Estudo com animais mortos na China revela dezenas de novos vírus

Estudo revela a descoberta de 36 novos vírus e alerta para o alto risco de transmissão entre espécies, incluindo humanos, reforçando a necessidade de vigilância em fazendas de animais criados para peles

Um estudo realizado com mais de 450 animais de pelagem mortos na China revelou dezenas de novos vírus e infecções entre diferentes espécies, incluindo alguns com alto risco de transmissão para humanos. De acordo com as descobertas publicadas na revista Nature, cães-guaxinins e visons apresentaram o maior número de vírus potencialmente perigosos, incluindo um vírus de vison que até então só havia sido detectado em morcegos.

“O setor de criação de animais para peles é um importante foco de transmissão de zoonoses virais”, afirmaram os autores do estudo, ressaltando que alguns desses vírus já chegaram a infectar seres humanos. A pesquisa contou com a participação de cientistas de várias universidades chinesas, além de especialistas estrangeiros, como o virologista Edward Holmes, da Universidade de Sydney.

Holmes é conhecido por ter ajudado o virologista Zhang Yongzhen, de Xangai, a ser o primeiro a divulgar a sequência do genoma do Sars-CoV-2 no início de 2020, o que acelerou o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. Para o novo estudo, iniciado em 2021, os cientistas coletaram tecidos de 461 animais mortos por doenças na China. Entre as 28 espécies envolvidas, a maioria era criada para a produção de peles, uso na medicina chinesa ou para alimentação.

Os pesquisadores identificaram 125 espécies de vírus, sendo 36 novos e 39 com “alto potencial de transmissão entre espécies, incluindo a propagação zoonótica”. Além disso, o estudo destacou a possibilidade de transmissão de vírus entre animais criados em fazendas, animais selvagens e até de humanos para os animais de criação.

Entre os vírus identificados, chamou a atenção um coronavírus semelhante ao Mers, encontrado em dois visons de uma fazenda, associado a um surto de pneumonia. Também foi relatado, pela primeira vez, um coronavírus em nutrias.

Os cientistas expressaram preocupação com o coronavírus HKU5, encontrado em morcegos e detectado em visons, uma vez que esse tipo de vírus tem histórico de recombinação, o que pode levar à formação de novas cepas ao infectar um mesmo hospedeiro.

Outro ponto de alerta foi a descoberta de um novo coronavírus, provisoriamente chamado de “coronavírus do coelho”, e a alta quantidade de coronavírus presentes nos órgãos dos animais mortos. A transmissão entre espécies de animais e humanos já causou pandemias no passado, advertiram os cientistas.

“Muitos países criam animais de pele para o comércio interno e internacional. Raposas, civetas e visons, em particular, têm sido sugeridos como possíveis hospedeiros de uma variedade de vírus humanos”, apontaram os pesquisadores, destacando a importância de monitorar esses animais para prevenir futuras pandemias.

O estudo não encontrou evidências de Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid-19, entre os animais analisados. Holmes esclareceu ao South China Morning Post que o objetivo da pesquisa não era rastrear a origem da Covid-19, já que seria impossível encontrar o hospedeiro intermediário que transmitiu o vírus aos humanos tanto tempo após o início da pandemia.

Em 2022, Holmes foi coautor de um artigo que indicava que os primeiros casos de Covid-19 provavelmente começaram no Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, onde o primeiro caso conhecido foi registrado em 2019. Ele também rejeitou a teoria de que o vírus teria vazado de um laboratório em Wuhan.

Holmes destacou a importância de monitorar animais de criação para prevenir futuras pandemias. “Embora nosso estudo não trate das origens da Covid, ele mostra claramente como os vírus podem passar de espécies selvagens, como morcegos, para animais de criação, como visons, expondo os humanos a esses vírus”, disse ele.

Os autores do estudo alertaram que o pequeno número de amostras e o foco em animais mortos limitam as conclusões sobre os vírus que circulam entre animais saudáveis, além de não permitirem a identificação de vírus que possam estar presentes em outros tecidos além dos respiratórios e gastrointestinais.

Com informações da Revista Nature e South China Morning Post.

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