A China não possui a capacidade de forçar a Rússia a acabar com a Guerra na Ucrânia, como sugerido pelo presidente Volodymyr Zelensky. No entanto, a China está empenhada em obter a adoção da ONU para a proposta que apresentou em conjunto com o Brasil, com o objetivo de levar as partes conflitantes à mesa de negociações. Essa análise é do negociador chinês Li Hui, que esteve em Brasília na quarta-feira (31), conversando com representantes do governo brasileiro, incluindo o assessor especial Celso Amorim, o assessor Ibrahim Abdulhak Neto e o secretário do Itamaraty para Ásia e Pacífico, Eduardo Saboia. A declaração foi feita durante uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
China e Brasil enviaram uma carta à ONU solicitando que sua proposta seja debatida na Assembleia-Geral de setembro. Li afirmou que 110 países apoiam o documento. A China optou por buscar apoio de nações fora da zona de conflito, destacando o impacto global da guerra. “A segurança energética e alimentar da Ásia, África e América Latina foi gravemente afetada”, afirmou.
Recentemente, Zelensky declarou que “se a China quiser, ela pode forçar a Rússia a parar essa guerra” e expressou desejo de que Pequim pressione Moscou. Li respondeu que isso não é realista, pois a China não participa do conflito e a Rússia é um país soberano e independente, além de parceiro estratégico da China.
Li também refutou acusações de que a aliança entre Vladimir Putin e Xi Jinping torna a China um ator parcial na crise, enfatizando que busca uma solução objetiva e imparcial.
Durante suas conversas com os brasileiros, Li compartilhou sua percepção sobre o momento atual, que inclui uma rara convergência de discurso entre Kiev e Moscou sobre a possibilidade de discutir a paz, após a visita do chanceler ucraniano Dmitro Kuleba à China.
Kiev quer negociar com base em dez pontos definidos por Zelensky, sem fazer concessões aos russos, enquanto Putin exige neutralidade, desarmamento e a cessão de 20% do território ucraniano para interromper os combates.
Quando questionado sobre a posição da China, Li citou os princípios de Xi, como o respeito à soberania territorial e à Carta da ONU. Li também ressaltou a importância do comunicado conjunto China-Brasil, que pede a suspensão de ganhos territoriais com um cessar-fogo, mas não menciona a devolução das regiões anexadas por Putin. Li criticou discretamente Kiev por não convidar Moscou para a conferência de paz na Suíça, lembrando que a Rússia rejeita ultimatos.
A posição chinesa é vista por críticos como uma estratégia para ganhar tempo enquanto Putin avança lentamente. No entanto, relatos indicam progressos nas negociações, com a recente troca de reféns entre Rússia e Ocidente. Sobre as acusações ocidentais de apoio militar à Rússia, Li negou o fornecimento de armas letais e criticou a desinformação dos EUA. Ele destacou que “60% dos componentes de armas russas vêm do Ocidente” e ironizou as sanções contra empresas chinesas.
Li também mencionou o papel da China em reaproximar o Irã e a Arábia Saudita, além de facções palestinas, em meio ao conflito entre Israel e a Palestina. “A comunidade internacional considera que é preciso acumular condições para um cessar-fogo”, afirmou, apontando que “não há solução simples” e criticando a mentalidade de Guerra Fria.