Durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o jornalista Cleber Lourenço, conhecido por suas apurações, denúncias e furos ao governo bolsonarista, foi monitorado pelo Ministério da Defesa. Relatórios inéditos, obtidos pelo Núcleo via Lei de Acesso à Informação (LAI), revelam que o jornalista do O CAFEZINHO foi um dos alvos de uma vigilância estatal que catalogava postagens nas redes sociais, classificando-as como favoráveis ou negativas ao governo.
Esse monitoramento persistiu mesmo após o fim do governo Bolsonaro, com o ministro José Múcio Monteiro mantendo práticas similares na Defesa. Em abril de 2024, foi revelado que um fundo ligado ao Ministério da Justiça investiu R$ 42 milhões em um projeto para mapear a “manipulação do debate público” na internet, sem estabelecer um método claro para tal. Além disso, em novembro de 2023, a Secretaria de Comunicação (Secom) da presidência de Lula criou uma norma que exclui relatórios de redes das regras de acesso à informação, dificultando ainda mais a fiscalização de práticas de vigilância estatal.
Entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, a empresa terceirizada Supernova Serviços de Informação produziu mais de 200 informes diários para a Defesa, sob a supervisão da assessoria de comunicação chefiada pelo general Rodrigo Vergara.
Esses relatórios incluíam milhares de menções às Forças Armadas no Facebook e no Twitter/X, com cerca de 800 publicações de mais de 439 influenciadores destacadas. Cleber Lourenço estava entre os “perfis influentes” críticos ao governo que foram monitorados de perto.
Esses documentos mostram como a Defesa, sob a liderança de Vergara, apoiador das alegações de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas, utilizou recursos públicos para vigiar vozes.
Os informes eram enviados duas vezes ao dia à equipe do general, evidenciando um esforço concentrado para mapear e controlar o debate público na internet, especialmente aqueles que contestavam a legitimidade do governo.
A falta de transparência e de critérios claros sobre a legalidade desse tipo de monitoramento levanta sérias preocupações. O uso de serviços de comunicação com viés ideológico, que na prática serviram para suprimir críticas, mostra como a máquina estatal foi mobilizada para proteger o governo de Bolsonaro da opinião pública.