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O ‘fenômeno’ Pablo Marçal em SP e a falta de estratégia do progressismo

A Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), realizou uma pesquisa qualitativa para analisar o comportamento eleitoral das periferias de São Paulo após a derrota acachapante de Fernando Haddad em 1º turno nas eleições municipais de 2016. O levantamento que pode ser acessado clicando aqui identificou que os eleitores dessas regiões foram decisivos […]

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REPRODUÇÃO

A Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), realizou uma pesquisa qualitativa para analisar o comportamento eleitoral das periferias de São Paulo após a derrota acachapante de Fernando Haddad em 1º turno nas eleições municipais de 2016.

O levantamento que pode ser acessado clicando aqui identificou que os eleitores dessas regiões foram decisivos na mudança do cenário político, o que motivou um estudo detalhado sobre o perfil social e as motivações desse eleitorado.

A pesquisa apontou a existência de um novo cenário social, onde valores liberais e coletivistas coexistem, moldados por fatores como o aumento do consumo, a ascensão do neopentecostalismo e o empreendedorismo “de raiz”, ou seja, que se concentra na parte de baixo da pirâmide como o barbeiro, o dono de padaria ou do mercadinho.

Esse grupo de eleitores, embora com descrédito em relação aos partidos, valoriza políticas públicas de inclusão, mas ao mesmo tempo prioriza o crescimento individual.

A pesquisa sugere que essa nova classe trabalhadora deixou de se identificar com a luta de classes e tem a percepção de ineficiência sobre o papel do Estado.

O levantamento também revelou o crescimento de uma espécie de “liberalismo popular“, em que há uma demanda pela pouca interferência do Estado na economia, mas com a manutenção de programas sociais como o próprio Bolsa Família.

Neste cenário, a ascensão pessoal é valorizada e personalidades como o presidente Lula e o saudoso apresentador Silvio Santos são vistos como exemplos de superação e reforçam a crença do individualismo para “vencer na vida“.

Outro ponto importante abordado pela pesquisa foi o papel das igrejas neopentecostais nas periferias da capital paulistas. Essas instituições são vistas como redes de apoio e acolhimento, e não apenas como espaços de ideias conservadoras ou reacionárias, como boa parte dos influenciadores e a mídia progressista gostam de pregar.

Essas igrejas desempenham um papel central na formação de laços comunitários e na transmissão de valores como a meritocracia. Com isso, elas se tornam ponto de referência para muitos trabalhadores que moram nas periferias.

Isso mostra ao progressismo que é um erro tremendo pregar a ideia de que o trabalhador é “alienado pelo pastor” ou “que São Paulo tem muitos reaças” e que por isso estão migrando para possivelmente eleger o coach Pablo Marçal (PRTB) a prefeito da maior cidade da América Latina.

Tanto é que essa pesquisa da Perseu Abramo também aponta que os partidos de esquerda precisam ajustar seus discursos para se reconectar com seu eleitorado de base.

Ao longo da última década, esses partidos se afastaram das periferias e entregaram suas direções para lideranças que pouco ou não tem convívio popular ou, pior ainda, estão entregues a pequenos feudos que não guardam coerência com as bandeiras originais do partido.

Mas voltando a pesquisa, ela aponta que a negação da meritocracia, por exemplo, pode não refletir os desejos da classe trabalhadora e que por isso o estudo sugere a construção de narrativas que incorporem valores como individualidade e segurança, sem perder de vista a inclusão social.

A pesquisa concluiu que, apesar da desilusão com a política tradicional, os eleitores das periferias de São Paulo ainda acreditam em soluções democráticas e exigem maior transparência do poder público e participação nas decisões que afetam diretamente a vida do coletivo.

Por fim, o estudo aponta que para conquistar esse eleitorado, os partidos de centro-esquerda terão que se reinventar, tanto no conteúdo quanto na forma de comunicação política. Subestimar o eleitor ou depredá-lo moralmente pela sua escolha sem compreender as razões e o contexto político envolvido é apenas arrogância de quem está com o ‘bucho cheio‘ no ar-condicionado.

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Gabriel Barbosa

Jornalista cearense com pós-graduação em Comunicação e Marketing Político. Atualmente, é Diretor do Cafezinho. Teve passagens pelo Grupo de Comunicação 'O Povo', RedeTV! e BandNews FM do Ceará. Instagram: @_gabrielbrb

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ELY DE SOUZA

05/09/2024 - 10h45

É difícil lembrar que os senhores de feudos dos idos anos 1.000 d.C. que assumiam a proteção, direito de vida e morte de seus aldeões ? Claro que a exploração dos antigos Senhores hoje é assumida pelas classes dominantes, não é? Qual é a diferença ? A diferença é que hoje “falamos” em democracia nos países um tanto mais evoluídos, mas pense no continente africano … há esperança ? Se não houvesse o bolsa tantas coisas do governo progressista qual seria a etapa pós fila do osso se Jair boçalnaro tivesse vencido ? A bolsa farelo vem acompanhada, por bolsa escola, bolsa atleta, bolsa permanência escolar, aumento salarial.acima da inflação, renegociação de dívidas, e por aí vai … sem eliminar bolsa Paletó, bolsa.moradia, bolsa creche para filhos de.magistrados, bolsa verba indenizatória, bolsa filha de militar e tantas outras, vamos discutir isso também ???

Tiago Silva

05/09/2024 - 08h38

Concordo com essa parte da conclusão:

“Ao longo da última década, esses partidos se afastaram das periferias e entregaram suas direções para lideranças que pouco ou não tem convívio popular ou, pior ainda, estão entregues a pequenos feudos que não guardam coerência com as bandeiras originais do partido.”

Porém, é um adesismo que fez os partidos de esquerda terem descrédito e sem fundamentação/narrativa retórica ir defender algo (individualismo, “meritocracia”, “empreendedorismo raiz”, pejotização da subjetividade, etc) que em sua gênese é contrária à ideologia de esquerda (e configuraria outro “estelionato eleitoral” que a direita adora expor para descredibilizar a esquerda com os eleitores de esquerda)… assim discordo veementemente desta outra “conclusão”:

“Mas voltando a pesquisa, ela aponta que a negação da meritocracia, por exemplo, pode não refletir os desejos da classe trabalhadora e que por isso o estudo sugere a construção de narrativas que incorporem valores como individualidade e segurança, sem perder de vista a inclusão social.”

Ou seja, nessa última parte a esquerda aderindo a valores da direita… apenas está dando um tiro no próprio pé, assim quando partidos de centro-esquerda fizeram governos neoliberais e estão vendo hoje a perda da legitimação social que conseguiram com tanta falta de visão e compreensão do processo político de nossos tempos.

Kleiton

04/09/2024 - 20h14

Um desconhecido até poucas semanas atras e que hoje esta em primeira posiçào nas pesqusias com serissimas chances de ser eleito é sim um fenomeno.

bandoleiro

04/09/2024 - 20h00

SEm oferecer dinheiro do bolsa farelo e afins o Pt nao existe.


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