Chegamos em Beijing, também conhecida como Pequim, no dia 20 de agosto de 2024.
A cidade estava tomada por um bafo quente impressionante. Sabíamos que era verão na China, não havendo necessidade de roupas para frio. Mesmo assim, a temperatura elevada nos alarmou. Eu sempre tivera a impressão que Beijing estava situada no extremo norte do mundo, perto da Coréia da Norte, não muito distante das estepes geladas da Sibéria. Como era possível tanto calor?
Examinando agora um globo terrestre sobre a mesa, e consultando a internet, vejo que a capital chinesa, localiza-se na latitude 39,9 graus do hemisfério norte, quase na mesma linha que passa por Nova York e Roma, duas outras grandes cidades que, apesar de muito frias no inverno, igualmente enfrentam fortes ondas de calor no verão.
Éramos cerca de 20 brasileiros, a maioria jornalistas.
Além de mim, estavam lá algumas estrelas do jornalismo de esquerda, como Renato Rovai, da Revista Forum, Haroldo Ceravolo, do Opera Mundi, Aquiles Lins e Mario Vitor, do Brasil 247, Pedro Zambarda, do Diário do Centro do Mundo, Heloísa Vilela, do ICL, Kennedy Alencar, da Rede TV, Cintia Alves, da GGN, André Barrocal, da Carta Capital, Luis Fernando, da AgFeed, Agnes Franco, da Rede Brasil Atual, e Paulo Salvador, presidente da TVT.
Da mídia tradicional, tínhamos a companhia da simpática Tainá Farfan, apresentadora da TV Record, e do jovem Pedro Martins, repórter da CNN Brasil.
Dois youtubers brasileiros, residentes na China e com programas voltados para difusão de notícias sobre a China, integravam a nossa comitiva: Felipe Durante (do canal do mesmo nome no youtube) e Lucas Brand (do Pula Muralha).
Havia ainda dois observadores independentes, Luis Marcelo e João Batista Tavares.
Exercendo o papel de “dublê de chefe da delegação”, lá estava o jornalista e escritor Ricardo Amaral, hoje assessor de imprensa da presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann. Gleisi foi a principal curadora dos nomes escolhidos para essa viagem, a qual, por sua vez, foi oferecida pelos próprios chineses, por ocasião de uma visita feita própria Gleisi ao país, ainda este ano.
As despesas com passagem e alimentação foram todas pagas pela China, numa articulação coordenada entre a Embaixada da China no Brasil, o Ministério de Relações Exteriores da China e o partido comunista da China.
Ficamos sabendo que esse tipo de ação tem sido muito comum na China. Delegações e comitivas do mundo inteiro tem sido convidadas regularmente por instituições chinesas para conhecerem a nova China, a China moderna, tecnológica, cosmopolita, que nós tivemos o privilégio de ver.
Como ia dizendo, chegamos em Beijing numa manhã abafada. No aeroporto, nos esperava Augusto Wang, um jovem dirigente do Pcch (partido comunista da China), além de diplomata, que havia trabalhado na Embaixada da China em Brasília, por alguns anos, e falava português com incrível fluência. A ele se juntou, no hotel, um outro jovem quadro do Pcch, Vitor Simões (nome ocidental dele) igualmente diplomata, que havia morado mais de 5 anos em Brasília e também era fluente em português. Outros dois quadros do partido os acompanhavam.
Estávamos pronto para uma aventura de 10 dias, durante a qual iríamos conhecer Beijing, capital do país, Wuhan, capital da província de Hubei, Chengdu, capital da província de Sichuan, e Mianyang, também em Sichuan.
Segundo nosso programa, teríamos encontros com dirigentes partidários, vice-ministros, visitar estatais de mídia, empresas de tecnologia, instituições científicas, fabricantes de carros elétricos, de painéis solares, de telas de computador, de materiais para baterias elétricas, universidades, além de passeios por lugares históricos, como a Muralha da China, a Cidade Proibida, entre outros.
Foi uma agenda pesada, cansativa, em que acordávamos por volta das 7 horas da manhã, ou antes, para nos arrumarmos, tomarmos café e partirmos antes das 8h. Em geral, havia dois ou três programas pela manhã, mais uns dois à tarde, e estávamos “livres” por volta das 19h, quando jantávamos. Nesse horário, porém, a maioria estava tão esgotada, tanto da viagem, da qual não havíamos ainda nos recuperado, como das atividades do dia, que íamos dormir muito cedo.
Cansativa, mas satisfatória!
Os chineses eram exigentes quanto ao cumprimento da agenda de trabalho, mas nos compensavam com refeições simplesmente maravilhosas e a hospedagem em bons hoteis.
A primeira surpresa positiva da nossa delegação foi a beleza arquitetônica e paisagística de Beijing. As largas avenidas da cidade são inteiramente margeadas por árvores. É uma cidade verde, cheia de parques e canais, cortada por enormes ciclovias por onde trafegam dezenas, quiça centenas de milhares (talvez milhões?) de ciclistas, quase todos usando um serviço ou outro de bicicleta compartilhada. Eu tinha lido sobre o grande esforço nacional da China para arborizar suas cidades, e pude ver, in loco, o sucesso da empreitada. Tanto Beiing, como Wuhan e Chengdu nos surpreenderam com a quantidade de verde por toda a parte!
Não se usa mais dinheiro em Beijing, tampouco em nenhuma grande cidade da China. Lá tudo se faz usando dois aplicativos, o Wechat, do grupo Tencent, ou o Alipay, do Alibaba.
Segundo dados do Centro de Informação sobre Internet da China (CNNIC), atualizado em março deste ano, o pais tinha 1,09 bilhão de internautas ativos ao final de 2023, com uma penetração da internet em 77,5% dos lares chineses.
Desse total de internautas, 87,3% já fazem uso de pagamentos online.
Voltando à nossa viagem, a gente visitou centros de mídia impressionantes. A CGTN, por exemplo, é uma estrutura estatal de mídia que emprega dezenas de milhares de funcionários, com foco na produção de notícias para o público internacional, em especial em inglês.
Tudo é bastante novo na China, de maneira que fica patente que não estamos contemplando, como acontece às vezes ao visitarmos as cidades da Europa, um país satisfeito consigo mesmo. Não. É como se estivéssemos antes contemplando um trem de alta velocidade. A China está mergulhada numa dinâmica de transformação extremamente acelerada, e com uma direção clara: transformar a China numa grande potência geopolítica, ancorada num sólido desenvolvimento tecnológico, com alta qualidade de vida para seus cidadãos.
Em Beijing, tive ainda a oportunidade de encontrar meu amigo Marco Fernandes, pesquisador da Tricontinental, que mora nos arredores dos Hutongs, um conjunto de becos antigos, cheio de bares e lojas.
Na foto abaixo, eu, Marco e Haroldo, editor do Opera Mundi. De vez em quando, alguns da comitiva conseguiam dar uma escapulida à noite para curtir os bares nas cidades em que estávamos.
Eu e Rafael, um brasileiro que vive há anos, em Beijing, trabalhando para um site em Esperanto do governo chinês. Rafael nos encontrou no hotel e nos ajudou a encontrar o bar que buscávamos.
Abaixo, o amigo Mauro, correspondente do Brasil de Fato na China, Heloísa Vilela, do ICL, e a chinesa Tings Chak (https://www.instagram.com/tingschak/) , que fala português melhor que muitos brasileiros.
Em Chengdu, fomos a esse lindíssimo restaurante, onde fomos recebido por um dos chefes do partido comunista do estado de Sichuan, para um banquete.
Em Wuhan, eu e Rovai conhecemos um chinês excepcional, o Zhao e sua amiga Rebeca (nome ocidental). Num bar cheio de fotos de Che Guevara, trocamos piadas, análises geopolíticas e mais piadas.
Ao longo dos próximos dias, publico mais fotos, vídeos e relatos sobre a nossa viagem!
Segue aí algumas dicas de livros e filmes que tem feito a minha cabeça nos últimos meses:
AI Superpowers, de Kai-Fu Lee – Download
How China Works, de Xiaochuan Lan – Download
China shakes the world, de Jack Belden – Download
Origins of chinese revolution, de Lucas Bianco – Download
Red Crag, de Lo Kuang-pin and Yang Yi-yen – Download
Red Sorghum, de Mo Yan
Red Sorghum (filme de Zhang Yimou, com Gong Li) – Youtube
Red Star Over China, de Edgar Snow – Download
A condição humana, de André Malraux – Download
Socialism with Distinct Chinese Characteristics – Amazon