Thomas Fazi: A fratura da psique americana

Após a tentativa de assassinato de Trump, muitos de seus apoiadores foram às mídias sociais para sugerir que essa não foi a ação de um “louco solitário”, mas uma operação orquestrada pelo “estado profundo” americano. Eles apontaram histórias de pessoas relatando a presença do atirador no telhado, mas sendo ignoradas pela polícia, ou questionando por que a polícia esperou o atirador atirar antes de matá-lo. Isso era previsível, e nos dias e semanas seguintes podemos esperar que essas teorias se espalhem rapidamente.

Mais surpreendentemente, logo após o tiroteio, a palavra “Encenado” também começou a virar tendência nos EUA — uma referência à crença, aparentemente disseminada nos setores mais radicais do Partido Democrata/anti-Trump, de que tudo pode ter sido encenado pelo próprio Trump para aumentar sua popularidade.

Isso pode soar perturbador, mas não deveria nos surpreender. Este é o fruto envenenado da oligarquização completa dos países ocidentais, especialmente os EUA. A maioria das pessoas tem uma compreensão racional ou subconsciente de que as eleições são uma farsa e que há forças invisíveis realmente puxando as cordas nos bastidores — forças que não vão parar por nada para conseguir o que querem, incluindo assassinato; elas apenas discordam sobre quem ou o que são essas forças.

A pior parte é que eles estão absolutamente corretos: obviamente há forças nefastas — seja o estado de segurança nacional, agências de inteligência, o complexo militar-industrial, Wall Street, etc. — puxando as cordas nos bastidores. Assim como muito do que acontece “no palco” — a realidade apresentada pela mídia de massa — é obviamente falso.

A consequência inevitável disso é a fratura da psique coletiva que estamos testemunhando agora mesmo na América. Quando você não é mais capaz de distinguir a realidade da ficção — podemos realmente culpar as pessoas por pensarem que a já icônica imagem do punho cerrado de Trump parece algo saído de um filme de Hollywood? — e quando as incongruências entre a realidade em que lhe dizem que você vive e sua percepção racional ou instintiva da realidade (democracia/oligarquia) se tornam muito chocantes, a esquizofrenia em massa é o resultado inevitável.

Independentemente de quem vencer as eleições em novembro, é difícil ver como os Estados Unidos podem se recuperar disso.

Thomas Fazi é jornalista, escritor, tradutor e socialista. Ele passa a maior parte do seu tempo em Roma, Itália. Entre suas realizações destacam-se a codireção do documentário premiado Standing Army (2010), que aborda as bases militares dos EUA e conta com participações de Gore Vidal e Noam Chomsky. Fazi é também autor de diversas obras importantes, incluindo The Battle for Europe: How an Elite Hijacked a Continent – ​​and How We Can Take It Back (Pluto Press, 2014), Reclaiming the State: A Progressive Vision of Sovereignty for a Post-Neoliberal World (coautoria com Bill Mitchell; Pluto Press, 2017) e The Covid Consensus: The Global Assault on Democracy and the Poor—A Critique from the Left (coautoria com Toby Green; 2023).