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Ricardo Nunes, o “lulista” de Jair Bolsonaro em SP

Com o apoio da máquina pública, Nunes amplia intenções de voto entre os mais pobres, enquanto Boulos e Marçal travam embate em outros segmentos econômicos.

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Guilherme Boulos e Ricardo Nunes (Foto: Felipe Gonçalves/Brasil 247 | Isadora de Leão Moreira/Governo de São Paulo)

Com o apoio da máquina pública, Nunes amplia intenções de voto entre os mais pobres, enquanto Boulos e Marçal travam embate em outros segmentos econômicos.


O cenário eleitoral em São Paulo tem mostrado movimentações importantes nos diferentes estratos de renda da população, especialmente entre os eleitores mais pobres. Ricardo Nunes, candidato à reeleição, tem capitalizado seu acesso à máquina pública e à exposição midiática para ampliar seu apoio entre a parcela mais vulnerável da população. Na pesquisa mais recente, Nunes saltou de 18% para 28% das intenções de voto entre os eleitores com renda de até dois salários mínimos, consolidando sua liderança nesse segmento. Guilherme Boulos (PSOL), que historicamente tem dificuldade de expandir sua base entre os mais pobres, registrou uma pequena oscilação positiva, passando de 18% para 19%. Já Pablo Marçal (PRTB) teve uma queda nesse grupo, indo de 18% para 17%.

A ampliação do apoio de Nunes entre os mais pobres é atribuída, em grande parte, à máquina pública, à propaganda e ao uso da televisão, fatores que tendem a beneficiar candidatos em exercício. Com a “caneta na mão”, Nunes conseguiu um ganho significativo nesse setor, que representa a maior parte do eleitorado paulistano. Boulos e Marçal, embora tenham bases de apoio consolidadas, não conseguiram repetir o mesmo desempenho entre os eleitores de menor renda.

No entanto, quando observamos a faixa de renda intermediária, entre dois e cinco salários mínimos, a disputa é mais equilibrada. Boulos e Marçal estão empatados com 24% das intenções de voto cada um, enquanto Nunes aparece um pouco atrás com 21%. Esse empate técnico na classe média demonstra que, nesse grupo, há uma divisão mais acirrada entre os três candidatos, sem um franco favorito. Aqui, Nunes não tem o mesmo apelo que encontra entre os mais pobres, e Boulos e Marçal conseguem se manter competitivos, refletindo as preocupações e aspirações desse segmento.

Entre os mais ricos, ou seja, aqueles que recebem mais de cinco salários mínimos, Boulos também apresenta uma leve queda. Ele tinha 30% das intenções de voto na pesquisa anterior e agora aparece com 26%. Pablo Marçal, por sua vez, cresceu nesse estrato, saltando de 21% para 25%. Ricardo Nunes, que tinha 18% entre os mais ricos, agora aparece com 17%, enquanto Tabata Amaral, candidata do PSB, cresceu de 12% para 14%. Esses números refletem o enfraquecimento de Boulos entre os eleitores de maior renda e o fortalecimento de Marçal, que conseguiu ampliar seu discurso de forma mais eficaz nesse grupo.

Essas oscilações dentro da margem de erro mostram um movimento negativo para Boulos entre os eleitores de maior poder aquisitivo, enquanto Marçal, que tem mantido um discurso atraente para esse grupo, tem conseguido aumentar sua penetração. Apesar disso, a disputa entre Boulos e Marçal é praticamente um empate técnico, o que mantém o cenário indefinido entre os mais ricos.

A ascensão de Nunes entre os mais pobres deve ser vista com atenção, pois reflete o impacto do uso da máquina pública e da comunicação institucional. O desafio para Boulos e Marçal será conseguir romper com essas barreiras e conquistar uma fatia maior desse eleitorado, além de consolidar o apoio já conquistado entre os eleitores de classe média e alta.

Outro ponto importante da disputa está entre os eleitores jovens, especialmente na faixa de 25 a 34 anos, os mais economicamente ativos e, ao mesmo tempo, frustrados com a atual situação trabalhista no país. Dados do artigo publicado pelo Cafézinho indicam que, apesar da queda do desemprego, os salários baixos e a precarização do mercado de trabalho têm dificultado a aprovação do governo Lula, especialmente entre os mais jovens. Nessa faixa etária, Pablo Marçal ultrapassa Boulos, registrando 21% das intenções de voto contra 17% de Boulos. Esse dado é significativo, pois reflete a insatisfação desse grupo com a situação econômica e a dificuldade de Boulos em atrair o eleitorado jovem mais ativo.

Já na faixa de 16 a 24 anos, Boulos mantém uma vantagem com 25% das intenções de voto, enquanto Marçal aparece com 16%. Contudo, o avanço de Marçal entre os eleitores de 25 a 34 anos sugere que ele está capturando um sentimento de frustração maior entre os que estão diretamente impactados pelas condições do mercado de trabalho.

Além disso, Nunes tem mostrado força junto ao eleitorado feminino, onde ele e Boulos disputam voto a voto. Entre as mulheres, Boulos aparece com 23% das intenções de voto, enquanto Nunes está logo atrás, com 22%, mostrando que essa é uma base eleitoral significativa para ambos. O voto feminino, crucial para a decisão da eleição, está sendo disputado de forma acirrada, e a capacidade de Nunes em crescer nesse grupo pode ser decisiva, especialmente se combinado com o apoio que já tem entre os mais pobres e os mais velhos.

Ademais, um dos erros estratégicos da campanha de Boulos pode ser o uso limitado de Marta Suplicy, uma figura política amplamente conhecida e com boa aprovação, especialmente entre os eleitores da periferia e das classes mais pobres. A presença de Marta poderia ajudar Boulos a conquistar maior tração nesses segmentos. Além disso, ele terá que recorrer mais intensamente ao lulismo, uma força ainda poderosa entre os eleitores que foram essenciais para a vitória de Lula em 2022, especialmente nas áreas economicamente vulneráveis.

Por fim, quando somamos o apoio de Nunes entre os eleitores mais pobres e os mais velhos — dois grupos que foram essenciais para Lula em 2022 —, podemos observar uma migração significativa de parte desse eleitorado para o atual prefeito, o que lhe confere uma vantagem estratégica importante nessa corrida eleitoral.

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Cleber Lourenço

Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_

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Ligeiro

05/09/2024 - 21h40

Licença Cleber?

Tipo, a sensação que tenho é que ficou muito enraizado um sentimento “anti-comunismo” – aí põe no pacote qualquer político que “pense em ajudar as pessoas dentro das regras políticas”. Teria que tentar ler como é entendido na população o que Marçal e o bolsonarismo fizeram na mente do “cidadão comum mediano” que gerou este “anti-comunismo” besta. Sim, podemos colocar no pacote também a ausência de educação nos últimos anos, as falhas da própria esquerda (em não acolher as pessoas como deveria – e olha que foram 4 gestões de políticos “progressistas”) e principalmente a “lavagem cerebral” que as redes geraram.

Marta entra na matemática mas com o devido cuidado pois ela sempre foi maculada como a “Martaxa”, e esse é talvez o medo da campanha da coligação em não expor a Marta neste primeiro momento. Expondo-a, vão ficar no mantra de forma a fazer o comentário como se “Boulos é inv***” (e ele não é) e “Marta vai taxar tudo, até a inva***”. Ainda mais com um quinta série como o Merdal dominando a atenção.

Sinceramente tenho muito a sensação que o primeiro momento de campanha, Boulos, PSOL e PT deveriam ter usado para desmistificar os movimentos sociais. Isso esvaziaria rápido o discurso de “inv***” usado pelos adversários. Boulos falou muito pontualmente sobre tais assuntos, e falou bem até. Mas tipo, sempre dá a sensação que falta algo para viralizar e furar bolhas. Explicar a realidade dos movimentos, o porquê das ocupações e a forma talvez ajudaria a furar esta bolha. E claro, fazer como o Boulos faz quando fala do assunto, compara movimentos de ocupação com grilagem, pois ambos tem diferenças no método e execução – um procura usar uma forma política de dar lar a quem dificilmente consegue direito de ocupar um lugar, e o outro usa o crime para lucrar com quem precisa de um lugar para sobreviver, e tal crime pode culminar em outros problemas maiores.

Da Marta, ver como ela poderia ser expor e quebrar a mistificação das “taxas”. Lembrar que se não fossem elas, não teriam os CÉUS, os programas sociais, as obras necessárias, e as contas pagas. E que pode saber cobrar de forma justa – cobrar mais de quem ganha muito mais e cobrar menos de quem é carente.


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