Muito se fala no legado olímpico, mas o legado de atletas negras nos jogos me comove muito mais.
Começam hoje as Olimpíadas de 2024 em Paris. A cada quatro anos, atletas de excelência se dedicam a alcançar o ápice de suas habilidades, e além de simbolizar superação e inspiração, as Olimpíadas também são marcadas pela cooperação internacional. Essa é uma das maiores funções simbólicas dos Jogos – que, há cem anos, e na mesma cidade, deixou como imenso legado o emprego dos cinco aneis interligados, representando a união dos continentes.
O legado olímpico é o impacto que os Jogos deixam também para a cidade anfitriã, e pode catalisar investimentos em projetos de longo prazo, promovendo o esporte, a inclusão e o bem-estar da comunidade local.
Um estudo divulgado pela FGV esta semana revelou que a Olimpíada de 2016 gerou um impacto significativo no Rio de Janeiro, contribuindo para uma receita de R$100 bilhões, e sendo um importante indutor da atividade econômica na nossa cidade.
As Olimpíadas do Rio foram as primeiras realizadas na América do Sul, demonstraram a paixão do brasileiro pelo esporte, e o nosso Rio brilhou muito como cenário deslumbrante das competições.
A delegação Brasileira que está indo para Paris em 2024, pela primeira vez na história, conta com um número maior de mulheres do que de homens: dos 276 atletas competindo nas 39 modalidades de que vamos participar, 123 são homens (45%) e 153 são mulheres (55%). Estamos acima da média do próprio evento, o que é sensacional.
Em 1896, nas primeiras Olimpíadas, em Atenas, na Grécia, todos os participantes eram homens. Em 1936, em Berlim, 92% dos participantes eram homens, e apenas 8% mulheres – mas aqui não posso deixar de mencionar a excelência de um homem negro estadunidense, tão imensa quanto sua coragem e determinação: Jesse Owens é um dos atletas mais icônicos e influentes da história, que desafiou e venceu as expectativas violentas da eugenia e da falsa superioridade ariana ao conquistar quatro medalhas de ouro nos Jogos sediados pelo regime nazista.
Em 1948, após uma espera de 12 anos desde a última edição, os Jogos Olímpicos retornaram, simbolizando a reconstrução do pós-Segunda Guerra Mundial. Londres foi o palco, e o Brasil enviou uma delegação de 81 atletas, incluindo 11 mulheres.
Entre elas, estava Melânia Luz, uma corredora que entrou para a história aos 20 anos como a primeira mulher negra a representar o Brasil em uma Olimpíada. Aqui no Rio, em 2016, 55% dos atletas eram homens e 45% mulheres.
Mas, nos Jogos de 2024 em Paris, a tão batalhada paridade de gênero chegou, e 50% dos atletas são homens, e 50% são mulheres. Seguem agora as lutas pela inclusão das pessoas trans, intersexuais e não binárias.
Quero aproveitar para saudar também a admiração recíproca entre duas atletas olímpicas negras, uma brasileira e a outra dos Estados Unidos: Rebeca Andrade e Simone Biles.
Simone Biles é, objetivamente, a melhor ginasta de todos os tempos. Nascida em 1997, ganhou destaque por sua habilidade excepcional e capacidade de executar movimentos complexos com precisão e graça.
Biles acumula troféus e medalhas em competições internacionais, incluindo quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 – o que, na época, ajudou a popularizar a expressão #blackgirlmagic, quem lembra? Além de suas conquistas, Simone nos inspira como um exemplo de força e coragem.
A ginasta brasileira Rebeca Andrade, grande parceira de Biles nos pódios, sempre me emociona. Nascida em 1999, ela é reconhecida por realizar rotinas de alto nível, tanto no solo quanto nos aparelhos de salto, barras assimétricas e trave de equilíbrio.
Ela conquistou a medalha de prata no salto nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, o que faz dela a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha olímpica na ginástica artística feminina. A gata é tão mágica que Biles – que famosamente não competiu em Tóquio para cuidar da saúde mental – aparecia nas arquibancadas durante os treinos e competições vibrando com suas performances.
Muito se fala no legado olímpico, mas o legado de atletas negras nos jogos me comove muito mais. Vamos com tudo, Delegação Brasileira! Estou na torcida para que vocês mostrem que até em Paris é tudo nosso e nada deles!
*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. Especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela UFRJ, foi Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, onde também é vereadora.
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