Infelizmente, a pobreza na Argentina pode ser observada em todos os lugares: nas ruas, nas casas, nos supermercados, nas fábricas, nas lojas, nos hospitais, nas escolas.
São muitos os números que corroboram esse ‘Mau Viver’ nesses oito meses de governo de Milei. E todos concordam na mesma coisa: a classe média quase não existe e a classe pobre é maioria.
Se analisarmos os dados do Inquérito Permanente aos Agregados Familiares do Primeiro Trimestre de 2024, quase poderíamos dizer que o rendimento médio é muito pouco representativo da realidade social. Com uma distribuição tão desigual, é muito mais rigoroso analisar o valor da mediana do que o da média. Porque? Porque quase não existem domicílios argentinos com rendimentos próximos da média, e porque a média não está no meio da distribuição, mas deslocada para a direita, como pode ser visto no gráfico 1. Há 68% abaixo desse ‘valor’ médio’ e 32% acima.
O mais pertinente então seria prestar atenção ao valor mediano: 50% dos domicílios argentinos têm renda mensal per capita inferior a 198 mil pesos.
Esta metade do país é pobre. Esta metade e um pouco mais: a pobreza na Argentina atinge 55% da sociedade.
Mas este número é insuficiente para medir a pobreza real, porque este tipo de medidas ignoram os agregados familiares que têm rendimentos muito próximos do limiar. Ou seja: se uma família tivesse 100 pesos a mais que o valor da cesta básica total (CBT), apenas 100 pesos a mais, não seria mais considerada pobre segundo os cálculos habituais. Porém, seria correto afirmar que uma família com renda per capita de 222.332 pesos mensais é pobre, mas uma família com renda per capita de 222.352 pesos mensais não o é?
A resposta deve exigir bom senso: não está correta.
Portanto, é politicamente essencial saber quantos agregados familiares estão imediatamente acima desse limiar; com mais alguns pesos, mas não muito mais.
Porque essas famílias são “quase pobres”: estão no limite, são vulneráveis e não pertencem de forma alguma à classe média.
No gráfico 2, observamos que existem 18,3% de agregados familiares ‘quase pobres’ que têm rendimentos na faixa de 1 a 1,5 CBT.
Em suma, se estamos realmente preocupados com a pobreza, deveríamos considerar a soma dos dois, os “pobres” mais os “quase pobres”. Ou seja: 73,3%.
Três quartos da sociedade argentina “vivem mal”, mas ainda estamos a falar de um país de classe média.
Se não assumirmos este diagnóstico, ou seja, que a Argentina vive hoje maioritariamente em condições de pobreza, continuaremos a insistir no erro de propor um projecto político, social e económico sem ancorar na realidade.
Isso seria o mesmo que querer conversar com um cotidiano que não existe. E por isso é impossível ser eficaz quando se trata de “Fazer Política”.
Com informações da Página12