Não é bem assim. Na noite desta sexta-feira (26), meios de comunicação brasileiros e internacionais informaram que o avião com os quatro ex-presidentes latino-americanos: Mireya Moscoso (Panamá); Vicente Fox (México); Jorge “Tuto” Quiroga e Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica), que seriam observadores das eleições no país, foi impedido de entrar na Venezuela.
A verdade é que esses políticos sequer saíram do Panamá. Embora haja um conflito de informações, a apuração realizada pela jornalista Mayara Paixão, na Folha de S. Paulo, registra que esses ex-mandatários não estavam credenciados como observadores internacionais e viriam ao país convidados pela pseudo-candidata Maria Corina Machado, que usa a figura de Edmundo González para burlar sua inabilitação no país.
A analista internacional Amanda Harumy estava exatamente neste voo e contou, com exclusividade à ComunicaSul o que de fato aconteceu. Primeiramente, diz, o voo atrasou cerca de 50 minutos. Em determinado momento, os ex-presidentes levantaram e começaram a fazer falas políticas em apoio à candidatura de Maria Corina Machado.
Confira o relato de Amanda Harumy no Instagram
“Vicente Fox foi o mais verborrágico, disse abertamente que dessas eleições na Venezuela depende o futuro da direita na América Latina”. A analista, formada em Relações Internacionais e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam), da USP, e com ampla experiência com acompanhamento e observação internacional, avalia que as falas foram ingerencistas.
“Na minha avaliação, eles estavam ali fazendo comício para a Maria Corina Machado. O avião estava cheio de venenezuelanos que vieram de Miami para votar e de jornalistas estadunidenses. Eles puxaram coro pedindo a saída de Maduro. Esse não é o papel de um ex-presidente que vai acompanhar o processo eleitoral em outro país”, argumenta.
Ela mencionou ainda que a ex-vice-presidenta da Colômbia durante o governo de Iván Duque — ferrenho opositor do chavismo —, Marta Lucía Ramírez, fez um discurso acalorado relacionando o presidente e candidato à reeleição Nicolás Maduro à guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
“Dentro do direito internacional, alguém com peso político, como ex-ministros, ex-presdente, não pode dizer quem deve ganhar ou não. Isso é intervenção internacional, não observação”, alertou.
Harumy pontuou ainda que uma mulher anunciou estar com o presidente do Panamá, José Raúl Murillo, que teria pedido aos políticos latino-americanos que descessem do avião porque o governo de Maduro não teria admitido a entrada deles no país. “Depois vi isso na mídia. Mas é muito estranho… por que eles foram ‘barrados’ antes e não na imigração, como seria de praxe?”.
Ainda de acordo com a reportagem de Paixão, foi a torre de controle de Barranquilla, na Colômbia que avisou a proibição de ingresso do voo em espaço aéreo venezuelano. Porém, “nenhum aviso oficial de Caracas havia sido feito ao Panamá” e a autoridade aérea venezuelana negou ter imposto qualquer restrição.
Para Amanda, “trata-se de mais um episódio da campanha internacional para tentar desmoralizar as eleições na Venezuela, porque ninguém foi impedido de entrar. Eu entrei, estava naquele voo e estou em Caracas!”.