Pablo Marçal será eleito em SP? Uma análise honesta e sem paixões

REPRODUÇÃO

Posso estar sendo precipitado, mas são várias as razões que me fazem acreditar que Pablo Marçal será eleito prefeito de São Paulo. A primeira delas é técnica. O candidato sabe usar muito bem as ferramentas digitais e a linguagem adaptada para cada uma delas. A estratégia de topo de funil é o pilar da comunicação de sua candidatura.

Os cortes para as redes sociais se tornam ferramentas poderosas para quem quer expandir sua mensagem de forma simples e por vezes, pitoresca, pois o impacto se torna instantâneo e eficaz. Outro ponto importante para esse estrondo provocado pela candidatura de Marçal é o colapso completo da linguagem tradicional da política.

Atualmente, não basta o candidato prometer o básico como fazer mais praças, combater desigualdades, asfaltar ruas, pois são promessas que qualquer um pode fazer e que a cada eleição entram em descrédito.

Em uma cidade como São Paulo, que já experimentou de tudo um pouco (de Maluf a Erundina, de Kassab a Haddad), essa teoria se torna ainda mais factível, onde o eleitor paulistano se mostra cada vez mais receptivo ao discurso de “rebeldia” contra o sistema, contra os políticos etc.

Logicamente que isso é perigoso, mas ao mesmo tempo não serei arrogante de culpar o eleitor. De fato, nosso sistema político promete cada vez mais e entrega cada vez menos e são muitos os candidatos que escolhem essa estratégia de prometer mundos e fundos e não conseguir entregar quando chega no mandato.  

Pode parecer o caso de Marçal, mas não é. Em entrevista ao Roda Viva, o ex-coach falou abertamente que na sua gestão a prefeitura vai adotar uma política austera para chegar a uma suposta “eficiência” na máquina, que sua candidatura representa a “prosperidade”, que vai “mudar a mentalidade” para resolver a pobreza e que se encontra mais a direita que o próprio Bolsonaro. Sendo assim não podemos por ora acusa-lo de estelionato eleitoral, mesmo sabendo que essas propostas são vazias.

Em outros momentos, ele deixou claro que estava ali apenas para gerar cortes e não para se enquadrar as regras do programa, e em vários momentos desconcertou os jornalistas da bancada, em especial Vera Magalhães, que ao longo dos últimos anos contribuiu para esse movimento de deterioração da política.

Aliás, a grande mídia faz parte desse enredo e seus porta-vozes nutrem uma arrogância inexplicável, o que por si acaba deteriorando quase toda a classe jornalística.

Engana-se quem pensa que a candidatura de Marçal é apenas loucura e lacração, sua equipe é frequentemente abastecida com pesquisas quantitativas e qualitativas que servem para monitorar os desejos, as frustrações, a ação e reação do eleitor diante dos inúmeros problemas na cidade.

Essas pesquisas também monitoram a reação do eleitor sobre a postura de Marçal na campanha e nos famigerados debates, que a cada eleição perdem sua essência e acabam se tornando palco para produção de memes, cortes, intrigas, baixarias etc. Em resumo, o candidato tá falando o que o paulistano quer ouvir.

Desta forma, a candidatura de Marçal consegue se destacar diante de adversários que parecem não compreenderem (ou simplesmente ignoram) que a forma de fazer eleição muda a cada quatro anos e à medida que o apetite do eleitor por “novidade” aumenta pelo descrédito evidente dos chamados políticos tradicionais (da esquerda à direita) e seus estigmas.

Em uma eleição deteriorada como em São Paulo as propostas são as coisas que menos importam. Para o eleitor, essas propostas não valem de nada se quem está prometendo é um político tradicional, ou pior ainda, um candidato que resolveu passar a borracha em boa parte dos seus posicionamentos para se adequar a uma repaginada e vender a imagem insossa de “paz e amor”.

Na eleição de 2022 para o governo do Rio de Janeiro isso aconteceu e o resultado foi a vitória da direita no 1º turno. Esse é outro erro cometido com certa frequência pelos candidatos, pois subestimar o eleitor nunca foi e nunca será uma boa opção.

Gabriel Barbosa: Jornalista cearense com pós-graduação em Comunicação e Marketing Político. Atualmente, é Diretor do Cafezinho. Teve passagens pelo Grupo de Comunicação 'O Povo', RedeTV! e BandNews FM do Ceará. Instagram: @_gabrielbrb
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