A China concedeu um alívio aos produtores de conhaque franceses ao decidir não impor novas tarifas, apesar de uma série de disputas comerciais em escalada entre Pequim e a UE. Em janeiro, Pequim lançou uma investigação antidumping sobre o conhaque proveniente do bloco europeu, após Bruxelas anunciar que investigaria as importações de veículos elétricos chineses.
O ministério do comércio da China afirmou em uma decisão preliminar na quinta-feira que não imporia medidas antidumping provisórias, apesar de concluir que houve dumping. As ações da Pernod Ricard e da Rémy Cointreau subiram dois dígitos após o anúncio.
O ministério declarou que houve dumping que “representa uma ameaça substancial à indústria de conhaque doméstica, e existe uma relação causal entre o dumping e a ameaça de dano substancial”. No entanto, não explicou a decisão de não implementar medidas antidumping.
A UE e a China estão em desacordo sobre o comércio há meses, com Bruxelas impondo tarifas mais altas da UE sobre veículos elétricos fabricados na China, após concluir que Pequim estava subsidiando injustamente sua indústria automobilística. A UE também restringiu investimentos chineses.
Pequim, que anteriormente criticou a UE por aumentar o protecionismo e abusar das práticas comerciais, também lançou investigações antidumping sobre importações europeias de laticínios e carne suína, além de ter apresentado uma queixa sobre as tarifas da UE à Organização Mundial do Comércio.
Pequim afirmou que a investigação sobre o conhaque foi solicitada pela indústria doméstica da China. No entanto, a investigação — e a ameaça de tarifas no país de 1,4 bilhão de pessoas — foi vista como uma punição para a França, depois que executivos e autoridades francesas apoiaram as tarifas sobre veículos elétricos.
Conforme os laços comerciais de Pequim com o Ocidente se deterioram, alguns especialistas em comércio com a China alertaram o governo de Xi Jinping para não retaliar de maneiras que possam prejudicar ainda mais a economia chinesa em desaceleração.
Separadamente, na quinta-feira, a Pernod Ricard, que possui o conhaque Martell, relatou uma queda de 1% nas vendas anuais, ajustadas por variação cambial, devido aos mercados desafiadores dos EUA e da China.
A China se tornou o maior mercado para o Martell, o segundo maior produtor de conhaque do mundo, após décadas de investimento no país.
A Pernod manteve uma postura “prudente” em relação ao mercado chinês, apesar da decisão provisória do país de não impor tarifas antidumping, disse o CEO Alexandre Ricard a investidores na quinta-feira.
A empresa rejeitou as alegações de dumping, mas está cooperando com as autoridades chinesas, disse Ricard, observando que a investigação continuará até julho de 2025. “Eles ainda podem decidir impor tarifas até lá”, acrescentou, afirmando que a Pernod estava “decepcionada por enquanto”.
As ações da Pernod subiram 5% no dia, enquanto as da Rémy Cointreau tiveram alta de 7%.
Com informações do Financial Times