The Guardian: Agência de espionagem do Brasil é acusada de perseguir inimigos de Bolsonaro

O jornal britânico The Guardian fez uma matéria sobre os presos na investigação das alegações de que a Abin monitorou e assediou importantes figuras públicas e políticas. / Foto: Pablo Porciúncula/AFP/Getty Images

A agência de inteligência do Brasil foi utilizada ilegalmente durante o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro para monitorar e assediar alguns dos políticos, jornalistas, juízes e autoridades ambientais mais importantes do país, alegaram a polícia federal.

Cinco pessoas foram presas na quinta-feira como parte de uma longa investigação sobre suspeitas de que durante o governo de Bolsonaro de 2019-22 a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi usada para espionar os adversários políticos do presidente.

De acordo com um documento policial de 187 páginas, os alvos incluíam algumas das figuras públicas e políticos mais conhecidos do Brasil, abrangendo todo o espectro político.

Os alvos supostamente incluíam: o chefe da Câmara dos Deputados do Brasil, Arthur Lira, e seu antecessor, Rodrigo Maia; aliados proeminentes do atual presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo o senador Randolfe Rodrigues; figuras conservadoras, como o ex-governador do estado de São Paulo, João Doria; quatro juízes da Suprema Corte; duas jornalistas políticas de destaque, Vera Magalhães e Mônica Bergamo; e dois altos funcionários da agência de proteção ambiental, Ibama, Hugo Loss e Roberto Cabral.

A polícia federal alegou que, sob a supervisão do chefe de espionagem de Bolsonaro, Alexandre Ramagem, uma “organização criminosa de alta capacidade ofensiva” foi estabelecida dentro da Abin.

Essa agência de inteligência “paralela” supostamente usou uma série de técnicas clandestinas para coletar informações sobre pessoas ou grupos considerados adversários ou irritantes. Os frutos desse trabalho ilegal foram supostamente transformados em desinformação online destinada a prejudicar a reputação dos alvos da organização e das instituições democráticas do Brasil. Membros da unidade secreta também são acusados de alvejar funcionários da Receita Federal que investigavam suspeitas de corrupção envolvendo o filho senador do presidente Bolsonaro, Flávio Bolsonaro.

Uma captura de tela de uma mensagem do WhatsApp de 2020 enviada por um suspeito preso mostra o suposto chefe do grupo secreto dizendo a um colega: “Precisamos encontrar sujeira” [sobre um alvo].

Outra mensagem, de 2022, mostra um policial enviando a um suposto membro do grupo informações sobre três funcionários de proteção ambiental considerados “problemáticos para o governo”.

Em uma terceira troca ainda mais chocante, o suspeito e um oficial militar insultam o juiz da Suprema Corte Alexandre de Moraes, que foi creditado por ajudar a impedir uma campanha de direita para derrubar o sistema democrático do Brasil, culminando nos ataques de janeiro de 2023 em Brasília.

“Isto está ficando fodido. Este careca está pedindo algo a mais”, escreve um deles. “Apenas 7,62”, responde o outro – uma aparente referência ao rifle de 7,62 mm usado pelas forças armadas do Brasil. A primeira pessoa responde em inglês: “Head shot” (tiro na cabeça).

Os mencionados pela polícia como alvos reagiram com raiva e choque.

Rodrigo Maia condenou o que chamou de “o comportamento de um governo totalitário e criminoso, típico das piores ditaduras”.

Randolfe Rodrigues, que foi vice-presidente de uma comissão parlamentar de inquérito sobre a altamente controversa gestão do surto de Covid pelo governo Bolsonaro, que causou mais de 700.000 mortes, chamou as revelações de “trágicas”.

“Enquanto os brasileiros morriam, o governo anterior – em vez de usar seu tempo para comprar vacinas – usou seu tempo para perseguir e monitorar os adversários políticos do regime”, disse ele a repórteres.

Outro alvo, o senador Renan Calheiros, lamentou a “captura criminosa” da agência de inteligência e o uso de “métodos da Gestapo”.

Flávio Bolsonaro negou qualquer conhecimento do esquema alegado. “Simplesmente não tive nenhuma relação com a Abin”, ele tuitou, alegando que as acusações eram uma tentativa de prejudicar a campanha apoiada por Bolsonaro do ex-chefe de espionagem Ramagem para se tornar o próximo prefeito do Rio. Ramagem ainda não comentou as alegações da polícia na quinta-feira, mas anteriormente negou ser responsável por um esquema de espionagem ilegal durante seu tempo na Abin.

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