Grampo do Ramagem: a participação de Augusto Heleno na reunião gravada

General Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República — Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Com a queda do sigilo determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, documentos da Polícia Federal trouxeram à tona detalhes de uma reunião entre Jair Bolsonaro e outras autoridades. A pauta foi a estratégia para enfrentar as investigações que envolvem o ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro.

O Contexto da Investigação

O inquérito, instaurado em março de 2023, visa apurar possíveis crimes, como invasão de dispositivo informático, interceptação telefônica sem autorização judicial, contratação ilegal, lavagem de capitais e corrupção passiva. Essas investigações começaram em 2018, após a identificação de movimentações financeiras atípicas nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, preso em junho de 2020 na Operação Anjo.

A Reunião de 25 de Agosto de 2020

Realizada no Palácio do Planalto, a reunião contou com a participação de Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, advogadas de Flávio Bolsonaro, Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Jair Bolsonaro e Augusto Heleno. O principal objetivo foi discutir a investigação das “rachadinhas”, na qual Flávio Bolsonaro é acusado de desviar parte dos salários de seus funcionários na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ).

Principais Pontos da Reunião

  1. Discussões Estratégicas:
    • Jair Bolsonaro: Mostrou preocupação com as investigações e discutiu estratégias para influenciar a opinião pública e os processos legais. Bolsonaro questionou a legalidade das investigações e mencionou a possibilidade de utilizar serviços secretos estrangeiros para obter informações.
    • Augusto Heleno: Participou das discussões, mencionando a existência de métodos para acessar sistemas de forma indetectável. Expressou preocupação com a transparência e legalidade das investigações.
  2. Utilização de Recursos da ABIN:
    • Foi discutida a utilização de recursos da ABIN para produzir provas favoráveis a Flávio Bolsonaro. Foram mencionadas tentativas de investigar auditores da Receita Federal ligados ao Relatório de Inteligência Financeira que deu origem à investigação.
  3. Tentativas de Influenciar o Processo Judicial:
    • As transcrições das conversas mostram discussões sobre anular procedimentos legais, alegando que muitos eram conduzidos de forma ilegal. A defesa de Flávio Bolsonaro explorou formas de minar a credibilidade das investigações, incluindo a manipulação de documentos e informações.
  4. Preocupações com Perseguição Política:
    • Jair Bolsonaro e os participantes discutiram a possibilidade de perseguição política, sugerindo que as investigações tinham motivação política. Houve menção à proteção de aliados dentro do governo e de instituições como a Receita Federal e o Ministério Público.

Implicações e Repercussões

As revelações contidas no relatório da Polícia Federal indicam uma tentativa coordenada de interferência nas investigações e manipulação de processos judiciais para proteger Flávio Bolsonaro. As conversas transcritas sugerem que figuras de alto escalão do governo usaram recursos públicos e estratégicos para defender interesses pessoais e familiares.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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