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Lideranças progressistas analisam desafios da esquerda brasileira após atentado em comício de Trump nos EUA

Políticos e socióloga explicam como cenário internacional impacta conjuntura no Brasil e apontam caminhos O atentado contra o comício de Donald Trump nos Estados Unidos, ocorrido no último sábado (13), tem gerado ecos também na política brasileira. Das manifestações de repúdio por parte de diferentes autoridades nacionais até a avalanche de fake news que fabricam […]

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Rebecca Droke/AFP

Políticos e socióloga explicam como cenário internacional impacta conjuntura no Brasil e apontam caminhos

O atentado contra o comício de Donald Trump nos Estados Unidos, ocorrido no último sábado (13), tem gerado ecos também na política brasileira. Das manifestações de repúdio por parte de diferentes autoridades nacionais até a avalanche de fake news que fabricam narrativas a favor das forças de extrema direita, lideranças de esquerda ouvidas pelo Brasil de Fato avaliam que o cenário exige atenção, cautela e foco em projetos mais orientados ao ideário progressista.

Para o secretário de Mídias da executiva nacional do PCdoB, Altamiro Borges, diante do risco de eventual crescimento de Trump no cenário pré-eleitoral estadunidense, caberia ao campo esquerdista brasileiro se concentrar nas necessidades que vêm sendo manifestadas pela população brasileira nos últimos tempos. “Trump hoje é um inspirador, uma alavanca da extrema direita internacional, de Milei a Elon Musk. Uma eventual vitória dele teria impacto. Mostraria o cenário de ascenso da extrema direita mundial. Disso surge a necessidade de se unir forças hoje dentro da esquerda e de se ter projetos nítidos porque muito desse crescimento da extrema direita também tem a ver com decepções [do eleitorado] em relação ao campo mais progressista, que não consegue cumprir seu programa. Isso cria novos desafios para as forças de esquerda no mundo e no Brasil”.

Cenário

Borges ressalta a importância de se analisar clinicamente o contexto que atualmente gera a emergência e a efervescência da extrema direita no mundo. “Já sabemos que não é algo fortuito e localizado. Se é mundial, ele tem causas, e não apenas uma causa. Eu destacaria três. Uma delas é a própria crise do capitalismo, que gera uma perda de perspectiva, principalmente entre a juventude, gera frustração, e isso serve de base pra extrema direita. Foi assim no fascismo e no nazismo dos anos 1930 e é assim hoje. A extrema direita pega as pessoas pela emoção em função dessa frustração e ela apresenta respostas simplistas, mentirosas, falsas, mas que pegam, que atraem gente”, cita.

“E as instituições estão em crise – o Executivo, o Legislativo, o Judiciário –, não só os aparatos do Estado, mas também as instituições da sociedade. Veja que os partidos, os sindicatos, o jornalismo, está tudo em crise porque não se apresentam alternativas. Um terceiro fator a ser observado é que a força da extrema direita não está consolidada. Ela também perde. Veja que o Trump é um dos poucos presidentes dos EUA que não se reelegeram, assim como Bolsonaro aqui no Brasil. Então, eles não têm tanta consistência assim. O problema é que o campo progressista também não está com muita consistência porque ele não consegue gerar expectativas na sociedade”, observa o dirigente do PCdoB.

Tática

Borges considera de grande importância que haja, por parte da esquerda, uma busca permanente por respostas políticas mais satisfatórias à população diante da atual crise do sistema. O dirigente partidário vê esse elemento como fator de peso para evitar que o segmento se torne presa fácil das táticas adotadas pela extrema direita, que costumeiramente utiliza armadilhas retóricas e disseminação de fake news para encurralar alvos políticos.

“Está faltando nitidez de projeto. Sabemos que a atual correlação de forças é uma condicionante. Quem está dentro do poder tem que levar isso em conta, mas para alterar isso, e não pra aceitar o que está colocado. Na minha opinião, esse cenário exige mais nitidez de projeto e mais politização da sociedade. É apostar mais na mobilização social, no trabalho pedagógico de alertar a sociedade para o que se está vivendo.”

Disseminação de fake news pelas redes sociais virou fenômeno de massa e desafio para campo democrático em diferentes pontos do mundo | Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

Ao defender uma atuação mais incisiva da esquerda, ele cita como referência a pesquisa Quaest divulgada dias atrás, segundo a qual 66% da população brasileira estão de acordo com as críticas do presidente Lula (PT) à política de juros adotada por Roberto Campos Neto no Banco Central. “É um levantamento interessante porque mostra que, quando o Lula comprou briga e foi para o confronto na questão do juros, a sociedade entendeu e o apoiou. Claro que isso é fácil de falar e difícil de fazer, mas é preciso mais nitidez de projeto por parte da esquerda e mais debate de ideias na sociedade, mais disputa de hegemonia. A batalha de narrativas – pra usar uma expressão da moda – hoje é uma questão decisiva”, analisa Borges, que também é jornalista e um dos coordenadores do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé.

Ponderações

Após o episódio envolvendo o comício de Trump no sábado, choveram no Brasil conteúdos falsos tentando associar a agressão à esquerda estadunidense. A correlação foi feita também em fake news que buscaram ligar o atentado no país americano à facada dada em Jair Bolsonaro em 2018, quando o então membro do PSL era candidato a presidente da República. Conteúdos falsos de outras ordens também inundaram grupos e perfis digitais após o ocorrido. Para o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), político atuante na pauta internacional e atual vice-presidente da representação brasileira no Parlamento do Mercosul, o cenário inspira cuidados.

“Se a gente entrar nesse debate de maneira descuidada só porque eles estão nos atacando ou nos atribuindo [culpa], não dá certo. Eu não lido com mídia social, por exemplo, mas acho que o óbvio também precisa ser dito. Eles estão mentindo, como o próprio Trump é um mentiroso compulsivo, como o Bolsonaro e a extrema direita em geral também são. Eles fazem do ressentimento, da vitimização um instrumento de disputa politica, e fazem tudo isso falando em ‘Deus, pátria e família’. Acho, então, que o nosso desafio, entre outras coisas, é tentar identificar como é possível que alguém com o que pensa o Bolsonaro, com o que fala o Bolsonaro, com o que faz o Bolsonaro tenha tamanha inserção na população brasileira.”

Slogan “Deus, pátria, família” virou mantra na boca de manifestantes de extrema direita no Brasil | Midia NINJA

Para Chinaglia, o episódio envolvendo Trump precisa ser lido pela esquerda como algo que não diz respeito diretamente ao Brasil, embora exija do segmento uma estratégia para se lidar com o assunto. “Diz respeito muito mais à extrema direita do que a nós porque tanto a facada contra o Bolsonaro – que nós lamentamos, claro – como os tiros agora em cima do Trump reforçam o alerta que o tempo todo nós fazemos: não é adequado você distribuir armas da maneira como ocorre nos EUA e como eles começaram a fazer aqui. Essa politica armamentista pro povo é o que vitimou tanto o Bolsonaro quanto o Trump. Acho que esse é um caminho muito mais sólido pra que a gente aproveite o que tiver de útil nesse debate. Isso é fundamental porque isso ninguém contabiliza no colo de quem merece estar, que é da extrema direita e dos seus aliados”.

Dianteira

A socióloga e ex-psolista Sabrina Fernandes, autora do livro “Sintomas Mórbidos – a encruzilhada da esquerda brasileira”, publicado em 2019, visualiza as redes sociais como trincheira fundamental das disputas em questão no atual cenário do Brasil. A profissional é criadora do canal “Tese Onze”, que funcionou no Youtube até julho do ano passado, com conteúdos de formação política à esquerda.

Considerando o caráter ainda árido desse terreno para quem decide atuar utilizando bandeiras progressistas, a socióloga entende que a esquerda precisaria se antecipar às armadilhas constantemente elaboradas pela extrema direita no pantanoso solo da internet. “Além de produzir narrativas verdadeiras, elas precisam ser amplamente difundidas e acreditadas pela população, por isso não basta esperar o surgimento de uma fake news para combatê-las. É preciso preparar o público com formação política e científica de qualidade para que, ao receber um conteúdo falso, uma pessoa possa questionar por si mesma a origem e a veracidade daquilo e, assim, decidir não engajar e não propagar isso”, defende.

Canal Tese Onze, de Sabrina Fernandes, operou entre junho de 2017 e julho de 2023 | Youtube/Reprodução

Ela assinala que o alerta posterior sobre conteúdos falsos não tem o mesmo efeito. “A checagem dos fatos, embora extremamente necessária, ocorre geralmente depois que o estrago está feito e não consegue alcançar aqueles que aderiram à notícia falsa simplesmente porque aquele conteúdo lhes traz um viés de confirmação para aquilo em que eles já acreditavam ou queriam acreditar.” Nesse sentido, a socióloga entende que falta uma maior qualificação do debate feito pela esquerda em torno das agendas que essa ala ideológica costuma evocar.

“Não somente precisa se qualificar nos temas, mas construir conteúdo qualificado dentro de uma estratégia de se adiantar à direita no debate. A esquerda ainda sofre muito do mal de ser pautada em vez de pautar. Um bom exemplo disso está no tema do aborto e direitos reprodutivos. Embora uma esquerda feminista esteja presente de forma permanente na luta por esses direitos, na maioria das vezes, quando o tema se torna debate nacional, é porque a direita fez mais barulho, geralmente com alguma proposta absurda, como o caso recente [de tentativa] da proibição total do aborto, gerando uma reação na esquerda”, exemplifica.

A socióloga pontua que esse enfrentamento exige uma postura de coragem histórica por parte de lideranças e grupos do campo esquerdista. “Os temas que geram pânico moral e que são muito valiosos para a extrema direita são geralmente temas que a esquerda ainda debate com receio ou mesmo recuo. A consequência disso é uma hegemonia de absurdos da extrema direita que possuem muito lastro, são vistos como críveis pela população, porque são repetidos sempre. Se nossos contrapontos são apenas contrapontos, ou seja, não são as narrativas líderes, e se surgem apenas como reação, nós já entramos no jogo da politização e do desmonte de fake news perdendo e desfalcados”.

Publicado originalmente pelo Brasil de Fato em 18/07/2024 – 13h07

Por Cristiane Sampaio – Brasília (DF)

Edição: Nathallia Fonseca

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Comentários

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Natalia

20/07/2024 - 09h13

Para o secretário de Mídias da executiva nacional do PCdoB, Altamiro Borges….kkkkkkkkk

Tony

20/07/2024 - 07h08

O atentado contra o comício…parei de ler aqui por motivos óbvios.


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