Na última quarta-feira (17), Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, prestou depoimento à Polícia Federal que se estendeu por quase sete horas. Segundo fontes ligadas à investigação que acompanharam o testemunho, ficou claro que para os acusados e investigados no caso da Abin paralela, tornou-se extremamente difícil negar a existência de uma estrutura clandestina de investigação.
Durante seu depoimento, Ramagem atribuiu a responsabilidade pela criação e operação desse aparato clandestino a antigos subordinados. Ele afirmou que não tinha conhecimento de tais atividades à época de sua gestão, mas admitiu que atualmente não nega a possibilidade de que tal estrutura tenha existido. Essa mudança de postura ocorreu apesar de gravações que mostram Ramagem em reuniões onde o tema era discutido.
O ex-diretor buscou isentar-se de qualquer responsabilidade direta, atribuindo a criação da Abin paralela a outras pessoas dentro da agência. No entanto, o material apresentado durante o depoimento sugere que Ramagem estava, no mínimo, ciente das discussões em torno dessa estrutura.
A Polícia Federal também apura um encontro extraoficial entre Ramagem e o atual diretor da Abin, o delegado federal Luiz Fernando Corrêa. A reunião, que teria ocorrido dentro da Abin em junho do ano passado, foi um dos assuntos tratados no depoimento. Ramagem alegou que a reunião foi apenas um cumprimento formal, mas os investigadores parecem acreditar que esse encontro pode ter um significado maior.
Não por menos, na semana passada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o ministro Alexandre de Moraes demonstraram desconfiança em relação à agência. Moraes negou o compartilhamento da investigação da Polícia Federal com a corregedoria da agência para a abertura de sindicâncias internas e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que compartilhar as informações “não parece recomendável neste momento processual”.
A gravidade das acusações e as revelações feitas no depoimento de Ramagem colocam em xeque a integridade da agência de inteligência do Brasil. A possível existência de uma estrutura clandestina de investigação levanta questões sérias sobre a transparência e a responsabilidade dentro da Abin. Com o desenrolar das investigações, mais detalhes deverão emergir, potencialmente implicando outros membros da agência e aprofundando a crise de confiança nas instituições de segurança e inteligência do país.
Há meses, falasse nos bastidores que as relações entre o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, não são as melhores, algo relatado por esta coluna ainda no final do ano passado.
Em meio a essas revelações, a Polícia Federal continua a investigar o caso, buscando esclarecer a extensão da rede paralela de inteligência e as implicações de seu funcionamento. O depoimento de Ramagem marca um ponto crucial na investigação, sugerindo que a Abin paralela não é mais apenas uma suspeita, mas uma realidade inegável, cuja origem e operações ainda precisam ser completamente desvendadas.