia, diversidade e direitos humanos.
Um dos chineses lembrou um pensamento de Confúcio, de que um homem bom busca a harmonia, e não a uniformidade, ao passo que o homem sem caráter persegue a uniformidade, mas não a harmonia. E ressalta que o conceito de democracia precisa ser estendido às relações internacionais, de maneira que as civilizações devem sempre procurar aprender com outras.
Outro acadêmico fala das diferenças filosóficas na maneira como China e Ocidente vêem as questões de liberdade e interesse social. Para a China, não se pode conceber a liberdade sem considerar o interesse coletivo. A liberdade, para a China, não pode ser um conceito puramente abstrato, mas um princípio ético solidamente ancorado na realidade social. Ou seja, a sociedade não deve perseguir uma liberdade teórica, abstrata e… inexistente na prática, e sim uma liberdade concreta, possível, mediada pelo interesse coletivo, e que corresponda a direitos reais dos indivíduos.
A realização deste evento, organizado pela Sociedade Chinesa de Estudos de Direitos Humanos, pela Universidade Renmin da China, e pela Universade Federal Fluminense, se inscreve num grande esforço da China (e dos setores no Brasil aliados da China) de romper o monopólio moral que os Estados Unidos e o ecossistema de organizações patrocinadas pelo imperialismo, impuseram ao debate internacional sobre direitos humanos.
O Ocidente, com suas intermináveis guerras, com sua defesa (muitas vezes fomentando golpes) de modelos econômicos coloniais ou neocoloniais, com suas sanções econômicas cada vez mais abrangentes, perdeu inteiramente a moral de pontifificar sobre direitos humanos. Este é um debate que, como tantos outros, deve ser democratizado e ter maior participação da maioria global, e deve sobretudo ser liderado por aquelas sociedades que, durante séculos, foram exploradas e oprimidas pelos países dito desenvolvidos do Norte Global.