Parlamentares expressam preocupações com a possível concentração de poder no União Brasil, que pode controlar tanto a Câmara quanto o Senado; a decisão do STF sobre as emendas adiciona complexidade ao cenário.
A crescente inquietação entre parlamentares sobre a possibilidade de o União Brasil controlar simultaneamente a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal está alimentando tensões nos bastidores do Congresso Nacional. A possibilidade de um único partido comandar as duas casas legislativas está provocando resistência em diversas frentes, incluindo no Centrão e em outros partidos de peso, como PSD e União Brasil, que temem o impacto de uma concentração tão significativa de poder.
Arthur Lira, atual presidente da Câmara, tem cogitado a possibilidade de indicar Elmar Nascimento, do União Brasil, como seu sucessor. No Senado, Rodrigo Pacheco tem em Davi Alcolumbre, também do União Brasil, seu candidato favorito para sucedê-lo. Essa combinação tem gerado desconforto não só entre os adversários políticos, mas também dentro da própria base aliada, que vê a possibilidade de um único partido dominar as agendas das duas casas como um risco para a pluralidade e o equilíbrio de poder no Legislativo.
Parlamentares temem que, com o controle das duas casas, o União Brasil possa impor suas pautas e restringir a influência de outras legendas em decisões cruciais. A preocupação é que, ao concentrar tanto poder, o partido se torne uma força hegemônica, capaz de moldar a agenda legislativa do país de forma unilateral, o que poderia enfraquecer o papel do Congresso como um espaço de negociação e equilíbrio entre diferentes forças políticas.
Essa situação é agravada pelo fato de que o União Brasil já possui uma bancada expressiva em ambas as casas, o que lhe confere uma base sólida de apoio. Com isso, o risco de “hipertrofiar” o partido, como alguns parlamentares têm alertado, se torna uma realidade concreta. O medo de que o poder se concentre de maneira desproporcional está levando deputados e senadores a repensarem suas alianças e estratégias para as eleições que se aproximam.
A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, de congelar os repasses de emendas parlamentares, adiciona uma camada de complexidade ao cenário. Embora a medida tenha impactado a capacidade de Arthur Lira de negociar com seus aliados, o principal foco das preocupações continua sendo a possibilidade de o União Brasil consolidar seu domínio sobre o Congresso. Dino colocou um freio temporário na distribuição de recursos, mas não eliminou o risco percebido de uma concentração de poder.
Leia também: O páreo para a sucessão de Lira
A insatisfação com a perspectiva de um “superpartido” controlando as duas casas legislativas é tão significativa que forçou Arthur Lira a adiar a decisão sobre seu sucessor, inicialmente prevista para o final de agosto. Agora, com o cenário político em ebulição, a definição foi postergada para as próximas semanas, enquanto Lira busca maneiras de equilibrar as pressões internas e evitar um racha irreversível dentro de sua base.
À medida que as negociações se intensificam, o risco de uma crise maior no Congresso cresce. Parlamentares de diferentes partidos estão se mobilizando para impedir que o União Brasil acumule tanto poder, temendo as consequências de um Legislativo onde a diversidade de vozes e interesses seja substituída por um controle centralizado.